Empréstimos consignados contratados por aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS no Piauí somam R$ 2 bilhões. Os recursos são vinculados a 764 mil pedidos de empréstimos ativos no estado, que pertencem a 530 mil segurados. Ou seja, há milhares de pessoas com mais um empréstimo. Os dados são da superintendência regional do órgão no Piauí.
De acordo com William Machado, chefe do serviço de benefícios do INSS, os números demonstram a grande quantidade de recurso que os serviços consignados movimentam no estado. O INSS não comenta os números, uma vez que trata-se de uma relação pessoal entre os segurados do INSS e instituições financeiras.
William Machado afirma também que a legislação também permite a contratação de consignados a pessoas que recebem auxílio-doença, embora haja diferenciação nas regras concedidas a aposentados e pensionistas.
Ao todo, no Piauí, são cerca de 650 mil segurados, dentre os quais 530 podem fazer empréstimo consignado. Em 2017, por exemplo, os recursos de previdência injetados na economia local piauienses, através dos segurados do INSS alcançou o montante de R$ 7,68 bilhões.
75% dos consignados são feitos por quem ganha um salário mínimo e milhares possuem mais de um empréstimo
A crise econômica vivenciada pelos brasileiros, principalmente nos anos de 2015 e 2016, que atacou de forma severa a geração de emprego e renda e corroeu milhões de postos de trabalho, fez com que quem tivesse uma renda fixa, como é o caso de aposentados e pensionistas, optasse por através do crédito consignado garantir uma renda as famílias. A avaliação é do economista Fernando Galvão.
Este cenário ajuda a explicar as informações divulgadas pelo chefe do setor de benefícios do INSS. William Machado informa que do total de contratos ativos de empréstimo consignado, 75% pertencem a quem ganha um salário mínimo.
Fernando Galvão cita ainda que é preciso entender alguns pontos do momento econômico brasileiro. “O pagamento da previdência é considerado como uma renda de não trabalho, que é destinado a parcela da população. Com a crise que atacou os empregos, ainda hoje o nível de desemprego é na casa de 12,7%. Com desemprego alto, que reduz a renda disponível as pessoas, essa parcela que recebe aposentadoria e pensão acaba tendo que financiar o déficit gerado pelo desemprego, seja por consumo, para pagar dívidas”, pontua o economista, acrescentando que o consignado acaba se tornando uma das principais formas de saída porque tem juros menores que o cheque especial e o cartão de crédito, por exemplo.
No entanto, o economista ressalta que mesmo com juros baixos, os empréstimos consignados causam um vazamento de renda, uma vez que drena parte significativa do salário das pessoas e aumenta o endividamento. “Além disso, tem a pressão dos juros que se sobrepõe ao valor principal e pressiona o orçamento familiar”, argumenta Fernando Galvão.
Ainda segundo o economista, para sair do então quadro de ’cilada financeira’ o caminho é aumentar a renda ou cortar gastos, o que não é fácil, principalmente para o segmento que tem acesso a aposentadorias ou pensões do INSS. “Por isso que é muito comum fazer empréstimo para pagar empréstimo”, conclui.
Fonte: Jornal O Dia