Nos últimos anos, um modelo de desenvolvimento assentado no tripé Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) tem conquistado espaço no Estado do Piauí.
Os reflexos dessa nova conjuntura são caracterizados, dentre outros pontos, por um maior investimento na qualificação de recursos humanos e em projetos de pesquisa.
O governo estadual, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), tem realizado importantes parcerias com o governo federal, através de ministérios e agências nacionais de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Uma delas foi a implantação, em 2003, do Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores, também conhecido como Programa Primeiros Projetos (PPP).
De acordo com Eliana Abreu, gerente técnico-científica da Fapepi, para o PPP, considera-se como jovem pesquisador aquele que tenha concluído o curso de doutorado nos últimos cinco anos, a partir do lançamento do edital. “Um dos objetivos do Programa é fixar o jovem pesquisador no Estado e fortalecer o grupo de pesquisa no qual ele está inserido”, fala.
Além disso, o Programa visa apoiar a aquisição, instalação, modernização, ampliação ou recuperação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas instituições de ensino superior (ou de pesquisa) do Estado.
Em 2004 foi lançado o primeiro edital do Programa. De lá para cá, a Fapepi financiou 161 projetos de pesquisa em várias áreas do conhecimento.
“Desse total, o edital nº 004/2011 aprovou 41 projetos executados na maioria das instituições de ensino e pesquisa do Estado. Na época da concorrência nós tivemos uma média de 100 projetos submetidos e 41 foram selecionados para contratação”, conta Eliana Abreu.
Dentre esses projetos, está o “Pós-colheita de frutos de aceroleiras orgânicas produzidas nos Tabuleiros Litorâneos do Piauí”, coordenado pelo professor-doutor em Fitotecnia, Adriano da Silva Almeida, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), campus de Parnaíba.
“O estudo foi desenvolvido no Distrito de Irrigação Tabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI), localizado em Parnaíba, com o apoio dos fruticultores de acerola, que gentilmente abriram as portas das propriedades para a realização dos trabalhos.
Foram realizados estudos com frutos dos dois clones mais plantados no DITALPI, os clones AC 69 e I 13/2, avaliados nas épocas seca e chuvosa”, explica Adriano Almeida.
De acordo com o pesquisador, o trabalho surgiu da necessidade de buscar dados de qualidade referentes à produção da acerola orgânica, focando principalmente no teor de vitamina C dos frutos, já que a principal fonte de renda dos agricultores do DITALPI é a venda da acerola verde a uma multinacional localizada no Estado do Ceará, que realiza a extração dessa vitamina.
“Para os teores de vitamina C, observou-se uma diminuição significativa dessa vitamina na época de colheita chuvosa para a época seca nos clones estudados [AC 69 e I 13/2].
Apesar de existir na época seca, elevadas temperaturas e radiações solares, fatores que influenciam positivamente os teores de vitamina C, foi detectado que os clones apresentaram queda distinta entre si”, comenta Adriano Almeida, coordenador da pesquisa.
O projeto “Pós-colheita de frutos de aceroleiras orgânicas produzidas nos Tabuleiros Litorâneos do Piauí” constatou que a redução do teor de vitamina C foi mais acentuada para o clone AC 69, com percentual de perda de 60,7% na época seca, ao passo que o clone I13/2 apresentou perda de 47,6% para a mesma época.
Segundo Adriano Almeida, as diferenças estatísticas observadas no teor de vitamina C entre as épocas chuvosa e seca podem ser explicadas por fatores diversos, como práticas de manejo, irrigação, adubação, entre outras práticas que são adotadas ao longo das safras de aceroleiras no pomar onde foram coletados os frutos analisados.
“Há que se considerar, ainda, que pode ocorrer um esgotamento excessivo das plantas na época seca em razão do número elevado de safras proporcionadas no decorrer do ano pelas temperaturas consideradas ideais e uso de irrigação”, ressalta.
A acerola é a campeã no ranking da vitamina C
A acerola é a campeã no ranking da vitamina C, ganhando até mesmo da laranja, que ficou conhecida popularmente como uma das melhores fontes dessa vitamina, graças à indústria farmacêutica.
De acordo com a nutricionista Ágatha Crystian Silva de Carvalho, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição (PPGAN) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), além de ter o maior teor de vitamina C, a acerola também é rica em fibras.
“O fruto tem os componentes da pigmentação, que são os carotenoides, que dão a ela aquela coloraçãozinha vermelha da casca e amarelinha da polpa.
Os carotenoides também têm uma ação antioxidante, protegem o organismo contra doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, diabetes e hipertensão”, acrescenta. A nutricionista ressalta, ainda, que para obter todos esses benefícios é necessário que haja um consumo frequente do fruto.
Por ser regional, a acerola é encontrada com facilidade nas feiras, supermercados e nos quintais das casas de muitos piauienses. Ela pode ser consumida de inúmeras formas, mas segundo Ágatha Crystian, a melhor delas é o próprio fruto.
“Ao consumir o fruto você está tendo acesso aos nutrientes de uma forma bem melhor do que no suco, porque a gente acaba colocando um pouquinho de açúcar.
Como a acerola é um fruto ácido, a gente precisa adoçar. Isso torna a bebida um pouquinho mais calórica do que consumir a fruta, mas que também é uma opção muito boa”, enfatiza.
Potencialidades poderão ser ampliadas
As potencialidades dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí e as atividades dos produtores locais poderão ser ampliadas a partir da aplicabilidade dos resultados do estudo coordenado pelo pesquisador Adriano Almeida, tanto no que se refere às recomendações de clones mais adequados, quanto às regiões de plantios.
“Sabemos que há influência sazonal nos teores de vitamina C e que os fatores climáticos, manejo da cultura, irrigação e disponibilidade de nutrientes podem influenciar positiva ou negativamente a qualidade dos frutos”, frisa o pesquisador.
O financiamento do projeto realizado pela Fapepi oportunizou ao grupo de pesquisa produzir seis monografias de graduação, apresentações de trabalhos em Simpósio e Congresso. Além disso, estão sendo elaborados artigos científicos para revistas especializadas.
“Para a Uespi foi ótimo, por ter gerado monografias e ter despertado o interesse de alunos pela área de fruticultura e pós-colheita de frutos, além de equipar o laboratório com vidrarias, equipamentos e reagentes para se trabalhar com outras frutas de interesse regional”, conta Adriano Almeida.
Fonte: Meio Norte