Com mais inscritos e medidas anti-Covid, Enem da pandemia sairá 25% mais caro
O desafio inédito de realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em meio a uma pandemia exigiu uma série de adaptações, diz Alexandre Moraes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do processo de avaliação nacional de estudantes do ensino médio. Com 600 mil inscritos a mais do que em 2019 e despesas inéditas de prevenção, o gasto total passou de R$ 550 milhões para R$ 682 milhões.
Lopes pontua, no entanto, que uma nova gráfica fará o serviço de impressão dos testes por “praticamente metade” do valor dos últimos anos. No ano passado, uma série de erros marcou a edição do Enem, um deles envolvendo a própria gráfica, que trocou cartões-resposta o que acarretou em confusão na atribuição das notas.
Este ano, as provas serão realizadas nos dias 17 e 24 de janeiro (versão impressa) e depois em 31 de janeiro e 7 de fevereiro (digital). Entre as novidades haverá 36% mais salas de aplicação, como medida central de distanciamento social — pessoas com comorbidade poderão pedir o uso de salas especiais até o dia 7 de janeiro pelo telefone 0800 616161. A seguir, Lopes dá mais detalhes sobre o Enem da Covid-19.
Por que o custo do Enem aumentou?
O aumento de R$ 550 milhões para R$ 682 milhões se deve aos cuidados contra a pandemia da Covid-19. Foram R$ 64 milhões para a a compra de álcool gel e máscaras, a limpeza dos locais de provas e outras medidas sanitárias. Mas, se por um lado foi preciso contratar mais pessoas para aplicar as versões impressa e digital do exame, fizemos uma nova licitação da gráfica que imprimirá as provas e o custo caiu praticamente pela metade. Conseguimos fazer o Enem da Covid-19 sem gastar o dobro.
Mas no ano passado, o MEC atribuiu o erro de correções de provas à gráfica. Quais medidas foram tomadas para evitar a repetição do problema este ano?
Pediremos para o aluno marcar a cor de seu gabarito. Essa era uma medida que tínhamos eliminado por conta da possibilidade da conferência eletrônica. É uma redundância, mas a retomaremos para não repetir o que ocorreu no ano passado.
Quais serão os cuidados específicos em relação à Covid-19?
Conversamos com todos os órgãos de governo, com o consórcio aplicador e com a Fiocruz para estabelecer as medidas. Todos os participantes usarão máscara durante a aplicação da prova, podendo tirá-las somente para a alimentação. Quem aplicar a prova também usará máscara. Uma higienização especial será feita antes e depois da aplicação da prova nas salas e reforçamos as atividades de limpeza nas áreas públicas, como banheiros. Outra mudança é que a identificação do aluno agora será feita do lado de fora da sala, não mais dentro. É importante dizer que o participante pode levar mais de uma máscara e poderá fazer a troca durante a prova.
E quais as medidas de distanciamento?
Todas as salas terão metade da capacidade de ocupação. E pessoas que pertencem a grupos de risco, como idosos, gestantes e lactantes ou com problema específico de saúde terão isolamento diferenciado: ficarão em salas com um quarto da capacidade.
O número de locais de aplicação então aumentou sensivelmente?
Sim. No ano passado foram 10.136. Este ano, são mais de 14.800. No ano passado foram 147 mil salas, agora serão mais de 200 mil. É importante também dizer que em 2019 foram 5,1 milhões de inscritos. Em 2020, foram 5,783 milhões. São quase 700 mil estudantes a mais, sendo 96 mil no digital. Isso também aumenta o custo.
Por que o aumento de inscritos?
Houve uma grande exposição do Enem, repercussão sobre a data das inscrições, o edital, as reclamações sobre a data de aplicação. O exame foi para as manchetes da imprensa e isso pode ter ajudado indiretamente a divulgá-lo. Outro fator foi o trabalho que fizemos com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para garantir a inscrição dos alunos das escolas públicas. Eles puderam fazer um trabalho com suas redes de ensino para aumentar o número de candidatos. Houve estados em que o total de inscritos dobrou em relação a 2019.
E inevitavelmente o Enem causa aglomeração, inclusive nas filas nos locais de aplicação…
O Inep está preparado para a aplicação de exames em tempos de Covid-19. A pandemia afetou a vida de todos, especialmente a dos estudantes. Acreditamos que, para combater as desigualdades,é preciso garantir a execução das políticas públicas. Uma delas é justamente o Enem. É preciso garantir essas políticas públicas que ajudam as pessoas que mais sofreram no seu aprendizado durante a pandemia. Por isso nunca cogitamos não fazer o Enem. O que fizemos desde o início foi nos preparar para um Enem em período de pandemia.
É natural uma redução na nota média dos estudantes este ano por conta da interrupção das aulas e do ensino à distância?
Vamos levantar informações para entender o impacto da pandemia nos alunos. Com isso, os nossos pesquisadores poderão gerar informações. O resultado da prova é muito importante, justamente, para f azer esse estudo. Poucos países terão isso.
Existe algum desafio adicional de logística para a distribuição e armazenamento das provas?
A capacitação dos aplicadores esse ano isso foi feita 100% digitalmente. No total, serão quase 500 mil pessoas trabalhando durante a aplicação do Enem. Não há diferença em relação à distribuição física das provas, É um trabalho feito pelos Correios, com excelência. Entregaremos 5,6 milhões de provas em 14 mil escolas na mesma hora, no Brasil inteiro.
No começo do mês, o MEC informou que ainda não havia finalizado o contrato para fazer o Enem digital. O problema foi resolvido?
Sim. Quem coordena a aplicação para o Enem impresso, o digital e o PPL (para pessoas privadas de liberdade) é o mesmo consórcio, formado pela Fundação Cesgranrio e a Fundação Getúlio Vargas. São as mesmas pessoas que vão corrigir. A contratação da aplicação tem que ser feita lá atrás. O que a gente deixou para agora é só o aditivo contratual, em relação à Covid e ao Enem Digital, e ele foi realizado.
Fonte: Extra