O ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, entregou à Procuradoria-Geral da República um anexo de 82 páginas nas quais ele diz que cerca de quarenta políticos receberam R$ 68 milhões pagos pelo setor que a empresa chama de Área de Operações Estruturadas, que logo ficou conhecido como
Estão na lista dos 40 políticos, cinco deputados federais e senadores piauienses, o deputado federal Heráclito Fortes (PSB), que tem o codinome “Boca mole”, dado pelo executivo da Odebrecht; o deputado federal Paes Landim (PTB), que tem o codinome “Decrépito”; a deputada federal Iracema Portella (PP); o senador Ciro Nogueira, que tem os codinomes “Cerrados” e “Piqui”; e o ex-senador e ex-governador Hugo Napoleão (PSD), que Cláudio Melo Filho lembra que é amigo de seu pai.
Entre eles estão o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha, o empresário Paulo Skaf, o então deputado Eduardo Cunha, o senador Romero Jucá e o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Ainda segundo a delação explosiva do lobista da Odebrecht, o presidente Michel Temer pediu “apoio financeiro” para as campanhas do PMDB em 2014 a Marcelo Odebrecht. Ele teria se comprometido com um pagamento de R$ 10 milhões.
Cláudio Melo Filho diz, em sua delação que, no exercício da minha atividade profissional, recebeu, por parte de alguns parlamentares com quem se relacionava e que tinha relacionamento institucional com a Companhia, solicitações de apoio financeiro em períodos próximos aos pleitos eleitorais. Além dos casos já narrados acima, ele listou um anexo com os pagamentos feitos pela empresa que foram realizados sem declaração à Justiça Eleitoral.
Esses pagamentos foram operacionalizados pela relação regional com os políticos e pela expectativa que se tinha de que, caso fossem eleitos, atendessem os pleitos da Odebrecht.
Trechos da deleção, nos quais cita os deputados federais e senadores piauienses.
“Deputado Paes Landim (PI) [“Decrépito”], pagamento no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Antigo parlamentar do Piauí, que sempre nutriu simpatia pela Odebrecht. Fez discursos citando a empresa de forma elogiosa no plenário do Congresso, além de discursos específicos em homenagem à memória de meu pai, fato que me deixou sensibilizado e agradecido. Acredito que sua postura nutria esperança de receber algum pagamento a pretexto de campanha eleitoral, fato que ocorreu. Por outro lado, o pagamento também tinha como objetivo gerar crédito para eventual necessidade futura. Paes Landim possui longa relação com a empresa estando já em seu oitavo mandato como Deputado Federal. Sua relação com a empresa vem desde o final da década de 1980 e eu continuei esse relacionamento. Por várias vezes tentou publicar a história da Odebrecht em livros que são editados pelo Congresso. Chegou a solicitar encontros com o fundador da Odebrecht, mas que não se concretizou. Em algumas oportunidades discursou sobre a Engenharia Brasileira e sempre citava a Odebrecht como exemplo. Chegou a me procurar para que participássemos da construção do aeroporto em Parnaíba (Piauí), mas agradeci e disse a ele não era uma obra adequada para o tamanho de nossos projetos. Paes Landim (PI) foi realizada doação eleitoral no valor total de R$ 80 mil.
“Heráclito Fortes (PI) [“Boca Mole”], pagamento no valor de R$ 200 mil. Político de influência, com histórico no PMDB de Ulysses Guimarães , tendo sido deputado Federal, senador da República e ex-prefeito de Teresina/PI, tinha a expectativa de que em eventual necessidade, pudéssemos usar o seu apoio em demanda dentro do Senado Federal. Exemplo disso foi quando ele era Senador e que pedi a ele que acompanhasse as dificuldades que passávamos com a perda de um funcionário nosso no Iraque, pois ele era membro da Comissão de Relações Exteriores. O trânsito deste parlamentar com o meio político agregou a mim uma melhor percepção dos “players” em Brasília. Considero Heráclito muito bem informado e tem leitura da história política que ajuda a qualquer RI que trabalha em Brasília. Em razão das fortes relações políticas que tem, Heráclito sempre ajudou na análise dos principais temas políticos. Esse acervo político e as suas fortes relações justificavam que fossem realizados pagamentos a pretexto de campanha.
