À véspera da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara, a “tropa de choque” do governo avaliava nesta segunda-feira, 23, ter garantidos 240 votos e trabalhava para conseguir um placar que chegue ao menos aos 263 obtidos no primeiro resultado. A estratégia do Palácio do Planalto, a exemplo da acusação por corrupção passiva, tem sido usar a liberação de emendas parlamentares e a nomeação de afilhados políticos em cargos no segundo e terceiro escalões do Executivo para conquistar mais votos.
Desde 14 de setembro, quando a Procuradoria-Geral da República apresentou a denúncia por organização criminosa e obstrução da Justiça contra Temer, o governo liberou quase R$ 829 milhões em emendas. Do valor total previsto para este ano, R$ 6,8 bilhões, o Planalto ainda tem cerca de R$ 1,6 bilhão para transferir aos parlamentares.
Os esforços dos articuladores políticos do governo estão concentrados no convencimento de um grupo de 30 a 40 deputados da base aliada que ameaçam votar contra o peemedebista.
O governo está com dificuldades mesmo dentro PMDB. Diferentemente da primeira votação, nem o partido do presidente deve fechar questão para obrigar seus deputados a votarem pela rejeição da denúncia. Partidos do Centrão, como o PR e PSD, também não vão adotar essa medida. O fechamento de questão pode implicar em punição a quem não seguir a orientação do partido.
‘Cumprimento’. Um placar maior desta vez é considerado essencial por aliados para que Temer mantenha a governabilidade e não perca o comando da agenda no Legislativo para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Embora aliado, o deputado tem se distanciado do Planalto e sinalizado que pretende adotar uma pauta mais independente.
“Já temos nove votos contra o presidente que são irrecuperáveis. Se vai ter mais votos ou não contra vai depender do cumprimento ou não da liberação (das emendas parlamentares). Se o governo não cumprir, pode ter problema”, afirmou o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA).
Líder do governo no Congresso, o deputado André Moura (PSC-SE) reconhece que o ritmo da liberação desses recursos, considerados essenciais para que os deputados façam obras em seus redutos, tem sido foco de reclamação de integrantes da base aliada. “Não são (deputados) contra o governo, eles só querem dinheiro para realizar uma determinada obra”, afirmou o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP).
Banco do Nordeste. O governo também opera com a distribuição de cargos. O Planalto prometeu ao deputado Ronaldo Carletto (PP-BA) nomear um aliado do parlamentar baiano para um posto no Banco do Nordeste. A expectativa é de que a nomeação saia até esta quarta-feira, 25, dia da votação. Em troca da nomeação, o deputado votaria a favor de Temer. Na primeira denúncia contra o presidente, Carletto não participou da votação.
A decisão do governo é retaliar os deputados contrários a Temer na votação da segunda denúncia. Os infiéis perderão cargos e não terão qualquer apoio nas eleições de 2018. A avaliação do Palácio do Planalto é que o placar de quarta-feira representará o mais importante teste de fidelidade da base e servirá para medir com quem o governo pode contar de agora em diante.
“Traidor é traidor e merece outro tratamento”, disse o deputado Carlos Marun (PMDB-RS), relator da CPI da JBS, integrante da chamada “tropa de choque” governista.
A maior incógnita da votação de quarta, para o Planalto, está na bancada do PSDB. Em 2 de agosto, na votação da primeira denúncia apresentada pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer, por corrupção passiva, os tucanos se dividiram. Na ocasião, 22 deputados do PSDB foram a favor do arquivamento da acusação, mas 21 se posicionaram pela abertura do processo no Supremo Tribunal Federal.
Agora, a aposta é de que o placar na bancada tucana será de 24 votos pró-Temer e 21 contra.
Fonte: Estadão