Vitor de Athayde Couto
– Eita, mas tu também, né, Mani? Só fala porcaria.
– Calma, Anaís. Não é o que você está pensando. Isso é científico. Não seja negacionista de cocô.
– O quê? Vai me dizer que…
– Sim, vou mesmo. Cocô é um assunto muito importante. Num lembra não?
– Do quê?
– Daquela piada do órgão mais importante do corpo humano? Todos os órgãos resolveram fazer uma assembleia geral para decidir qual é o mais importante. Mas não convidaram o forévis. O resto você pode imaginar.
– Lá vem tu com mais porcaria.
– Agora tou falando sério, miga. A ciência já domina a técnica do transplante de fezes.
– Tás brincando!
Mani respirou fundo e continuou:
– Muitas pessoas entendem tudo pelo avesso. Mania de limpeza, por exemplo. Quanto mais se limpa o ambiente, mais se produzem superbactérias. E quanto mais fortes os produtos de limpeza, mais super se tornam as superbactérias. Chega um momento em que nenhum antibiótico conhecido vai dar conta do ataque dessas super-heroínas. Isso representa um grande perigo para a humanidade, para a sobrevivência do homem na Terra.
Assustada, Anaís pergunta:
– E então? Qual é a solução?
– Ele, miga, ele!
– Ele quem?
– O cocô!
– O cocô?
– Sim, podiscrê, o cocô! Cê ó cê ô, co-cô!
– Haha, tás brincando!
– Não, miga. É sério.
– Como assim?
– Transplante, miga. Trans-plan-te!
– De cocô? – pergunta Anaís ainda descrente.
– Sim, claro, de cocô. E tem mais – Mani prossegue – o homem vai voltar à Lua. Vai buscar um saco de cocô que deixaram por lá, em 1969. Em seguida, os cientistas vão analisar como o cocô se comportou nesses últimos 53 anos.
– Pai amado!
– E quer saber mais? A maior exportadora de proteína animal do mundo já dispõe de tecnologia para reduzir arrotos e puns dos rebanhos bovinos, aliviando assim o efeito-estufa. Se as pessoas estudassem a história da Ásia, saberiam que os chineses, por exemplo, nunca desperdiçaram cocô humano.
– Tudo bem, tudo bem. Você não precisa dar detalhes agora, nosso lanche tá chegando. Mas, acredite, você me convenceu. Não tenho mais nenhuma dúvida de que… de que…
– De que o quê? – pergunta Mani.
– De que… cocô também é cultura, haha.