“Hugo Napoleão (PI) [“Diplomata”], na valor de R$ 100 mil. Era amigo de meu pai, ambos piauienses, e foi governador do Estado do Piauí. Em razão da sua relação com meu pai, solicitou-me pagamento para a campanha de 2010. Apesar do pouco contato, considero uma pessoa de uma cultura impar e tem um escritório de advocacia constituído em Brasília. Chegou a me solicitar que o indicasse para a área jurídica, mas não tive oportunidade de realizar, contudo poderia ter sido feito, visto como trata seus temas jurídicos. Esse agente político teve relevância na história, tendo sido governador do Estado do Piauí e Ministro de Estado da Educação, da Cultura e de Comunicações; Heráclito Fortes (PI) foi realizada doação eleitoral no valor total de R$ 50 mil. [Recibos n. 040360600000PI000132; e 40360600000PI000112]. Apesar de ter perdido a eleição de 2010, possuo relação de amizade com o parlamentar e acreditava no seu sucesso nas eleições de 2014, o que se concretizou com a sua eleição para deputado Federal”.
“Hugo Napoleão. Foi realizada doação eleitoral no valor total de R$ 100.000,00 (cem mil reais). [Recibos n. 055000600000PI000025; 055000600000PI000023; e 055000600000PI000022]. Era amigo de meu pai, ambos piauienses, e foi governador do Estado do Piauí. Em razão da sua relação com meu pai, solicitou-me pagamento para a campanha de 2014, que foi aprovado no valor acima. Apesar do pouco contato, considero uma pessoa de uma cultura impar e tem um escritório de advocacia constituído em Brasília. Chegou a me solicitar que o indicasse para a área jurídica, mas não tive oportunidade de realizar, contudo poderia ter sido feito, visto como trata seus temas jurídicos. Esse agente político teve relevância na história, tendo sido governador do Estado do Piauí e ministro de Estado da Educação, da Cultura e de Comunicações.
“Por razão da minha atuação na companhia, mantive diversos contatos com o senador Ciro Nogueira e, nas ocasiões abaixo narradas, recebi pedidos de contribuição financeira. Recebi, no segundo semestre de 2010, pedido do parlamentar de contribuição financeira. Esse encontro provavelmente deve ter ocorrido em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Sugeri internamente a inclusão do nome do parlamentar para receber o valor de R$ 300 mil, e que foi aprovado. O pagamento foi operacionalizado pelo setor de operações estruturadas, com o uso dos codinomes “Helicóptero” e “Cerrado”. Fui o responsável por passar a senha para o senador. No segundo semestre de 2014, o Senador Ciro Nogueira solicitou a mim, em reunião provavelmente realizada em seu gabinete no Senado Federal, apoio para a campanha dos candidatos do PP. A solicitação foi por mim encaminhada a Benedicto Junior que aprovou o valor de R$ 1,3 milhão. Pedi a José Filho que procurasse o senador e viabilizasse o pagamento. O valor foi pago em setembro de 2014 através da área de operações estruturadas, como consta na planilha: Data Codinome Nome Valor 08/09/14 CERRADO Ciro Nogueira R$ 800 mil e Ciro Nogueira R$ 500 mil.
Em diversas oportunidades, tratei com o referido parlamentar a respeito de assuntos públicos que eram do interesse da companhia, tais como : pedido de audiência em nome de Andre Vital, Diretor Superintendente da Bahia, junto ao Ministro das Cidades à época, para tratar o Projeto de Mobilidade Urbana em Salvador; tema relacionado a energia no Nordeste, quando da discussão da queda do Veto presidencial que prorrogava os contratos de energia para o Nordeste (MP 656). Ele sequer foi à votação. Cobrei Ciro Nogueira sobre o assunto posteriormente e ele se desculpou dizendo não saber que a discussão ocorreria no dia em que ele esteve ausente; e marcação de audiências a pedido de executivos da empresa.
Ressalto que, em meados de setembro de 2014, recebi uma orientação de Marcelo Odebrecht para comunicar ao senador Ciro Nogueira que a companhia iria efetuar um pagamento, a princípio, para campanhas eleitorais do PP, partido presidido pelo mesmo, no valor de R$ 5 milhões. Fui à casa do Senador e passei a informação. No dia seguinte, acredito eu, Marcelo voltou a me ligar e pediu que eu transmitisse que a doação havia sido cancelada. Imediatamente liguei ao senador para comunicá-lo. Pude perceber que parecia que o mesmo já havia sido avisado, pois recebeu com tranquilidade.
Além disso, no ano de 2014, atendendo a pedido do parlamentar, recomendei internamente que a seguinte doação fosse realizada para a campanha de sua esposa, Iracema Portella, que concorria ao cargo de deputada federal. A doação foi efetuada no valor aproximada de R$ 500 mil”.
Fonte: Meio Norte