Barbearias de Parnaíba se tornam espaços de estilo, identidade e autoestima
Os cortes de cabelo masculino têm ganhado cada vez mais estilo e personalidade nas periferias de Parnaíba. A barbearia deixou de ser só um espaço de cuidado e se tornou também um ponto de expressão cultural, identidade e autoestima.
Nesse cenário, jovens profissionais vêm se destacando pela criatividade e pelo compromisso com o cliente, como é o caso de João, de 24 anos, que vem conquistando respeito e representatividade com muito estilo e dedicação. “O início da profissão foi assim, meio conturbado, entendeu? Por exemplo, a barbearia é um tipo de profissão hoje em dia que te tira de vários ambientes, como me tirou. Eu era um tipo de pessoa que não tinha uma perspectiva de vida tão grande como eu consegui alcançar através da barbearia“, conta João.
No salão onde trabalha, ele realiza desde o degradê tradicional até técnicas mais modernas, como pigmentação e descoloração — essa última conhecida entre os jovens como “nevou”. “A barbearia hoje em dia é a revolução da quebrada, entendeu? Hoje em dia, muita criança hoje em dia vê o barbeiro como, por exemplo, um jogador. Hoje em dia, pra ser jogador de futebol é muito difícil. Uma pessoa consegue ver o barbeiro de outra forma, como exemplo”, explica.
Além de barbeiro, João atua como educador, ministrando cursos para quem deseja entrar no mercado e ensinando técnicas a profissionais que querem se aperfeiçoar. “A pessoa não tem aquela base de cortar cabelo, aí chega na minha e pergunta, ‘Henrique, eu quero começar a cortar, eu quero conhecimento para cortar cabelo’. Aí eu pego, ministro o corte, no final do ano eu ministro um workshop para 20, 30, 40 pessoas”, detalha.

João também destaca tendências recentes: “A demanda é demais, pigmentação, hoje em dia a galera gosta muito de reflexo. É um corte que não vem daqui, vem do Rio de Janeiro. É um corte que é uma luz do lado cheio de pintinha, que é o reflexo das luzes, entendeu? Aí hoje em dia a galera procura muito, nevou, pigmentação, é o corte que mais sai comigo.”
Mas nem tudo é tendência. João ressalta que ainda há preconceito em torno de alguns estilos: Segundo ele, ainda há quem relacione esses cortes com a marginalidade, uma visão antiga e que precisa ser superada. “Antigamente o corte de cabelo era muito criminalizado. Ah, o cara tá com corte no degradê, é bandido, é isso. Hoje em dia não. Hoje a gente pode ver jogador de futebol, artista, gente famosa com vários tipos de cortes que tira aquela criminalização do corte de cabelo.”
Para clientes como Cássio, o salão se tornou um espaço de representatividade e autoestima. “Rapaz, se eu não cortar o cabelo toda semana eu fico doente. Tem que lançar a régua toda semana, atualizar. Já fiz nevou, já fiz luzes, já fiz desenho, várias variações. Hoje em dia cada pessoa faz o que acha bonito”, comenta.
João acredita que a profissão vai além da estética, inspirando outros a buscar oportunidades e sair de caminhos negativos. “Hoje em dia, eu influencio outras crianças a trabalhar, a sair desse mundo das drogas, deixar de fazer coisa errada. O meu maior orgulho é isso.”
Ele também destaca a estabilidade financeira que a carreira pode oferecer: “A profissão é altamente rentável para a pessoa. É algo que você vai trabalhar, vai conseguir seus clientes, vai conseguir uma renda fixa. A galera perdeu o medo e a vergonha de se expressar através da cabeleira.”