SEMANÁRIO JURÍDICO
Josino Ribeiro Neto
ARNALDO BOSON PAES. O NOVO CIDADÃO PARNAIBANO.
O Desembargador Federal ARNALDO BOSON PAES, integrante do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, sediado em Teresina-Pi., foi homenageado pela Câmara Municipal de Parnaíba-Pi., com o título CIDADÃO PARNAIBANO.
O evento de concessão da honraria foi realizado no auditório do prédio da Câmara Municipal de Parnaíba, com destacadas presenças de familiares, autoridades e amigos.
O homenageado recebeu a saudação do Vereador DANIEL JACKSON, autor do título de cidadania, que justificou a concessão da honraria outorgada pelo povo parnaíbano, legalmente representado, onde restaram enaltecidas as virtudes pessoais e profissionais do novel cidadão e de suas ligações com a Cidade, que agora o acolhe com um de seus filhos.
Após a saudação foi a vez do homenageado, em belíssima oratória, atributo que lhe é peculiar, agradecer a honraria do título de cidadania parnaíbana, que a coluna transcreve na íntegra, como forma de divulgar “sem cortes”, o rico conteúdo da oração
“Início estas palavras compartilhando a imensa alegria que sinto ao receber a generosa e gratificante Cidadania Parnaibana, que me acalma a alma e me torna irmanado com todos aqui presentes.
É tão grande a minha identificação com esta terra, com esta gente, com estas tradições, que, antes mesmo de passar a ser parnaibano por decreto legislativo, confesso que eu já o era pelo coração.
Esta é a cidade que aprendi a amar, desde meados de 1985, quando aqui estive, pela primeira vez, para participar de evento acadêmico no campus da então Universidade Federal do Piauí.
Minha admiração pela invicta e gloriosa Parnaíba se intensificou entre 1990 e 1993, quando aqui atuei como magistrado e passei a conviver fraternalmente com figuras ilustres e anônimas da sociedade local.
Retornei em centenas de ocasiões, a lazer ou a trabalho, nesta última condição como presidente e corregedor do Tribunal do Trabalho, ao longo de seis anos de mandato.
A cada dia nesta terra, crescia meu encantamento com as histórias, as tradições, as imagens, os cheiros, os sabores, os sentimentos e as emoções que brotam desta altiva e centenária cidade.
Prezadas e Prezados,
Em Parnaíba, somos magnetizados por lindas paisagens naturais e humanas, que tocam o coração e fazem deste o lugar ideal para se viver, sonhar e amar.
Joia encravada no Atlântico, a cidade assume seu espírito de metrópole. Por seu pioneirismo na adesão à Independência do Brasil, Parnaíba foi agraciada por Dom Pedro I com o título de “A Metrópole das Províncias do Norte”. Hoje articula amplas redes de influência sobre a planície litorânea.
Cortada por rios, encoberta pelo céu azul, acariciada pela brisa fresca do mar e emoldurada por coqueirais infinitos, cajueiros imensos e dunas de areia dourada, seu cenário é paradisíaco, imensa aquarela pintada por mãos divinas.
Para os que a amam, pouco importam os limites geográficos entre os municípios: do mar aos rios, dos portos às dunas, do Delta às praias, do casario colonial às cidades adjacentes, tudo é Parnaíba.
São paisagens que enchem os olhos e nos convidam a adotá-las como companhias permanentes.
Cito a Pedra do Sal, onde
A natureza ao pôr-do-sol parece
Grandiosa catedral, em cujo seio
O oceano verde reza a sua prece.
(Poema Pedra do Sal, de EDISON CUNHA)
Cito, na mesma praia, o soberbo farol,
Vigilante na noite temerosa,
Grave missão cumprindo, silenciosa,
A pupila crepita e o espaço sonda…
E, pelo mar em fora, aos seus acenos,
Deslizam barcos, rápidos, serenos
Baloiçando, tranquilos, dentro na onda!…
(Poema O Farol, de EDISON CUNHA)
Cito o esplêndido ritual da revoada dos guarás. No labirinto de ilhas, ao por do sol, lindas aves de plumagem vermelha vão chegando aos bandos, em festa, em bela coreografia, decorando a floresta. Ao final do balé, pousam nos galhos das árvores e aninham-se em suas casas noturnas.
