Na quinta-feira, 11 de setembro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou algo inédito: pela primeira vez na história do Brasil, um ex-presidente foi condenado por tentativa de golpe de Estado. Jair Bolsonaro (PL) recebeu pena de 27 anos e 3 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, além de multa de 124 dias, com base em cinco crimes relacionados à subversão da ordem democrática.

Mas o que motivou esse desfecho judicial tão contundente? Acompanhe a linha do tempo que explica como o caso chegou a esse ponto.

1. A semente da crise eleitoral (2022)

Tudo começou ainda em 2022, após a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais. A partir dali, segundo investigações, foram colocadas em curso ações para impedir a transição democrática de poder.

Entre os marcos desse período estão a reunião ministerial de julho de 2022, quando Bolsonaro orientou seus ministros a questionarem o processo eleitoral, e a disseminação contínua de desinformação sobre as urnas eletrônicas, acompanhada de pressões sobre as Forças Armadas e o Judiciário.

2. Operação Tempus Veritatis (fevereiro de 2024)

Um dos pontos de virada foi a Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro de 2024. A Polícia Federal cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra militares, ex-ministros e assessores próximos ao ex-presidente, incluindo o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

As provas coletadas começaram a desenhar a narrativa de que havia um plano de subversão legal para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a vitória de Lula.

3. Delações e provas decisivas

A delação premiada de Mauro Cid trouxe elementos fundamentais para a acusação. Ele relatou pressões sobre autoridades da Defesa, discussões logísticas de resistência à transição e até rotas de fuga em caso de fracasso da tentativa de reversão eleitoral.

Essas informações foram cruzadas com reuniões ministeriais, comunicações entre militares e aliados civis e o planejamento de atos públicos de contestação, reforçando o conjunto probatório.

4. O julgamento no STF (setembro de 2025)

Em março de 2025, a Procuradoria-Geral da República apresentou formalmente denúncia contra Bolsonaro e outros sete réus. O processo foi aceito pela Primeira Turma do Supremo.

O julgamento começou em 2 de setembro e se estendeu até o dia 11. O relator, ministro Alexandre de Moraes, abriu o placar pela condenação. Na sequência, Flávio Dino e Cármen Lúcia acompanharam o voto, formando maioria. Cristiano Zanin também votou pela condenação.

A única divergência veio do ministro Luiz Fux, que defendia condenação parcial de alguns réus. Com quatro votos a um, a Turma decidiu pela condenação de Bolsonaro em todos os crimes imputados.

5. Crimes e pena

Bolsonaro foi condenado por:

  1. Organização criminosa armada

  2. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito

  3. Golpe de Estado

  4. Dano qualificado pela violência e ameaça grave

  5. Deterioração de patrimônio tombado

A pena fixada foi de 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, além de multa diária.

6. O que vem pela frente

A condenação não apenas representa um ponto final simbólico em um período de crise política, mas também abre um novo debate sobre anistia, futuro eleitoral e os limites da responsabilização de autoridades públicas.

Sem anistia, Bolsonaro só poderia disputar eleições novamente em 2062, quando teria 107 anos de idade.