Com 116 vítimas por dia, os disparos de armas de fogo no Brasil mataram 42.416 pessoas em 2012. Desse total de mortes, 40.077, o equivalente a 94,5%, foram resultados de homicídios, revela o levantamento Mapa da Violência 2015 – Mortes Matadas por Armas de Fogo. O número é o maior já registrado desde o início da série histórica que começou em 1980. Entre aquele ano e 2012 houve um crescimento de 387% no número de mortos por disparos. em 32 anos, o país registrou 880.386 óbitos por arma de fogo.
No Nordeste, o crescimento também foi elevado: 89,1% e o Piauí tem a menor taxa de assassinatos por armas de fogo na região, mas teve um crescimento de 123,4% em dez anos.
Segundo o Mapa da Violência 2015 – Mortes Matadas por Armas de Fogo, em 2012, 353 pessoas morreram com armas de fogo, com um crescimento de 123,4% em relação a 2002, dez anos antes, quando 158 pessoas foram assassinadas com armas de fogo.
Em 2011, 297 pessoas morreram assassinadas com armas de fogo. Em 2012, as 353 mortes por armas de fogo foram 18,9% maiores do que as registradas no ano anterior.
A taxa de pessoas mortas no Piauí por armas de fogo para cada 100 mil habitantes aumentou 104,9% em 2012, em relação a 2002.
Em 2012, as mortes com armas de fogo corresponderam a 11,2 para cada 100 mil habitantes contra em 2002 foram 5,5 pessoas mortas para cada 10o mil habitantes.
Em relação a 2011, quando as mortes com armas de fogo no Piauí atingiram 9,5 para cada grupo de 100 mil habitantes, a taxa de 2012 cresceu 18,1%.
Já entre os estados, Alagoas apresentou a taxa mais elevada: foram 55 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Espírito Santo, com 38,3, e Ceará, com 36,7. Na outra ponta, estão Roraima, cujo índice ficou em 7,5, Santa Catarina, que registrou 8,6, e São Paulo, com 10,1. No Rio de Janeiro, a taxa foi de 22,1.
Com exceção do Sudeste, todas as regiões do país tiveram crescimento da mortalidade por arma de fogo entre 2002 e 2012. No Norte, houve aumento de 135,7%. No Nordeste, o crescimento também foi elevado: 89,1%. Já na região Centro-Oeste, os quantitativos cresceram 44,9%. O Sul registrou o menor crescimento: 34,6%.
O Sudeste teve uma expressiva diminuição de 39,8%. Jacobo explica que essas quedas foram puxadas, por São Paulo, cujos números caíram 58,6% com relação ao ano de 2002 e também Rio de Janeiro, com queda de 50,3%.
A nova edição do “Mapa da violência 2015: mortes matadas por armas de fogo” apresenta dados por região, estado, capitais e municípios, revelando situações distintas dentro do país.
Enquanto o número de mortos por armas de fogo no Brasil, em números absolutos, aumentou 11,7%, de 2002 a 2012, a região Sudeste teve queda de 39,8% nesse mesmo período, puxada pelos estados de São Paulo (- 58,6%) e Rio de Janeiro (-50,3%). As demais regiões tiveram aumento: + 135,7%, no Norte; + 89,1%, no Nordeste; + 34,6%, no Sul; e + 44,9%, no Centro-Oeste.
O estado com maior taxa de mortos por armas de fogo, em 2012, era Alagoas, com 55 óbitos para cada 100 mil habitantes. Roraima era o estado com menor taxa (7,5). De 2002 a 2012, nove estados tiveram redução da taxa de mortes por armas de fogo. São Paulo teve a maior queda (-62,2%). Outros 17 estados e o Distrito Federal registraram elevação. O Maranhão apresentou o maior aumento (273,2%).
Entre as capitais, Maceió (AL) apresentava a maior taxa de mortalidade por armas de fogo na população total, em 2012 (79,9). Boa Vista (RR) tinha a menor taxa: 7,1. Doze capitais apresentaram redução na taxa, no período de 2002 a 2012. A cidade do Rio de Janeiro foi a que teve a maior queda (-68,3%). São Luis (MA) teve a maior elevação (+316%).
O levantamento também calculou as taxas de mortalidade, na população total, de 1.669 municípios com mais de 20 mil habitantes no país. Para evitar que eventos isolados tenham peso desproporcional nas estatísticas municipais, o Mapa trabalha, para esses municípios, com a média de mortes por armas de fogo dos três últimos anos com dados disponíveis, isto é, 2010, 2011 e 2012.
No caso da população jovem, de 15 a 29 anos, foram considerados apenas os municípios com mais de 15 mil jovens, num total de 555 cidades brasileiras.
O município de Simões Filho (BA) aparece com a maior taxa de mortalidade de armas de fogo no período, tanto na população total quanto entre os jovens. Na população total, Simões Filho teve 130,1 óbitos para cada 100 mil habitantes. Entre os jovens, a taxa atingiu 314,4 óbitos pra cada 100 mil habitantes.