Cito ainda o Delta do Parnaíba, o Rio Parnaíba, o Rio Igaraçu, a Lagoa do Bebedouro, a Lagoa do Portinho e o Porto das Barcas, por onde ventos, remos e lemes moviam e continuam a mover barcos rumo ao progresso.
Na confluência de tantas belezas naturais, mulheres e homens, trabalhando de sol a sol, de lua a lua, vão tecendo o espírito empreendedor e cosmopolita do lugar e de sua gente.
Parnaíba, no seu começo, era muito mais ligada à Europa do que a Oeiras ou a Teresina. Ergueu-se radiosa, soberana e elegante. Dos seus tempos áureos, permanecem os armazéns do cais, o casario colonial, as ruas alongadas, as praças arborizadas, as igrejas altas e bonitas, os palacetes modernos.
Monumentos e personalidades continuam vivos na memória afetiva da cidade, como testemunhos de seu passado glorioso e inspiração para novos ciclos de prosperidade, como pilares de um futuro promissor, descortinando horizontes.
Cito o velho solar dos Dias da Silva, a Casa Inglesa, os sobrados da Alfândega e do Arsenal de Marinha, o palacete da União Caixeiral, a Catedral da Divina Graça, a Igreja do Rosário, o prédio da Santa Casa de Misericórdia, as praças da Graça e de Santo Antônio, o colégio Nossa Senhora das Graças e o ginásio São Luiz Gonzaga.
A brisa que sopra sobre a Parnaíba secular, me traz à memória figuras históricas que deram projeção à terra, tornando-a excelsa e formosa. Entre tantos, sobressaem DOMINGOS DIAS DA SILVA, SIMPLÍCIO DIAS e JAMES FREDERICK CLARK.
Parnaibanos ilustres, de passado mais recente, contribuíram para o seu florescimento: EVANDRO LINS E SILVA, JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO, CHAGAS RODRIGUES, ALBERTO SILVA e MÃO SANTA.
Evoco, sobretudo, a memória de marinheiros, pescadores, canoeiros, vareiros, estivadores, barqueiros, vaqueiros, lavradores, prostitutas, trabalhadores em geral, gente simples e gente humilde, gente sem eira nem beira, cujo trabalho fez a riqueza de poucos e a pobreza de muitos.
Entre esses heróis anônimos, está MANDU LADINO: ao longo do tempo, seus algozes tentaram varrer sua nome da história gloriosa da terra que viria a ser Parnaíba, sede de tantos atos de bravura em busca da justiça. Esta, tantas vezes negada por aqueles que se julgavam senhores do destino de uma maioria entregue à própria sorte.
Robusto e astuto, MANDU LADINO comandou legiões de guerreiros com o intuito de conquistar para o seu povo o direito de existir. Tombou em combate, golpeado por caçadores de índios, ao tentar atravessar a nado o Rio Iguaraçu, em frente à então vila de Nossa Senhora de Monserrathe da Parnahyba.
Durante longo tempo, a saga desse herói ficou esquecida sob camadas de lodo impostas por seus opressores. Contudo, a sua bravura rompeu essas barreiras insidiosas, e hoje seus feitos heróicos ecoam por todos os rincões, a mostrar que nada é impossível quando se tem coragem e determinação.
Queridas e Queridos,
A história de um lugar e de seu povo é em boa parte a história contada por seus literatos: historiadores, romancistas, contistas, cronistas, poetas. O universo cultural, a atmosfera poética local, gerou escritores e obras de grande valor literário.
