O progresso que desumaniza
Capitulo III
Florindo de Castro
O passado
Sentado na bike, com as mãos no guidon… As pernas tremendo, e o pensamento apenas na queda, como também nos arranhões que possivelmente levarei, desta que é a primeira vez que pedalarei minha bicicleta, sem o uso das famosas e cômodas “rodinhas”…
Enquanto isto, de pé e segurando a bicicleta para que eu não caia, encontra-se o meu irmão adotivo, Claudio, que mais velho do que eu, cerca de cinco anos, é forte o suficiente para me segurar, até que a bicicleta ganhe uma velocidade e eu, teoricamente, consiga continuar guiando, agora sem o seu auxilio.
O cenário: A rua onde moro, Florindo de Castro. O percurso: Desde a esquina que dá acesso a Avenida Capitão Claro até o fim do quarteirão, onde se localiza minha residência.
Apesar do medo, eu confio no meu irmão, pois afinal, ele tem substituído o meu ausente pai em bastante coisa, desde que eu tinha quatro anos e meus pais se separaram, Claudio é a figura masculina que tenho como exemplo, além de um grande amigo e parceiro de aventuras reais e inventadas.
Observo a rua, as pedras do calçamento, bem encaixadas e acomodadas. Olho para os lados, visualizando as casas dos vizinhos e amigos. Volto minha atenção para frente, avistando desta maneira toda a extensão da pequena e calorosa Florindo de Castro… É quando tomo um fôlego, crio coragem e aviso ao meu irmão que estou pronto!
A bicicleta então é empurrada, com rapidez, e por uns segundos, até que o Claudio solta a mão…
Os dias atuais
Passeio com meu cachorro, como de costume todas as noites. De mp4 no bolso e fones nos ouvidos, escutando Air Supply, enquanto caminho por alguns quarteirões da Chagas Rodrigues (avenida) sentido Farmácia Rodoviária.
Durante o caminho, percebo uma grande quantidade de motos e carros, a trafegar impacientes e acelerados, forçando os pedestres a um verdadeiro malabarismo, no momento de atravessar de um lado ao outro. A faixa de pedestres até existe, porém dificilmente é respeitada pelos motorizados que ditam o ritmo e as leis.
Enquanto contorno o quarteirão pela Avenida Capitão Claro e de encontro a Florindo de Castro, reflito sobre estes sombrios dias e estas ainda mais sombrias noites. De como a cidade cresceu, mas pouco aprendeu. Progrediu, mas pouco evoluiu. E o retrato disto é a Florindo de Castro, tomada quase que completamente por comércios, escolas, clínicas e escritórios, o que até a torna bastante movimentada durante o dia, (claro que, com o ônus de muitos acidentes), mas que se torna deserto, frio e escuro, quando da noite se veste. Ausente de pessoas nas portas de casa, de meninos e meninas aprendendo a andar de bicicleta ou até jogando bola…
O progresso trouxe o asfalto, que por sua vez, abriu brecha para o aumento e avanço das motos, dos carros e até de transportes maiores, pilotados em muitas das vezes, por motoristas irresponsáveis e arrogantes (desumanos), o que fez com que, gradativamente ao decorrer dos anos, as pessoas fossem abandonando as portas de casa, deixando ruas como a Florindo de Castro, durante a noite, apenas para os nostálgicos, os marginais, os bêbados e as malditas rasga- mortalhas…
Claucio Ciarlini Neto