Em campo, o Palmeiras não conseguiu o principal objetivo: vencer o Flamengo. Empatou por 1 a 1, em Volta Redonda, e colocou o próprio destino nas mãos dos adversários. Restou ao Verdão segurar as lágrimas – de alegria ou tristeza – até o fim do jogo da Portuguesa contra o Grêmio, no Canindé. Acabada a partida no Raulino de Oliveira, o time entrou em um ônibus para percorrer a Rodovia Presidente Dutra de olho no que o destino reservava: uma estrada com um oásis no fim ou o inferno da Série B à espera em algum lugar entre Rio e São Paulo.
Após o empate, a delegação palmeirense ainda ficou em silêncio por cerca de uma hora no vestiário. Choro, só no campo, de forma modesta. Os jogadores ficaram quietos, cabisbaixos, sem reação.
– Já viram velório? Foi isso que aconteceu depois do jogo – resumiu o técnico Gilson Kleina.
O grupo caminhou para o ônibus com a expressão de quem perdeu realmente um amigo ou parente próximo. A viagem seria de muita tensão. Afinal, o time deixou o estádio às 20h, quando Portuguesa e Grêmio já se enfrentavam no Canindé, com o placar de 0 a 0. Um empate já seria suficiente para rebaixar o Palmeiras, que precisaria torcer como nunca por uma vitória dos gaúchos.
Na Via Dutra, mais silêncio. Apenas as luzes de tablets e celulares iluminavam o ambiente fúnebre. Todos acompanhavam pela internet o jogo da Lusa sem emitir qualquer som. Parecia que, se alguém falasse, algo poderia dar errado. O primeiro barulho veio quando a Portuguesa fez o primeiro gol, aos sete minutos do segundo tempo, com Moisés. Em algum lugar na estrada, entre as cidades de Barra Mansa e Resende, ainda em solo fluminense, Maurício Ramos não segurou as lágrimas. Chorou como uma criança. Caía a ficha. Em poucos minutos, não estava sozinho: outros jogadores também choraram.
A marretada na cabeça veio com o segundo gol da Portuguesa, aos 15 minutos, com Léo Silva. Alguns desligaram seus aparelhos eletrônicos, pois tudo estava acabado, acreditavam. Mas sempre tem alguém que não desiste, que não consegue se isolar no silêncio da estrada enquanto o destino está sendo jogado lá fora. Em um dos celulares, veio a notícia: gol do Grêmio! André Lima marcou, aos 28. A esperança se renovava. Em quatro minutos, o sentimento cresceu e se fortaleceu: gol do Grêmio! Zé Roberto, aos 32.
Será que ainda dava? O empate no Canindé seguia rebaixando o Palmeiras, mas o gol do Grêmio parecia estar tão perto. Era tudo o que o Verdão precisava. Apesar de carregado de tensão, o ambiente voltou a ficar silencioso. Sabe aquela sensação de que, se alguém falar, tudo desanda? Ela havia retornado. Enquanto isso, a Polícia Militar do Rio, que fazia a escolta do ônibus, se despedia aos poucos dos palmeirenses. Alguns carros ainda seguiriam até o posto de pedágio que marca a divisa entre Rio e São Paulo. Era a hora de a Polícia Rodoviária assumir o restante do trajeto.
Minutos de sofrimento. Vai dar, não vai dar. Não deu. O árbitro apitou o fim da partida às 21 horas e 22 minutos, com 47 minutos de segundo tempo. O 2 a 2 estampou os celulares e tablets palmeirenses. As lágrimas já haviam se esgotado, apenas a tristeza profunda era companheira de viagem de cada um naquele ônibus. E, na altura de Itatiaia, no quilômetro 322 da Via Dutra, a 15 km de alcançar a divisa com o estado de São Paulo, o Palmeiras chegou ao inferno.
Fonte: meionorte.com