OVÍDIO SARAIVA DE CARVALHO E SILVA escreveu Poemas, marco inicial da Literatura Piauiense. LUÍZA AMÉLIA DE QUEIROZ, autora de As Parnaibanas, é a primeira poeta do Piauí. HUMBERTO DE CAMPOS evocou Parnaíba para perenizar seu cajueiro no célebre conto Um amigo de infância. RENATO CASTELO BRANCO produziu vasta obra literária ambientada em Parnaíba, a exemplo dos romances O Rio Mágico e Teodoro Bianca.
ASSIS BRASIL, um dos mais fecundos romancistas brasileiros, publicou mais de uma centena de livros, com destaque para os romances da Tetralogia Piauiense, em especial Beira Rio Beira Vida, marcado por forte denúncia social. Ambientado no bairro Tucuns, hoje São José, às margens do Rio Igaraçu, o romance ganhou o prêmio Walmap de 1965.
A poesia parnaibana é extensa e virtuosa. Sobressaem, entre antigos e novos poetas, JONAS DA SILVA, ALARICO JOSÉ DA CUNHA, EDISON CUNHA, R. PETIT, JEANETE DE MORAES SOUSA, ALCENOR CANDEIRA FILHO, ELMAR CARVALHO, V. DE ARAÚJO, ISRAEL CORREIA, DIEGO MENDES SOUSA e PÁDUA SANTOS.
Estimadas e Estimados,
Parnaíba não se releva apenas no seu passado de glórias. Há também um presente de prosperidade e um futuro radioso que se avizinha, cenário que se abre para uma realidade venturosa.
Para as glórias da Luz e da Prosperidade, como prenuncia a poesia Parnaíba, de JESUS MARTINS DE CARVALHO, a cidade já vive um novo ciclo de desenvolvimento.
A cidade experimenta uma explosão imobiliária, expande seu perímetro urbano, multiplica seus condomínios residenciais de alto padrão e bairros sofisticados vão se somando aos mais antigos e aos mais populares.
O seu mosaico econômico ganha amplitude e diversidade ao reunir variados polos de desenvolvimento, como são exemplos os polos comercial, de serviços, de turismo, do agronegócio, universitário e tecnológico.
Com a estruturação da ZPE – Zona de Processamento de Exportações e do Distrito Irrigado dos Tabuleiros Litorâneos, Parnaíba habilita-se para se integrar às cadeias globais de valor, com potencial para atrair novos negócios e conquistar novos mercados.
O Piauí passa por grandes transformações em sua matriz econômica e energética, sob a liderança do governador RAFAEL FONTELES. O Estado lança-se ao mundo para atrair investimentos e estruturar na planície litorânea um HUB de produção de energias renováveis, à base de hidrogênio verde, destinadas à exportação.
Parnaíba está no centro destas transformações. Com a conclusão das obras do Porto de Luís Correia e de seu sistema intermodal, que vai conectar ferrovias, hidrovias e rodovias, a região sediará dois dos maiores projetos de produção de hidrogênio verde do mundo, com investimentos estimados em U$ 200 bilhões.
Amigas e Amigos,
As cidades são como as pessoas, com o tempo mudam de fisionomia. Na paisagem social e urbanística de nosso tempo, a nossa gloriosa Parnaíba, hoje, são várias Parnaíbas, que convivem em um mesmo espaço geográfico.
A Parnaíba das mansões de luxo e a dos casebres. A Parnaíba rica e a dos bolsões de pobreza. A Parnaíba pacífica e a tomada pelas facções. A Parnaíba das oportunidades, com milhares de universitários, e a Parnaíba que busca um lugar ao sol no mercado de trabalho. A Parnaíba moderna e a Parnaíba antiga.
A qual destas Parnaíbas pertencemos? De qual destas Parnaíbas somos cidadãos? Pertencemos a todas essas Parnaíbas. Somos cidadãos de todas elas. Por todas elas temos grandes responsabilidades sociais, políticas e culturais.
Senhoras e Senhores,
Neste instante, abre-se para mim uma janela do tempo. Rememoro os momentos de vivência profissional e afetiva que construí no território parnaibano.
