As diferenças cognitivas e emocionais dos alunos devem ser ponto de partida do ensino
Para se alcançar a equidade na escola, é preciso tomar em conta a desigualdade que caracteriza seus alunos. É esse o foco que especialistas em educação apontam para melhorar o sistema público de ensino em todo o país. Estar atento às condições individuais e familiares dos alunos leva a observar o que é óbvio: todos são diferentes. Na escola, principalmente, a igualdade deve estar centrada na forma de atendimento e no respeito ao cidadão que se está formando, o que jamais poderia ser confundido com a concepção de que todos os alunos partem dos mesmos patamares sociais, culturais e cognitivos.
“O que a escola tem feito, em grande parte, é esperar que todos os seus alunos tenham as mesmas condições de acesso à escrita e, ao constatar que isso não ocorre, geralmente responsabiliza pelo próprio fracasso aqueles que chegam a ela com menor experiência. No entanto, justamente os que têm menor contato com as funções da escrita, devem participar de situações em que ela ocorra com maior intensidade, na escola”, avalia a supervisora pedagógica de programas do Instituto de Qualidade no Ensino (IQE), Maria Helena Braga.
Pesquisas têm demonstrado que, apesar do desenvolvimento cognitivo e do emocional sofrerem etapas semelhantes a todos os indivíduos, cada sujeito apreende o mundo e lida com ele como resultado da confluência de diversos fatores: características individuais, contexto social e cultural. “Se quisermos atingir um ponto de chegada em que os alunos tenham desenvolvido o máximo de seu potencial, precisaremos ter como ponto de partida as idiossincrasias, que deixam cada ser tão único. A começar pelos conhecimentos que os alunos já têm construídos, tanto no âmbito familiar quanto no escolar. Ninguém é uma tabula rasa que inicia seu processo de conhecimento no primeiro dia de aula de cada ano letivo”, acrescentou a especialista.
Maria Helena do IQE aponta que outro fator extremamente significativo para o aprendizado é o contexto familiar. “Se o aluno tem a possibilidade de interagir com a escrita, por exemplo, em sua vida cotidiana, de observar como os adultos e outras crianças mais velhas fazem uso dela e perceber em que situações discursivas ela se faz necessária, certamente sua relação com a escrita será muito mais abrangente do que a do aluno que vem de lar pouco escolarizado ou pouco alfabetizado”, destacou.
E isso não tem nada a ver com inteligência, avalia a supervisora. Maria Helena acredita que pessoas não alfabetizadas podem ser tão inteligentes como as que têm um alto grau de conhecimento sobre a cultura escrita. “Acontece que, por ser a escrita um objeto de aprendizagem fundamental da instituição escola, por ser o meio de acesso ao conhecimento privilegiado por quase todas as disciplinas, é preciso que boa parte dos esforços pedagógicos sejam concentrados no alcance do domínio dessa modalidade da língua”, frisou.
Na prática para que haja aprendizagem é necessário o enfrentamento de um desafio cognitivo que seja, ao mesmo tempo, alcançável, mas não, ainda, alcançado. A especialista lembra que os desafios cognitivos são diferentes para as pessoas; assim, as atividades precisam atingir essas diferenças. “Hoje fala-se em ‘pedagogia diferenciada’, ou seja, aquela que está atenta aos diferentes processos de aprendizagem dos alunos. No entanto, para que o termo não se banalize, como a grande parte das novas ideias em educação, é preciso evitar experiências sem qualquer sustentação científica e didática. Mas as pesquisas levam-nos a vê-la como algo necessário, já que parte da concepção de que é preciso apresentar desafios adequados a cada sujeito ou a um grupo de sujeitos, para que as condições de equidade sejam atingidas. O ponto de partida pode/deve ser diferente, mas todos os caminhos, atividades, metas de aprendizagem que levam ao ponto de chegada devem ambiciar a equidade”, reforça.
Por Mayara Bastos