O PMDB reunirá dirigentes nesta terça-feira (17) em um congresso em Brasília para discutir propostas de superação da crise econômica e alternativas a políticas do governo da petista Dilma Rousseff, do qual o partido é o principal sócio e hoje ocupa sete ministérios e a Vice-Presidência.
O fim da aliança com o PT, defendida por uma ala da legenda, está fora da pauta oficial – o encontro com essa finalidade foi adiado para março –, mas não deverão faltar ataques aos petistas, na avaliação de peemedebistas ouvidos pelo G1.
O foco do encontro será debater um documento divulgado pelo PMDB no último dia 29 de outubro que diverge das propostas do PT e questiona as medidas de ajuste fiscal do Executivo.
Intitulado “Uma ponte para o futuro”, o texto afirma que o desequilíbrio fiscal está na origem dos principais problemas do país e defende um “ajuste de caráter permanente”.
A expectativa inicial, porém, era que o encontro fosse um congresso deliberativo em que fossem decididas questões como o desembarque do governo federal.
No entanto, o evento se transformou em algo com peso político menor, mas que ainda assim será uma tentativa de se descolar do desgaste do Palácio do Planalto.
“Não podemos ser cúmplices de uma crise tão profunda que atormenta a sociedade brasileira”, afirma o ex-ministro Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos ligado ao PMDB, que promoverá o congresso.
“Não aceitamos a camisa de força que querem nos impor de transformar o ano de 2015 inexistente na vida do país”, completou o ex-ministro.
Embora reforce que o caráter do congresso é apresentar propostas ao país e não discutir a aliança com o PT, Moreira Franco reconhece que, “em algum momento, vai se discutir isso”.
“As pessoas estavam com medo de que o congresso [do partido] fosse para afirmar posição contrária ao governo. Não estamos nessa”, desconversa.
Líder do PMDB no Senado, o senador Eunício Oliveira (CE) é mais enfático e atribui ao momento “extremamente delicado” do país o adiamento da decisão sobre uma eventual mudança de posicionamento.
“O momento do país é extremamente delicado. Houve uma opção de não fazer um movimento de poder decisório, porque a fundação é de estudo técnico e proposições. Ela não tem poder deliberativo”, explica.
E continua: “O nosso raciocínio partidário é que esse não seria o momento adequado do anúncio de uma ruptura. Ninguém sabe, com essa crise toda, de que forma isso tudo evoluiria dentro do congresso. Se evoluiu, então, para essa coisa da fundação. É uma situação delicada, com o governo em baixa”, avalia o senador.
Ele não descarta, porém, que o assunto volte à pauta no ano que vem: “Há de se compreender que o PMDB não fez uma fusão com o Partido dos Trabalhadores. (…) Não é uma coisa definitiva. É um debate interessante.”
O deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) diz que o “espírito da base era transformar” a relação do PT, mas que, após a reforma ministerial, que ampliou o espaço do PMDB para o comando de sete pastas, a situação mudou.
“Tentaram adiar, tentaram cancelar e aí tiveram essa atitude de mudar de congresso do partido para congresso da fundação”, explica.
Para o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), favorável ao fim da aliança com o PT, ficou uma certa frustração.
“Como deputado que quer o rompimento com o PT, eu queria que fosse um congresso com a ruptura. Era um congresso e ficou uma convenção. Mas foi uma atitude de cautela para não colocar mais querosene”, justifica.
No entanto, ele destaca que, no congresso, os integrantes do partido vão ter “palanque livre” e “a crítica maior vai ser contra o governo e o PT”, apesar da recente ampliação do espaço do PMDB dentro do governo.
“A crítica vai ser bem mais ácida do que no ano passado e os ministérios não seguram isso. De cada 10 discursos, 12 vão ser contra o PT”, opina.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que responde a processo de cassação no Conselho de Ética da casa, deverá comparecer ao encontro, embora lideranças do partido prefiram que ele não participe a fim de evitar “desgaste”.
Fonte: G1