No exercício da magistratura, convivi com autoridades locais, empresários, trabalhadores, líderes de classe, advogados e servidores públicos. Com espírito cooperativo e trato cordial, com eles criei laços afetivos que os conservo até hoje.
Cito o juiz classista JOSÉ WILSON FERREIRA, com quem mantenho longa amizade. Frequentava sua casa na Rua Duque de Caxias, hospedava-me no seu sítio às margens da Lagoa do Portinho e por meio dele conheci e me tornei amigo de muitos parnaibanos. Aprendi com JOSÉ WILSON que amigo é para sempre.
Esta homenagem enche meu coração de graça e afeto. Duas razões mais recentes, porém, reforçam meus vínculos com esta terra. Ambas conectadas por laços de família.
Pesquisei recentemente sobre MONSENHOR BOSON, meu tio-trisavô, a quem dediquei uma biografia. Aqui estive escarafunchando arquivos para reconstituir a época, a vida e a obra do parente. Após 40 anos dedicados à Igreja e à educação, ele escolheu Parnaíba para continuar sua obra sacerdotal e educacional.
Aqui viveu por 16 anos, entre 1929 e 1945. Aqui instalou e foi capelão da Capela da Santa Casa de Misericórdia. Aqui foi inspetor federal de ensino e contribuiu na gestão do Ginásio Parnaibano, na criação de colégios, no aperfeiçoamento da educação local e na formação da juventude.
Aqui vive um parente querido, o parnaibano ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO DOS SANTOS, ex-promotor de justiça e defensor público aposentado, neto do maestro JOSÉ BOSON RIBEIRO, que imortalizou o bombardino da saudade. PÁDUA é um legítimo Boson, mas, na curta e sinuosa travessia do Buriti dos Lopes a Parnaíba, seus antepassados deixaram para trás o sobrenome da família.
O honroso título de Cidadão Parnaibano que agora recebo é filho da bondade do parente PÁDUA SANTOS. Como vice-prefeito e vereador desta cidade, ele foi tecendo uma teia de amizades. Como poeta, contista e cronista, ele conserva um coração sensível e uma alma generosa. Ao parente, fica a minha gratidão e a minha amizade.
Prezadas e Prezados,
É hora de agradecer e finalizar.
Então, ao ser-me concedido o honroso título de Cidadão Parnaibano, pela Augusta Câmara Municipal, expresso meus agradecimentos à terra e à gente parnaibana, na pessoa do vereador DANIEL JACKSON, por todos os seus ilustres pares.
Agradeço aos conselheiros OLAVO REBELO DE CARVALHO FILHO e JAYLSON FABIANH LOPES CAMPELO pela alegria e honra desta acolhida conjunta, fruto da conspiração do acaso e de nossas amizades.
Agradeço aos ilustres convidados que me honram com a sua presença fraterna, em especial aos que vieram de Teresina para celebrar comigo este momento especial.
Agradeço aos meus diletos amigos e queridos familiares e a todos estendo a homenagem que recebo da Câmara Municipal de Parnaíba, na certeza de que eles também se sentem homenageados comigo, nesta noite memorável.
Para concluir, evoco trechos do poema O centenário de Parnaíba, de ALARICO JOSÉ DA CUNHA, que nos conclama a cultivar as tradições e a acreditar no futuro luminoso desta terra e de sua gente:
A invicta Parnaíba, erguendo-se radiosa,
Excelsa, soberana, elegante e formosa,
[…]
Ó Parnaíba invulgar! És tu que tens a dita
De ser, neste nordeste, a mais cosmopolita,
A mais empreendedora, a mais hospitaleira;
[…]
Bendita, gloriosa, altiva e centenária!
Sagrada pelo povo, que em preces te bendiz
Assegurando-te a Paz de um século mais feliz.
Muito obrigado!
O Des. ARNALDO BOSON PAES, homenageado merecidamente com o título de cidadão parnaibano.