Confiante em boa Copa do atacante, presidente interrompe pagamento do jogador e faz dívida crescer.
Confiante em boa Copa do atacante, presidente interrompe pagamento do jogador e faz dívida crescer.

Fred empurrou a bola de neve ladeira abaixo e provocou uma avalanche interna no Fluminense. Ao escancarar os problemas financeiros do clube após a vitória por 5 a 2 sobre o Corinthians, no último domingo, fazer críticas aos dirigentes e levantar dúvida sobre sua permanência, agravou a crise que ocorre desde o início de 2014, mas que ficou sob o tapete nas Laranjeiras enquanto o time tinha chances de se classificar para a Libertadores.

No domingo, Fred disse que o clube lhe deve 20 meses de direitos de imagem. Segundo o GloboEsporte.com apurou, a dívida chega a R$ 4 milhões e é referente a pagamentos que não foram feitos em 2013 e 2014. O camisa 9 recebe R$ 950 mil mensais (R$ 650 mil pagos pela patrocinadora). Os direitos de imagem estão nos R$ 300 mil de responsabilidade do Tricolor.

O Fluminense reconhece o débito com o capitão do time. São 19 meses de atraso, além de um saldo pendente de mais dois meses. O clube também tem valores a pagar para pelo menos outros cinco jogadores: Jean, Diguinho, Conca, Cícero e Walter. O somatório da dívida com eles é de pelo menos R$ 700 mil.

No caso de Fred, o problema se agravou com a Copa do Mundo. Antes de o Mundial começar, o presidente Peter Siemsen decidiu interromper o pagamento dos direitos de imagem do atacante. Com a expectativa de que Fred fosse um sucesso na Copa, o mandatário apostou em esperar a competição para rediscutir o assunto ou até uma ampliação de contrato.

Fred tinha a expectativa de renovação após a Copa. Desde o fim de 2013, pretendia ampliar o vínculo até o fim de 2018 e pedia um salário de R$ 1,5 milhão na composição entre clube e Unimed. Enxergava também a possibilidade de uma volta ao futebol europeu.

O problema é que o Fred da Copa, com apenas um gol em seis jogos, não foi o que o clube imaginou. Sem mercado em razão do desempenho individual e do fracasso da seleção brasileira, restou apenas a dívida. Terminada a Copa, Peter, Fred, o vice de futebol Mário Bittencourt e o diretor executivo Paulo Angioni, que acaba de deixar o clube, planejavam dissolver o saldo devedor de imagem até o fim do contrato atual do atleta, que termina em dezembro de 2015. Um acordo chegou a ser costurado, mas não foi colocado em prática.

O débito pode virar moeda de troca em caso de saída do atacante do clube. Dono de 20% dos direitos econômicos do camisa 9, o Tricolor não consegue quitá-lo e considera descontar o valor da parte que detém em uma futura negociação para repassar ao jogador. A Unimed, patrocinadora do clube, é dona dos outros 80%. O presidente da parceira, Celso Barros, estabelece € 5 milhões (cerca de R$ 15,1 milhões) como ponto de partida para negociar Fred, com boa possibilidade de redução, principalmente depois da Copa do Mundo. Foi por esse preço que a Unimed comprou a maior fatia dos direitos econômicos do camisa 9.

Para cobrar o valor devido pelo clube, Fred chegou a notificar extrajudicialmente a Unimed, apesar de a cooperativa de médicos estar em dia com suas obrigações. Isso porque no contrato entre as partes há uma cláusula que estabelece que, em casos como esse, a responsabilidade de sanar a dívida passa para a patrocinadora. O jogador, no entanto, não fez isso dentro do prazo de 60 dias preestabelecido. Foi a partir deste episódio que o abatimento da dívida do Fluminense com o atleta em uma futura negociação começou a ser cogitado.

Os salários de Fred e do grupo estão em dia, assim como a parte que é de responsabilidade da patrocinadora. A Unimed é responsável pelo pagamento de direitos de imagem de vários jogadores. Esses direitos correspondem de 50% a 80% do total do salário dos atletas. A fatia da folha salarial do futebol que cabe ao clube é de R$ 2,8 milhões por mês.

Aperto e tentativa de reorganização financeira

Em 2014, jogadores e funcionários chegaram a ficar dois meses sem receber salários. O clube conseguiu regularizar o quadro com a liberação de receitas que estavam penhoradas. Para tentar reorganizar as contas, o Fluminense aderiu ao chamado Refis da Crise, um programa de recuperação fiscal que permite o parcelamento de dívidas com a União. Paga mensalmente R$ 1 milhão no Refis e R$ 450 mil na Timemania. Também tenta equacionar ações trabalhistas e paga R$ 1 milhão mensal no Ato Trabalhista.

O desempenho do time em campo também interferiu no caixa do clube. Eliminado de forma precoce pelo América-RN na Copa do Brasil, o Fluminense deixou de faturar R$ 500 mil por não chegar sequer às oitavas de final da competição. Sem contar a receita com renda dos jogos das fases seguintes que o clube perdeu a chance de receber.

Fonte: GE