Em 2017, as famílias brasileiras pagaram R$ 354,8 bilhões em juros, o que corresponde a 10,8% da renda anual das famílias. É o que aponta o estudo “Juros e Inadimplência no Brasil 2015-2017”, divulgado na segunda-feira (23) pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP). No caso das empresas, foram R$ 120,8 bilhões pagos em juros no ano passado. Os dados foram obtidos com base no estudo sobre os impactos recentes do crédito sobre as empresas e famílias no Brasil. Na pesquisa, os juros pagos pelos brasileiros, seja no contexto familiar ou empresarial, referem-se ao crédito.
Seja por um empréstimo, financiamento ou uma compra no crédito que depois foi se somando a outras dividas, é fato que o brasileiro paga muitos juros. Em um contexto de crise econômica, com uma das maiores recessões da história, o estudo aponta que as pessoas tiveram maiores gastos com juros do que com outros itens básicos, como educação e vestuário.
Para que a população possa entender melhor a dimensão desse valor e do quanto é alto o volume de juros pagos no último ano, a Fecomercio SP trouxe algumas comparações com fatos próximos da realidade do cidadão brasileiro. Em termos práticos, a soma dos juros pagos pelas famílias representa 372 milhões de vezes o valor do salário mínimo atual (R$ 954); ou, ainda, 82 vezes maior que o valor da seleção brasileira da Copa de 2018 (981 milhões de euros, equivalente a R$ 4,3 bilhões). Com esse valor, daria ainda para custear 8,6 Olimpíadas do Rio de Janeiro (R$ 41 bilhões).
Outro exemplo comparativo é o gasto das empresas, que segundo a Fecomercio SP cobre 13 vezes o subsídio do governo à Petrobrás para redução do preço do diesel. No acordo feito na época da greve dos caminhoneiros, o governo fez uma previsão de repasse de R$ 4,9 bilhões à Petrobrás em 2018, o que representa um gasto de R$ 700 milhões por mês. A diferença entre o preço fixado no mês e o valor que seria praticado pela Petrobras é bancada pelo imposto pago pelo contribuinte.
O economista Ricardo Alaggio afirma que nesse cenário de altos juros pagos, um fator se destaca: os altos índices de inadimplência no país. Em junho, o número de inadimplentes bateu novo recorde: já são 61,8 milhões de pessoas, segundo levantamento da Serasa Experian. Isso significa que atualmente 40,3% da população adulta não tem conseguido quitar suas dívidas. É a quinta alta mensal seguida e a maior desde 2016, quando a entidade iniciou a pesquisa.
“O fato notável é o endividamento da população. O consumo não aumenta e as pessoas tem medo de se lançar ao consumo pela crise. Há um problema mais amplo que precisa ser pensado: a inadimplência e os bons pagadores pagando pelos maus pagadores [com juros altos]”, destaca Ricardo Alaggio.
O economista lembra que o governo baixou a taxa Selic e mesmo assim os juros continuam altos. Isso é também reflexo da inadimplência, já que os bancos, preocupados com a falta de quitação dos débitos, aumentam ainda mais os juros.
No horizonte dessa questão, e pensando em saídas, Ricardo afirma que é preciso uma regulação mais séria e efetiva dos juros praticados pelas instituições financeiras. Segundo o especialista, os órgãos reguladores não têm atacado essa questão de forma veemente e que possa gerar resultados mais robustos. A Fecomercio observa ainda que existe um espaço existente para redução da taxa de juros, de modo a reduzir a taxa de inadimplência no país. Essa constatação foi feita através de uma comparação entre o valor das dívidas em atraso e o volume de juros pagos.
Fonte: Jornal O Dia