GALERÃO VAI FAZER UMA PÓS GERIÁTRICA PARA SE APOSENTAR COM UM SALÁRIO MAIS ELEVADO

 

Vitor de Athayde Couto

 

Já pensando na pós, Galerão inventa de escrever um artigo… artigo… com licença da palavra… artigo científico haha. Depois ele aproveita tudo para o seu projeto. Assim, facim-facim, pois ele sabe que na academia nada se cria, tudo se copia, enquanto nada se transforma… para melhor.

Diante dos snookers atentos, Galerão continua apresentando sua hipótese (tiuría, em parnasianês), hipótese de que o inglês é uma língua muito estranha:

– Essas batatas fritas, que os gringos chamam french fries, têm origem belga, e não têm nada a ver com a França. Pelo contrário, quando os franceses querem gozar com a cara dos belgas, chamam esses flamenguistas (no bom sentido) de comedores de batatas fritas, porque eles vivem comendo essas frituras com mexilhões cozidos. Em resposta, os belgas dizem que os franceses só pensam em metrô-bulô-dodô, ou seja, andar de metrô (metro), trabalhar (boulot, corruptela de bureau ou escritório) e dormir (fazer dodo).

– Mas isso é francês, não é inglês – lembra Maruzinho.

– É verdade – admite Galerão. – Acontece que um cidadão francês nunca vai dizer que o peru veio da Turquia, vai?. Francês sabe Geografia, rapá. Inglês, americano… não sabem nada. Chamam peru de turkey, haha.

– Mas aí não é falta de Geografia, é excesso de burrice, mesmo – insiste Maruzinho.

– Agora você acertou! Eu não disse? U.S. Saloon só pode ser Salão Tujegue. Note que, além de jegue, ass também significa burro. Logo, U.S. (you ass) deve ser corretamente traduzido como “você é burro”, haha. E U.S.A. (you-ass-êi) só pode ser “Ei, você é burro!” haha.

Ninguém tava acreditando como, em tão pouco tempo de sumiço, esse Galerão aprendeu foi coisa, rapá! E não para:

– Esse bolinho inglês, que eles chamam English muffins, nunca foi inglês. Cookies são biscoitos que entraram no Ocidente pelo Cáucaso. Eram conhecidos como macarons. E a torta americana?, haha. Apple pie nada mais é do que uma simples torta de maçã, inventada na Áustria, mais precisamente em Viena. E muita gente pensa que é alemã, só por causa do nome Apfelstrudel. Mas, em Paris, essas sobremesas são encontradas nas viennoiseries. Por quê? Porque francês sabe Geografia, rapá! Eu num disse?

A galera continua sem acreditar. Só pode ser milagre, espiritismo ou encosto. Baixou um santo intelectual no Galerão! A galera deve estar pensando algo assim. Mas daí a coisa piora. Galerão não para mais. Ligado direto na tomada já não consegue mais separar inglês de português. Assó com que fluência Galerão se exprime:

Sweetmeats frutas cristalizadas are candies açucaradas, doces while sweetbreads pâncreas, which aren’t sweet are meatWe take English for granted permissivo, flexível, liberal, if we explore its paradoxes, we find thatquicksand areia movediça can work slowly afunda devagar, apesar de quick, boxing rings ringues de lutas de boxe are square são quadradas, and a guinea pig porquinho-da-índia não é nem da Guiné e nem é um porco…

– Clap! Clap! Clap! – todos aplaudem.

Com tantos aplausos, Galerão não consegue mais continuar. E nem precisa. Daí, todos fazem cara de idiota, levantam Galerão nos braços, e, embalando, como se ele estivesse deitado numa rede invisível, começam a cantar:

“Galera é um bom cumpanhêro / Galera é um bom cumpanhêro / Galera é um bom companhêêê-ruuu… / E ninguém pode negáááar!”

Depois que se espalhou por toda a Parnasia, essa notícia chegou aos ouvidos de um professor de inglês do Ginásio Parnasiano, que comentou assim: “Esse Galerão engana bem. Ou ele andou lendo algum almanaque, ou anda fazendo crosswords…”

 

(próxima crônica: “O DIA EM QUE HALF CAVALGOU SEU ROCINANTE IMAGINÁRIO IMITANDO A LANÇA COM UM TACO DE SINUCA PENSANDO QUE ERA DOM QUIXOTE DE LA MANCHA”)

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Escute o texto com a narração do próprio autor: