A campanha eleitoral antecipada tem colocado um freio na intenção do Governo Michel Temer (PMDB) de dar andamento à sua reforma da Previdência ainda neste ano. Nas duas reuniões entre líderes dos principais partidos da base governista no último fim de semana, que haviam sido convocadas para debater a agenda legislativa, ficou bem clara a preocupação dos políticos: as urnas em 2018. Tanto em um almoço no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, quanto em um jantar na residência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), as conversas rondaram sobre os cenários eleitorais para 2018.
A preocupação é com os baixos índices atingidos por pré-candidatos que são de partidos da base de sustentação de Temer, como PSDB, PSD e PMDB. No domingo, o instituto Datafolha mostrou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera todos os cenários em que aparece como candidato. Nestes, o petista é seguido por Jair Bolsonaro (PSC). Quando Lula não concorre, Bolsonaro lidera e Marina Silva (REDE) surge como vice-líder.
“Todo mundo está preocupado com o impacto que essa votação vai trazer para si mesmo ou para seus partidos, mas isso pode nos prejudicar”, admitiu um dos deputados presentes no encontro. Como estratégia de convencimento, representantes do Governo apresentaram um estudo interno em que mostra que em outros anos, os que votaram a favor de reformas legislativas se reelegeram mais do que os que foram contrários, conforme participantes das reuniões. Nenhum dos cinco parlamentares procurados pelo EL PAÍS, no entanto, tinha uma cópia desse levantamento nem sabia dizer qual era a origem exata dele.
Nos últimos dias, alguns membros do Governo estão preocupados com seus próprios rumos eleitorais. Um dos nomes favoritos do mercado, Henrique Meirelles (PSD), ministro da Fazenda, ainda não descartou concorrer à presidência – apesar das últimas pesquisas o colocarem com menos de 3% das intenções de votos. Pelo contrário. Meireles tem dito em várias ocasiões que até o fim do primeiro trimestre do ano que vem tomará uma decisão. E, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo relatou que a gestão Temer terá candidato, e não será Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo que é pré-candidato pelo PSDB.
A atitude do ministro foi reprovada por um dos principais aliados do governo, Rodrigo Maia. “Qualquer tentativa de tratar de eleição neste momento mais atrapalha do que ajuda”, afirmou o deputado nesta segunda-feira após participar de um evento em São Paulo.
Nos dois encontros dominicais de Temer, entre os deputados havia mais dúvidas do que certezas sobre a reforma da Previdência. Membros da equipe econômica de Temer pregavam para convertidos. Usavam argumentos de convencimento para lideranças que já estão de acordo com a aprovação da reforma, mas que admitem que ainda não conseguiram convencer 308 deputados para aprová-la. Hoje, os governistas dizem que tem entre 250 e 275 votos. Querem chegar a 330, para que uma eventual margem de erro faça com que a proposta passe. Os principais pressionados para obter votos foram os ministros da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), da Indústria e Comércio, Marcos Pereira (PRB), e Maurício Quintella (PMDB). Os dois primeiros são lideranças em seus partidos, enquanto Quintella é um deputado federal licenciado que tem bom trânsito no Congresso Nacional.
Enquanto essas legendas se movimentam, o PSDB, um dos possíveis fieis da balança na votação, enviou o presidente interino da legenda, Alberto Goldman, apenas para um dos encontros com o presidente. Assim, manteve sua postura de deixar um pé dentro do Governo e outro fora. “O PSDB é essencial para as reformas”, afirmou Rodrigo Maia. Internamente, os tucanos decidiram que vão apoiar as alterações na Previdência, mas abdicaram de punir os que votarem contrariamente.
Após os encontros de domingo, Maia comprometeu-se em dar uma resposta no dia 7 se coloca a proposta de emenda constitucional em pauta a partir do dia 11 de dezembro ou não. A preocupação dele é que, se ficar para a última semana de trabalhos legislativos, entre os dias 18 e 22 dificilmente será possível votá-la. A razão é que nesse período a pela orçamentária terá de ser votada. “É a última chance de votarmos neste ano, se a gente conseguir os números. Mas não é a última tentativa porque esse tema vai entrar a qualquer momento. Se ele não entrar no início do ano que vem [no Congresso], é impossível que se faça um debate sério na próxima eleição sem discutir a reforma da Previdência”.
Há duas vertentes entre membros da base governista. Uma é a de arriscar todas as fichas e colocar em votação logo neste ano porque sabem que em no próximo ano dificilmente passará no Congresso. A outra, é de segurar a votação para fevereiro do ano que vem, mantendo a discussão viva no período de recesso parlamentar (entre 22 de dezembro e 1º de fevereiro). Quem defende essa segunda proposta acredita que se a reforma for derrotada nos votos agora, passará uma mensagem ruim para o mercado financeiro. E, se ela for rejeitada no próximo ano, poderão usar o argumento de que o ano eleitoral influenciou na votação dos parlamentares. Da forma que for, a reforma estará contaminada pela tentativa de sobrevivência de parte da classe política.
Fonte: El País