Várias pipas de kitesurf aparecem no céu, um céu azul com grandes flocos de nuvens. Homens alados em seus equipamentos de kitesurf são jogados de um lado para o outro com o fundo azul, como estivessem recortados e colados naquele cenário.
O cenário é do povoado praieiro Barra Grande, da cidade Cajueiro da Praia, que está disputando sua inclusão entre as novas Sete Maravilhas do Piauí, promovido pelo Sistema Integrado de Comunicação Meio Norte.
Os ventos fortes atraem praticantes de kitesurf do Brasil, da Itália, França e da Austrália. Foram esses gringos que favorecem que jovens moradores da Praia Grande praticassem o esporte porque deram os equipamentos, que não saem por menos de R$ 5 mil.
O kitesurf está garantindo a entrada de Barra Grande, que possui 40 pousadas, no turismo glabal. Os jovens de Barra Grande colorem o céu do povoado durante todo o ano.
Há seis anos, Francis Solis, de 36 anos, pratica kitesurf e agora é instrutor do esporte cobrando R$ 1 mil pelo curso de prática do esporte durante 10 horas. “Eu comecei ajudando outras pessoas que vinham de fora do país e praticam kitesurf. A gente não podia comprar o material que era muito caro. Eu ia ajudando as pessoas e elas iam deixando o material usado com a gente, até que aprendi. Hoje, eu sou instrutor de kite”, falou Francis Solis, que tem um bar, onde serve drinks especializado em caipirinha.
“Eu faço kite porque meu pai tem uma pequena pousada e um hóspede deixou equipamentos para nós. Meu irmão aprendeu com meu tio e passou a incentivar a prática do esporte”, afirmou Matheus Alves da Silva, de 13 anos e há três anos é praticante de kitesurf.
Ele diz que o esporte é radical e perigoso porque uma manobra errada pode causar uma queda de mau jeito. “É melhor praticar esportes do que andar pelas ruas. Eu gosto de kite, de futebol. É um esporte bom porque a gente faz dentro d’agua e dá um friozinho na barriga”, diz Luiz Fernando Alves da Silva, de 15 anos e que há três anos pratica o esporte.
O por do sol na Barra Grande é especial. O céu fica amarelado como se fosse pintado apenas para fazer contrastes às imagens dos kites e de seus praticantes.
Uma das principais atrações de Barra Grande é o passeio pelos canais do mangue, que pode ser feito seguindo o roteiro do cavalo marinho, um peixe com pequena nadadeira e que tem a curiosidade do macho ser responsável gestação dos filhos, e o fraldão, quando o turista veste uma espécie de fralda com poder de garantir a flutuação e vai sendo levado pela correnteza; além da Trilha das Ostras e a Ilha das Garças, onde existe um berçário, onde constroem seus ninhos e ficam para a reprodução.
O diretor da Barratur (Associação dos Condutores de Turismo da Barra Grande), Marcos Cazuza, afirma que o Roteiro do Cavalo Marinho é um passeio na área de igarapés do manguezal, quando o turista conhece as espécies de mangue, de aves e vai até o berçário do cavalo marinho. Ao final do Roteiro do Cavalo Marinho, o turista volta de carroça pela praia, observando o verde do mar, cujas ondas chegam tranqüilas e com muita espuma na areia.
O Roteiro do Cavalo Marinho começa no mangue, ondfe milhares de pequenos caranguejos ficam espalhados e correm de uma vezx com a chegada dos humanos. A canoa passa tranqüila pelo manguezal, com suas traizes expostas. Os guias Marcos Antônio, de 22 anos, e Fábio Alves dos Santos, de 20 anos, explicam que existem três espécies de mangue: o vermelho, que é usado como cicatrizante. As pessoas mais velhas cortavam o caule do mangue vermelho e usam o líquido avermelhado que sai da planta e colocam sobre o ferimento.
A outra espécie de mangue é branco, que os mais antigos usavam suas folhas para salgar os peixes que pescavam. A planta respira e transpira e acumula sal em suas folhas. O mangue manso é usado pelo guaxinim para fortalecimento de seus dentes. O animal arranha o caule do mangue manso, sai um líquido que vira resina, qjue serve como cálcio para o fortalecimento de seus dentes.
Durante o Roteiro do Cavalo Marinho, aves migratórias, que chegam do Canadá e da Flórida, nos Estados Unidos, passam de um lado para o outro do mangue. São as garças pardas, que têm são chamadas de garças azuis; maçaricos, entre eles o pirão gordo, que precisa recuperar a metade de seu peso para voar novamente e atravessar o Oceano Atlântico e voltar para a casa.
Os mergulhões e os carcarás têm no mangue um confortável habitat. Os cavalos marinhos podem ser vistos nas margens do mangue sozinhos, formando casal ou em grupos, principalmente perto do encontro dos Camurupim coma Boca da Barra.
O presidente da Associação dos Condutores de Turismo da Barra Grande, Francisco Wellington, afirma que o cavalo marinho é um peixe ósseo, e vive no estuário do manguezal de Barra Grande. Segundo ele, os cavalos marinhos mudam de cor, mas são da mesma espécie. Ficam nas cores laranja, vermelho, amarelo, verde, preto e branco. Os cavalos marinhos verde, preto e branco são os mais difíceis de ser encontrados.
Os cavalos marinhos vivem até quatro anos e podem chegar a até 19 centímetros. Nascem com meio centímetro. O cavalo marinho macho possui uma bolsa. Dependendo do cavalo marinho, ele pode liberar 1 mil a 1,5 mil filhotes por gestação. O macho possui a bolsa incubadora abaixo do abdômen, o que a fêmea não tem. No processo de reprodução, as fêmeas apenas depositam seus óvulos na bolsa incubadora dos machos, que já tem o seu esperma depositado.
É uma fecundação externa. Os cavalos marinhos frequentemente vivem em casais e nadam de forma vagarosa e parecem astronautas pisando na lua, dando a impressão de que estão flutuando.
Poesia e quadrilha tornam Praia Grande cultural
Durante o Carnaval na praia de Barra Grande é promovido um festival de blues e jazz. Há no povoado de Cajueiro da Praia um clima cultural intenso. A poeta e artesã da Cooperativa de Artesãos de Barra Grande, Lúcia Cabrinha, lê poesia inspirada na defesa da natureza e nas belezas da praia tecendo peças de crochê.
Autora do Hino do Cajueiro da Praia, Lúcia Cabrinha, diz que tudo o que escreve é ligado à natureza. “Eu faço as músicas e as letras. Eu sou muito ligada à natureza. Eu escrevo de acordo com meu estado de espírito, quando parece que você é a última pessoa da face da terra”, declara Lúcia Cabrinha, acrescentando que se inspira no mar, no verde e nos animais.
“Eu canto a esperança, por uma nova vida e por águas cristalinas como eram antes”, afirmou Lúcia Cabrinha.
Para agregar os jovens e oferecer espetáculo para os turistas que chegam em Barra Grande, Gilson Silva Amaral, criou a quadrilha Balão Dourado, que já se apresentou em festivais de quadrilha em Cajueiro da Praia. “Queremos resgatar a cultura e a tradição, além de oferecer uma opção de lazer para os jovens e para a cidade”, declarou Gilson Silva Amaral, lembrando que a Balão Dourado tem 44 jovens brincantes .
“Também temos um trabalho social.Agora vamos ter a Balãozinho Dourado com 42 crianças”, falou Sâmia Carvalho Lima, filha de Gilson Silva.
A partir de meio dia começam a chegar os pescadores de viagens de vários dias do alto mar trazendo em suas canoas galos, bonitos, pargos, serras, cavalas e pescadas. “Conseguimos pegar muitos peixes desta vez. São peixes para alimentar nossas famílias, mas também para vender”, afirmam os pescadores Antônio José e Raimundo da Conceição, retirando grande caixa de isopor cheia de peixe do barco que levaram para a pesca.
O pescador Erivaldo Alves de Lima foi comprar ariacó, galo e cavala para preparar pratos em seu restaurante em Barra Grande. Ele trabalhava como pescador, reconhece que cansou do mar e descobriu que pode ganhar mais com um restaurante.
“Tem dias que eu tenho saudades do mar, pego meu barco e vou pescar os peixes que faço em meu restaurante. As pessoas me procuram porque sabem que vão comer peixes escolhidos por um pescador, que gosta de peixes frescos para servir”, afirma Erivaldo Lima.
Informações e Fotos: Meio Norte