A publicação contém também o chamado Índice de Vitimização Juvenil por Armas de Fogo (IVJ-AF). Esse índice analisa a incidência de homicídios na população jovem, comparando os resultados com os da população não jovem. Assim, o estudo revela que, em 2012, em média, morreram proporcionalmente 285% mais jovens que não jovens por assassinato praticado com armas de fogo. Em outras palavras, para cada não jovem assassinado por arma de fogo, quase quatro jovens foram mortos da mesma maneira.
O levantamento mostra a idade das vítimas fatais por disparo de armas de fogo. Em 2012, a mais alta taxa de mortalidade foi verificada entre os jovens de 19 anos, com taxa de 62,9 mortes para cada 100 mil habitantes. A segunda taxa mais alta (62,5) atingiu os jovens de 20 anos.
O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde registra a raça/cor das vítimas. Em 2012, segundo o estudo, armas de fogo vitimaram 10.632 brancos e 28.946 negros no Brasil, o que representa 11,8 óbitos para cada 100 mil brancos e 28,5 para cada 100 mil negros. Logo, pode-se afirmar que morreram proporcionalmente 142% mais negros que brancos por armas de fogo. O levantamento revela também que, em 2012, 94% das vítimas fatais de disparo de armas de fogo eram do sexo masculino, na população total. Entre os jovens, esse percentual chegava a 95%.
A partir das bases de dados do Sistema de Informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o levantamento comparou as taxas de mortalidade por armas de fogo de 90 países ou territórios. Devido à demora dos países em fornecer dados atualizados à OMS, o estudo utilizou informações de qualquer um dos anos do período 2008-2012 para cada país. O Brasil ficou na 11.a posição, ou seja, com a 11.a taxa mais alta de mortalidade por armas de fogo no grupo de 90 países: 21,9 óbitos para cada 100 mil habitantes. A Venezuela lidera o ranking com taxa de 55,4 óbitos por armas de fogo. No extremo oposto, a Coreia do Sul, o Japão, Marrocos e Hong Kong aparecem com taxa zero de mortes por armas de fogo.
Outro índice negativo registrado em 2012 foi a taxa de mortalidade por arma de fogo por 100 mil habitantes, que ficou em 21,9. Esse resultado só é menor que o de 22,2 verificado em 2003. Quando se especifica os homicídios praticados com armas de fogo, a taxa fica em 20,7, sendo a mais elevada desde 1980.
Se comparado com os de outros 90 países, essa taxa deixa o Brasil no décimo primeiro lugar entre as nações com o maior número de mortes por arma de fogo, atrás de El Salvador, Venezuela, Guatemala e Colômbia, por exemplo. O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa, avalia que a baixa adesão às campanhas do desarmamento e a grande quantidade de armas em posse dos cidadãos contribuíram com o resultado negativo:
“Várias campanhas do desarmamento não conseguiram atingir suas metas. A estimativa é que o Brasil tem 100 milhões de armas de fogo em circulação. É muita arma para um país que tem a cultura da violência. A modernização do aparelho de segurança pública e o desarmamento são elementos chaves para diminuir a taxa”, explicou.
Em São Paulo, a queda está relacionada à modernização do aparelho de segurança, à implantação de novos sistemas de gerenciamento. Além disso, o estado também contou com o trabalho do Instituto Sou da Paz e com a criação do Fórum de Segurança Pública, que contribuíram com o desarmamento. No Rio de Janeiro, a queda começa antes da criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e está associada a uma visão mais científica da criminalidade. O processo de depuração da polícia, que era muito compenetrada com milicias, muda a realidade do estado.
As principais vítimas das mortes por armas de fogo no Brasil são os jovens. Do total de 42.416 óbitos por disparo de armas de fogo em 2012, 24.882 foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos, o que corresponde a 59%. Em termos demográficos, os jovens correspondiam a pouco menos de 27% da população brasileira. Em 1980, o número de vítimas nessa faixa etária foi de 4.415. Assim, em 32 anos, houve um aumento de 463,6% nesses casos.
Já a taxa de mortalidade de jovens por armas de fogo atingiu o dobro da taxa registrada para a população total: 47,6 para cada 100 mil habitantes. Tanto a taxa quanto o número absoluto de jovens mortos por armas de fogo em 2012 são os mais altos já registrados pelo Mapa da Violência. Jacobo afirma que a falta de políticas públicas para os jovens é o principal motivo para esse crescimento:
“Tendo em conta que o Estatuto da Juventude só foi aprovado em 2013, temos políticas públicas para jovens há pouco tempo, é muito recente. O ECA está sendo rediscutido, ainda tem que amadurecer. Nós temos déficit na área de proteção de nossa juventude, que é a educação. A educação é o melhor mecanismo contra a violência. Quanto maior o nível educacional do indivíduo, menor a chance de ser vítima de homicídio”.
Fonte: Meio Norte