BYE BYE PARNASIA

 

Vitor de Athayde Couto

 

– Naquela época… – assim estava escrito.

 

– De novo, Mani?! – perguntou Anaïs, já impaciente, e acrescentou: quando não se sabe a data precisa de um fato histórico, costuma-se escrever naquela época… O que não quer dizer nada. Conheço historiadores péssimos contadores de histórias. A única coisa que eles contam bem são estas três primeiras palavrinhas: era uma vez…

 

– Era uma vez…? ops! fica melhor mesmo – disse Mani. Então… pouca gente sabia do leitmotiv – que os antigos parnasianos traduziam como o motivo do leite haha. O motivo condutor da expulsão dos falocratas era o elevado nível de sonegação de impostos que eles praticavam no comércio da Falocracia. Faziam isso com uma perfeição invejável. Povo inteligente, os falocratas canalizavam toda a sua energia para a sonegação fiscal sistemática e estrutural. O enriquecimento ilícito desses “respeitáveis negociantes” produziu uma das sociedades mais desiguais do planeta. Se tanta esperteza fosse orientada para investimentos em educação que dá emprego, e saúde, Parnasia seria como a Manitoba canadense, de onde os jovens não precisam ir embora. Ao contrário, o Canada atrai e acolhe jovens de todos os países do mundo.

 

– O Canadá é comunista? – perguntou Anaïs.

 

– Menas – disse Mani – Exímios sonegadores, os primeiros imigrantes trazem para Parnasia a mesma técnica falocrata de sonegação fiscal – que prossegue sendo aperfeiçoada. Se qualquer cidadão questionar esse costume sagrado e secular, pode ficar certo, vai arranjar inimizades. Quer arrumar briga? É só pedir uma nota fiscal no comércio parnasiano. Você vai ver a confusão que dá.

 

São vários os procedimentos adotados pelos comerciantes sonegadores, que se dizem ser gente de família de bem, frequentam péssimas igrejas e excelentes motéis. Para escamotear o fisco, eles contam com a cumplicidade das gráficas locais. As gráficas imprimem e vendem os seguintes modelos de notas: nota de depósito, pedido, orçamento, nota de entrega, nota de conferência, nota de venda, estoque, nota de controle, fatura, nota auxiliar, etc., mas nenhuma serve para efeitos fiscais ou processuais.

 

Cômicas, se não fossem trágicas, são as respostas prontas dos empregados precários (colaboradores, em parnasianês). Eles vivem assustados e temerosos das ordens do patrão que arrota ameaças de demissão 24 horas por dia. E ainda completam: “se reclamar na justiça, nunca mais vai ter emprego, em lugar nenhum da Parnasia.”

 

– O senhor pediu o quê? Nota fiscal? – perguntou o frentista.

 

– Sim, por favor – respondeu o cliente.

 

– Ah, isso é só com o gerente.

 

– Pois chame ele aí.

 

– Ele não está. Deu uma saidinha.

 

Assim agindo, eles praticam a arte de fazer o cliente desistir. Outra situação tragicômica é quando o colaborador responde:

 

– No momento estamos sem bloco de nota fiscal.

 

Mas isso não é nada. Existe uma manha mais moderna, pode-se dizer, pós-moderna, da era da informática. O colaborador nem olha pra sua cara e diz:

 

– Nota fiscal? Eu não vou ter. O sistema caiu, está fora do ar – ou, então: acabou o papel da impressora, a tinta, qualquer coisa.

 

E assim a vida segue até o limite da invencionice esperta (empreendedorismo em parnasianês). Daí você só pensa, e, pra quem pensa que acabou por aí… Um grupo de comerciantes, reunidos na sua associação recreativa, decidiu criar uma nota ainda mais sofisticada, sob a denominação de compliance briefing. É uma nota só, mas parece que são muitas porque cada um pronuncia do jeito que sabe. Ou nem sabe. Em Parnasia, nota fiscal só dá confusão.

 

Enquanto isso os empresários de verdade têm seus negócios congelados porque o congresso parnasiano não consegue definir as regras do mercado. Sucessivos adiamentos de uma suposta reforma tributária já causaram um grande impacto positivo em favor do crescimento do PIB e do emprego… em outros países. Bye bye Parnasia.

 

A fuga de capitais anda de braços dados com uma dama, muito respeitosa, que agora se apresenta às novas gerações: “Muito prazer, meu nome é Inflação.”

 

(próxima crônica: “Os empresários”)

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: