O 1º Intercâmbio da Cooperação Sul – Sul em Agricultura Familiar – Brasil e Moçambique, promovido pelo Programa Semear Internacional, encerrou a primeira etapa, na quarta-feira (6), no Piauí. A comitiva moçambicana visita ainda as cidades de Petrolina (PE) e Cruz das Almas (BA). A delegação africana é formada por um representante do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), técnicos, secretários de Estado e gestores ligados ao Projeto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores de Maputo e Limpopo (Prosul), executado em Moçambique e apoiado pelo Fida, agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
Dentre os cinco estados brasileiros onde o fundo internacional atua, o Piauí foi escolhido para apresentar seis das nove experiências visitadas, nesse primeiro intercâmbio. Isso porque, de acordo com o Semear Internacional, é um estado que possui muitas experiências bem consolidadas e em setores sugeridos pelo grupo de Moçambique, como as áreas de acesso a mercados e serviços financeiros; e ainda atividades como apicultura, cajucultura, mandioca e carne vermelha; tecnologias de convivência com o Semiárido, irrigação, viveiros de mudas e palma forrageira. De segunda (4) a quarta-feira (6), foram visitadas a Casa Apis, Cocajupi, Comapi, Ascobetânia, Coovita e Caprinova, além das comunidades Carnaíba (Bela Vista do Piauí) e Tapuio (Queimada Nova).
De acordo com Lúcia Araújo, coordenadora executiva do projeto Viva o Semiárido (PVSA), executado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR) e cofinanciado pelo Fida, foi muito significativo o Piauí ter sido escolhido para sediar grande parte do evento internacional. “Ser referência para o Fida é muito importante, visto que ele desenvolve projetos em vários países por todo o mundo, mas escolheu primeiro o Brasil e, em seguida, o Piauí, para apresentar suas experiências. Em pouco menos de dois anos, saímos de uma avaliação negativa, mas em 2016 foi bem conceituado e, neste ano, melhor avaliado ainda chegando a conseguir a aprovação de um aditivo e já há a sinalização de um novo projeto também cofinanciado por este fundo internacional”, enfatizou a coordenadora.
Um ponto bastante explorado durante as visitas foi o cooperativismo. Francisca Nery, secretária da Ascobetânia e da Coovita falou à comitiva de Moçambique. “É sempre bom ouvir e falar. E o que pudemos absorver deles foi o empoderamento da mulher em seu país. E o que pudemos passar, neste encontro, foi que a união do grupo faz a força. Que por meio da união dos nossos produtores e de todas as pessoas que acreditam no associativismo, no cooperativismo, podemos ir muito mais além do que o trabalho feito individualmente. Caminhemos juntos, porque juntos somos mais. É assim que vamos atingir os nossos maiores objetivos”, defendeu Francisca Nery.
Para Daniel Ozias Mate, coordenador do Prosul, foi uma enorme satisfação estar no Piauí. “Aprendemos muita coisa. Vimos um movimento enorme e sólido por trilhar, mas que já está conquistando seu espaço. Quando falamos em desenvolvimento agrário, o grande desafio é produzir, mas é preciso produzir e colocar no mercado. Por meio de associações e a sua união em cooperativas estão conseguindo exportar para mercados muito exigentes, a exemplo dos Estados Unidos e Inglaterra. Portanto, a experiência da organização dos produtores é algo que levaremos para Moçambique. Na comunidade dos quilombolas, vimos algo muito particular que ainda precisamos fazer em Moçambique. A assinatura de um termo de colaboração, no qual é feita uma leitura de tudo que está previsto no plano de negócio, incluindo tudo o que o projeto vai fornecer. É um exemplo de transparência na transferência de recursos para as comunidades”, afirmou o coordenador do Prosul.
Durante o encerramento do intercâmbio, no Piauí, houve a assinatura de um termo de colaboração entre o Governo do Estado, por meio da SDR, aprovando a implantação do plano de negócio da comunidade quilombola Tapuio, município de Queimada Nova. O Viva o Semiárido vai beneficiar esta localidade aplicando R$ 137.800,50 para o fomento das atividades da ovinocaprinocultura, produção artesanal de sabonete, construção de centros de manejo, aquisição de equipamentos e assistência técnica pelo período de um ano. Serão 21 famílias remanescentes de quilombos contempladas com essa ação.
Maria Rosalina dos Santos é uma das beneficiárias pelo Viva o Semiárido da comunidade quilombola Tapuio. “O projeto vai contribuir muito para a geração de emprego e renda, mas também na melhoria de vida e no fortalecimento institucional. Este é o primeiro plano de negócio que temos aprovado e, tenho certeza, que ele vai garantir a permanência dos quilombolas na comunidade, principalmente, da nossa juventude”, finalizou a quilombola.
Fonte: CCom