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A Febrageo (Federação Brasileira dos Geólogos) promete ir à Justiça para tentar reverter a venda da área de Carcará, no pré-sal, à norueguesa Statoil. A entidade questiona o valor da transação, de US$ 2,5 bilhões.

A operação foi anunciada pela Petrobras no dia 29 de julho, como parte de seu programa de venda de ativos para enfrentar a crise financeira -foi a primeira envolvendo reservas do pré-sal.

Metade do valor acordado depende ainda de medidas do governo para regulamentar a anexação de uma parte da jazida que está fora da área de concessão, em processo conhecido como unitização.

Se chegar aos US$ 2,5 bilhões, a Statoil terá pago algo entre US$ 2,91 e US$ 5,41 por barril, dependendo da estimativa de reservas -que varia entre 700 milhões e 1,3 bilhão de barris. Considerando a média de 1 bilhão, o valor é de US$ 3,78 por barril.

A Febrageo destaca que, em 2010, a Petrobras pagou US$ 8,51 por barril para extrair 5 bilhões de barris em seis áreas do pré-sal cedidas pelo governo no processo de capitalização da companhia.

“Pela experiência de geólogos e especialistas que já trabalharam com o pré-sal, a área de Carcará pode ter mais petróleo do que o anunciado”, disse o presidente da Febrageo, João César de Freitas.

Segundo ele, a entidade estuda estratégia para tentar reverter na Justiça a operação, que chama de “depredação do patrimônio dos brasileiros”.

A Febrageo congrega 18 associações profissionais de geólogos e os sindicatos da categoria em Minas Gerais e em São Paulo.

“A média internacional se situa entre US$ 5 e US$ 8 por barril em transações, mas em Carcará não são reservas provadas. Então, ainda há risco”, comenta o geólogo Pedro Zalán, ex-Petrobras, para quem é difícil definir um valor justo para o negócio.

Em 2011, quando vendeu sua participação de 20% no projeto para as brasileiras Queiroz Galvão Exploração e Produção e Barra Energia, a Shell recebeu US$ 350 milhões -ou US$ 1,75 por barril, considerando 1 bilhão de barris em reservas. A operação, porém, ocorreu antes das principais descobertas na área, realizadas em 2015.

A Petrobras rechaça a comparação com os campos da cessão onerosa, argumentando que, neste caso, as condições tributárias são mais favoráveis, já que não está prevista a cobrança de participação especial.

A empresa repete ainda os argumentos de que Carcará é uma área isolada e com maior pressão no reservatório, o que gera maiores custos logísticos e com equipamentos.

“O valor de venda de US$ 2,5 bilhões representa uma antecipação justa de uma receita futura para o caixa no presente”, conclui.

A Petrobras chegou a enfrentar liminares revertendo a venda da Gaspetro à Mitsui no ano passado, mas reverteu as decisões. Foi a primeira operação do plano de desinvestimento da estatal, no valor de US$ 700 milhões.

Investigação do Cade pede condenação da Petrobras por desconto na venda de gás.

Fonte: A Folha de São Paulo