Cabisbaixo, caminhando lentamente, de boné azul, vestido numa camisa branca com aspecto de que já foi bastante usada e que não esconde um pouco de sua barriga ainda acentuada, além de calçado em um tênis branco e meias escuras, um homem aparece como se fosse uma sombra ao lado do diretor da Penitenciária Mista de Parnaíba Eduardo Ferreira, na porta da Sala da OAB, que fica no presídio. É José Viriato Correia Lima, ou simplesmente Correia Lima, com 62 anos de idade.

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Depois de mais de cinco anos ele resolve reaparecer e mostrar sua real situação a público. Ex-coronel da Polícia Militar, acusado, entre outras, de chefiar o crime organizado no Piauí na década de 90 e inicio dos anos 2000, ele demonstra sinais de que está debilitado. Doente (além de diabético, é cardiopata e sem um dos rins), não tem mais aquele aspecto de quem costuma “falar grosso”. Pelo contrário, praticamente implora para que alguém se sensibilize.

Correia Lima aceitou conceder uma entrevista exclusiva à equipe de reportagem de um portal de notícias de Teresina após uma negociação com a família e advogados do ex-coronel. O portal conseguiu autorização judicial para o feito histórico através da juíza da 1ª Vara de Execuções Penais de Parnaíba, Maria Ivani do Perpétuo Socorro de Vasconcellos. Nenhum veículo de comunicação do estado conseguiu, desde que Correia Lima foi preso, entrevistá-lo de maneira exclusiva. Ele agora quer demonstrar à sociedade qual a sua real situação. E desabafa: como perdeu a patente na Polícia Militar já há cinco anos, admite que hoje enfrenta problemas financeiros. O que compromete, segundo ele, até mesmo de ser medicado como deveria.

“O que eu mais quero é sair da prisão. Eu não tenho mais nada nessa vida. Perdi tudo, até minha mulher me deixou… Queria tanto ficar perto das minhas filhas, do meu neto…”, balbucia, não conseguindo completar a frase porque, emocionado, começa a chorar.

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PASSANDO POR DIFICULDADE FINANCEIRA

Natural da cidade de Iguatu, interior do Ceará, Correia Lima garante que hoje depende do que a mãe leva quando é dia de visita – às quartas e domingos. “Domingo agora (último dia 14 de dezembro) foi dia de visitação e não apareceu ninguém da minha família. Minha situação é precária. Eu perdi a minha patente e agora não tenho mais nada de renda. Se procurar, não vai achar um Real comigo… Eu passo por dificuldades. Minha mãe usa uns R$ 200 para eu pagar contas, pagar remédios… Eu não tenho mais nada. E você sabe, jornalista, que um homem sem nada não é ninguém. Eu perdi tudo que eu tinha”.

Casado e com três filhas, ele disse que a sua família se desestruturou por conta do fim do bom padrão de vida que tinham antes de ele perder a patente. “Minha mulher me deixou. Ela hoje saiu de Fortaleza e está morando no Rio de Janeiro. Eu vivia numa relação que não existe mais. Depois que perdi a patente, perdi tudo. Eu conversei com meu advogado, quero voltar a ter essa função na Polícia Militar do Piauí. Eu quero servir a sociedade. Com fé em Deus eu vou conseguir. Eu fui um bom delegado de Polícia. Pode sair perguntando. Outro dia a mulher de um detento me viu e disse que se eu não estivesse preso, estava era ajudando a acabar com essa violência de hoje em dia. Eu era respeitado. Até hoje tem policial, agente, que bate continência quando eu passo”.

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SOBRE AMEAÇAS A ROBERT RIOS E ARIMATEIA AZEVEDO

Erlande Mota, advogado de Correia Lima, foi quem primeiro teve acesso ao ex-coronel. Passou algumas orientações, conversou um pouco sobre o seu estado de saúde e no final ainda teve uma surpresa.

“O coronel Correia Lima é um homem enfraquecido. De fera indomável ele hoje não passa de um gatinho recolhido. Não faz mal a ninguém. Não estou dizendo que ele é um santo, mas pelo avançar da idade, pela condição de saúde dele, está na hora de ele sair, ir para sua casa. Tudo que ele mais quer é isso. Criaram uma história que ele assim que saísse da prisão iria atrás de fulano, sicrano, escolher matar um por um… Isso é mentira. Se ele fosse atrás de se vingar, ia ter que matar juiz, delegado, secretário… Absurdo! Tudo que ele quer é paz. Já pagou por mais de 15 anos e devia estar respondendo em liberdade”, afirmou Erlande.

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O coronel responde hoje a pelo menos 10 processos. Desses, três já o condenaram. Se forem somados os crimes e sentenças, Correia Lima pegaria no mínimo 90 anos de prisão.

E ele assina embaixo em tudo o que o advogado que o defende diz: “Eu quero mesmo sair e provar que não vou atrás de ninguém. Isso é história. Eu nunca disse que queria matar A, B ou C. Ora mais, se fosse por isso eu saí em 2009 e não fiz mal a ninguém. Passei seis meses só. Mas aí me colocaram aqui preso de novo. Estou nessa condição injustamente. Não tive tempo nem de defesa”.

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‘ESTOU PRESO POR CAUSA DO JUIZ DA 1ª VARA, ANTONIO NOLETO’

O ex-coronel, conta que o juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Teresina, Antonio Noleto, garantiu que não iria lhe prender, mas assim que chegou lá mudou de postura e deixou que saísse preso, situação que está hoje. “Eles queriam de qualquer jeito me prender, aí marcaram meu julgamento logo. O doutor Antônio Nôleto marcou meu julgamento, mas eu não havia cometido nada de errado. Ele chegou a dizer que não tinha como me prender. Ele citou até que meus companheiros também estavam soltos: Domingão tá (SIC) solto, Raimundo Xavier tá solto, Zé Correia tá solto, Tomé Xavier tá solto… Eu acreditei. Mas quando foi lá, na hora, o doutor Noleto fez foi decretar minha preventiva. Por isso eu digo que sou injustiçado. Se a população, as autoridades puderem me ajudar. Eu peço: quero ir para casa. Quero paz”, desabafa.

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Fonte: O olho
Edição: Portal Costa Norte