BOLIÚDE

 

Vitor de Athayde Couto

Comer pipoca. Sim, esse parece ser o objetivo das pessoas que vão ao cinema e ao sofá estendido. Mas o que aconteceria se todo mundo quisesse e pudesse comer a mesma quantidade de pipoca que um americano médio come no cinema? E se cada inquilino do planeta produzisse a mesma quantidade de lixo dos americanos, campeões na modalidade? Com um agravante: o percentual de reciclagem dos 773kg/ano per capita de lixo, nos Estados Unidos, é um dos mais baixos entre os países ricos. Generalizando, o que aconteceria com o planeta se o estilo de vida americano fosse adotado por toda a humanidade?

Sabe-se, desde Shakespeare, ou, mais precisamente, desde os gregos antigos, que um amor proibido e uma tragédia sempre dão um bom teatro ou um bom filme. Um milhão de amores proibidos podem dar um milhão de bons filmes. Vista pela ótica das bilheterias, Boliúde é a capital mundial do cinema – menos para quem é mal-informado e dominado pelos streamings ocidentais.

Por ser uma potência militar, a Índia é um dos poucos países no mundo que falam a única linguagem que os americanos entendem – a linguagem nuclear. Quando o assunto é a velocidade do crescimento econômico, tecnológico e populacional, a mídia se cala. Não tarda e a Índia será a única potência capaz de competir com a China, assim que o dólar virar uma libra caquética.

Voltando a Boliúde, tragédia mesmo seria se cada indiano resolvesse comer um balde de pipoca durante cada filme assistido. Estimando-se 200g de milho por balde, com metade dos indianos assistindo a 54 filmes por ano, não há produção de milho que chegue – ainda que se deixe de alimentar todos os porcos e aves do mundo, e de adoçar, com milho, as guloseimas industriais americanas que engordam o lucro das fit academias.

Multiplicando-se 200g de milho por 54 semanas no ano, vezes 720 milhões de cinéfilos indianos adultos (metade da população), obtém-se resultado trágico: seriam necessários 7,8 bilhões de toneladas de milho, diante de uma produção mundial de apenas 1,1 bilhão de toneladas. Mais trágico ainda seria comparar esse consumo potencial com a produção de milho exclusivamente de pipoca, que é ínfima em relação à produção de todos os milhos.

Resta torcer para que os indianos continuem a fazer bons filmes e não cometam a loucura de comer um balde de pipoca em cada sessão de cinema, porque… milho pouco, meu cuscuz primeiro! No Nordeste pode faltar até água, mas, se faltar cuscuz, eclodirá uma grande revolução.

Sendo, Estados Unidos e Brasil, campeões mundiais de produção e consumo de milho de pipoca, pode-se admitir que os seus filmes deixam muito a desejar – ao contrário dos filmes indianos, que dispensam pipocas e requerem mais silêncio e atenção dos espectadores.

Livres da mesmice de sempre, as atrizes indianas, de tão lindas, correm por fora da curva do padrão Barbie. Esse novo modelo de beleza começa a provocar enorme queda na produção e consumo de tintas para cabelos, portanto, quem tiver ações de empresas desse ramo da indústria química, é melhor ir se livrando delas, haha.

_______________________________________________________

Ouça o áudio com a narração do autor:

***

Caro leitor, tu também poderás ouvir este e outros textos, assistindo aos vídeos no canal YouTube do autor. Basta clicares aqui.