Conheço Paulo de Tarso Mendes de Sousa desde o ano de 1959, quando, contando ambos 12 anos de idade, ingressamos no curso ginasial do Ginásio Parnaibano – hoje Colégio Estadual Lima Rebelo -, concluído em 1962.
Avesso a igrejinhas e a elogios fáceis, Paulo de Tarso é um intelectual que granjeou respeito e notoriedade como administrador, jurista, professor, escritor e jornalista.
De sua produção no campo jurídico destaca-se o livro APONTAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL, obra desenvolvida sob as óticas jurídica, social e política e que, segundo o jurista e presidente da Academia Piauiense de Letras Nelson Nery Costa, “vai marcar o Direito no século XXI, pela precisão, acuidade e leveza na leitura”.
Como jornalista militou durante vários anos na imprensa baiana, cearense e piauiense, resultando dessa atividade o livro NEOLIBERALISMO, DESEMPREGO, EXCLUSÃO… – É ESTE O PAÍS QUE QUEREMOS? -, que enfeixa textos publicados em jornais de Salvador, Fortaleza e Teresina na década de 1990, marcada pela onda neoliberal e pela globalização da economia. Fiz o prefácio desse livro, a respeito do qual assinalei em determinado momento:
“Seja sob a forma de monarquia constitucional, seja sob a forma republicana, o chamado Estado neoliberal vem se convertendo no reino da fantasia, com cidadãos teoricamente livres (‘todos são iguais perante a lei’) e materialmente escravizados. Nesse modelo, conservam-se os privilégios das elites, quase sempre indiferentes aos dramáticos problemas da imensa maioria marginalizada, permitindo que o forte aniquile o fraco, enquanto a igualdade, a liberdade e a fraternidade se transformam em aspirações utópicas”.
Paulo de Tarso já produziu também textos de conotação metafísica, que tratam especialmente da morte, como se vê no formidável livro HISTÓRIAS DE MORTE…
O escritor lançará brevemente o livro em prosa e verso FLOR DO DESASSOSSEGO, que tive a honra de prefaciar e que se compõe de 69 partes, representadas por 45 textos em prosa poética caracterizada pela cadência das frases e pelos efeitos sonoros e por 24 em versos livres e rimados, que podem ser lidas do começo para o fim, do fim para o início, do meio para o fim ou para o começo… enfim caberá ao leitor eleger a ordem das páginas como lhe convier, como ocorre com o romance VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, no qual nos deparamos com verdadeira independência entre capítulos. Paulo de Tarso, por sua vez, ordenou caprichosamente os textos de seu livro segundo ordem alfabética dos títulos, excluída apenas a letra “Y”.
Nessa obra defrontamo-nos como componente básico o próprio “eu”, quer dizer, o seu fundamento é a forma como o espírito em suas manifestações de subjetividade – desejo carnal, devaneios, encontros e desencontros, possibilidades e impossibilidades, vazio existencial, sentimento de dor, de prazer, de morte, de solidão, de religiosidade e de eternidade – toma consciência de si mesmo no âmago deste fundamento.
O texto lírico nada mais é que uma forma de arte solitária de natureza confessional ou emotiva que fala menos à razão do que à imaginação ou à sensibilidade do leitor.
Texto lírico e amor caminham sempre lado a lado. E, sem dúvida, de todas as manifestações que brotam diretamente do coração presentes nesse livro sobressai o amor.
A musa inspiradora é uma mulher que o escritor conheceu efetivamente e com quem teve momentos de presença e de ausência, de aceitação e de rejeição, de prazer e de dor, de felicidade e de infelicidade. Faço tal afirmação porque o próprio autor me fez confidências a respeito. Não se trata, pois, de virgem intangível, inacessível, simples produto da imaginação fértil, tão em voga entre alguns românticos, particularmente entre representantes do ultra-romantismo. Daí porque se alternam e se completam nesse livro momentos de lirismo singelo e lirismo passional e elegíaco, lirismo de arrebatador desejo carnal e de ânsia de eternidade, com a mistura de amor e morte, alma e sexo, pureza e impureza. Da simbiose desses temas preferenciais resulta uma obra superior, adulta, madura, sem pieguice juvenil e acachapante mas fortemente impregnada dos elementos mais marcantes da existência – a fantasia e a realidade.
Na esteira da insatisfação existencial, são múltiplas as perspectivas que podem ser escolhidas para assinalar a evolução dos textos líricos que compõem esse livro, como a insignificância da vida marcada pelo apego à riqueza material, a solidão e a saudade geradoras do vazio não preenchido deixado pela mulher amada e a possibilidade e a impossibilidade. Em razão disso tudo é que o prosador-poeta desabafa
“(…) por isso, o céu me atrai bem mais que a terra. É que procuro o lugar onde se pescam pérolas.”
Mas a vida, com todos os seus percalços, é capaz de oferecer instantes de êxito e de êxtase, competindo ao artista registrá-los ou relembrá-los:
“ eu, sob os critérios de um pensamento másculo, a te amassar entre a parede e a espada, a obstinação e a impavidez em pessoa, posto que a origem é o alvo e o alvo és tu, meu alimento do amor… apraz-me teu bendito estepe.”
Possivelmente a síntese da essência poética desse livro de Paulo de Tarso Mendes de Sousa, na minha opinião a sua obra-prima, se traduza em duas linhas de Fernando Pessoa constantes do LIVRO DO DESASSOSSEGO, com o título de “Litania”:
“Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos – um poço fitando o céu”.
O título do livro foi sugerido por mim e por Elmar Carvalho. Sob a influência do LIVRO DO DESASSOSSEGO, de Fernando Pessoa, sugeri o título AMOR E DESASSOSSEGO. Por telefone Elmar Carvalho completou: – em deferência a FLORES DO MAL, de Baudelaire, acho que devemos (re)unir os dois grandes poetas, batizando a obra de Paulo de Tarso com o nome de FLOR DO DESASSOSSEGO.
Filho do coronel e ex-deputado estadual constituinte Antônio José de Sousa e de dona Altair Mendes de Andrade Rocha, Paulo de Tarso nasceu em Teresina-PI em 1947 e é formado em administração de empresas e em direito. Além de advogado militante, agropecuarista e professor de direito da UESPI e da FACID, exerceu cargos de direção em órgãos do governo, como CEPED, IAPSEB, Escola de Administração Pública de Parnaíba e Instituto de Previdência do Município de Parnaíba.
Por Alcenor Candeira