Carlos Lupi ministro do trabalho (Foto: AE)

Um dia depois de se explicar à presidenta Dilma Rousseff, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, retornou hoje ao Congresso Nacional para um novo depoimento sobre as denúncias de supostos desvios que atingem a pasta. Empenhado principalmente em esclarecer o uso de um avião cedido por Adair Meira, controlador de ONGs detentoras de contratos com o ministério, Lupi negou ter caído em contradição sobre o episódio. Insistindo não ter nenhuma relação “pessoal” com o empresário, ele recorreu a notas taquigráficas do depoimento feito à Câmara na semana passada para dizer que foi mal interpretado.

“É muito difícil esse processo de memorização, principalmente quando a gente não tem intimidade com as pessoas”, afirmou Lupi, após negar ter afirmado que não mantém nenhum tipo de relação com Meira. “Não sou amigo dele, não tenho relação pessoal com ele”, emendou, ressaltando que isso não significa que jamais tenha se encontrado com ele.

Alegando fazer parte da correria da vida política entrar em carros, aviões e helicópteros, sem saber quem são os referidos proprietários, Lupi disse que sua viagem ao Maranhão foi organizada pelo seu ex-assessor Ezequiel Nascimento, a quem caberia, portanto, dar as explicações sobre o episódio. “Fui de carona com o Ezequiel. Como ele pagou, compete à companhia aérea e ao Ezequiel (prestar esclarecimentos). Não pedi aeronave, não solicitei. Quero saber do que estou sendo acusado. Vivi um linchamento público durante cinco dias.”

Cobrado pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que chegou a dizer que a fala o deixava “ridículo” perante a opinião pública, Lupi negou ter afirmado em algum momento que não usou o avião cedido por Meira. “Eu não menti. Não dei nenhuma resposta sobre o avião, porque esta pergunta não foi feita. Não existia esse fato”, afirmou o ministro, referindo-se ao fato de o episódio ter sido tratado somente em reportagem da revista Veja no fim de semana. “Eu não disse em nenhum momento que não andei na aeronave.”

Lupi pediu aos senadores que lhe garatam seu “direito constitucional” de presunção de inocência. “Não posso ser condenado sem nenhuma prova. E não posso ser condenado sem nenhuma acusação”, disse o ministro. “Eu não tenho o que esconder.”

Estratégia

O depoimento desta quinta-feira(17) marcou mais uma tentativa de Lupi de dissipar a crise, aberta no fim do mês passado, após o iG revelar a existência de um esquema de desvios no ministério baseado em contratos com ONGs, semelhante ao que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva.

As denúncias contra Lupi também serão tema de uma reunião extraordinária das bancadas do PDT na Câmara e no Senado e da Executiva Nacional do partido ainda hoje. Ontem, o próprio partido contrariou publicamente a versão dada pelo ministro do Trabalho para a notícia sobre o uso de uma aeronave cedida por Adair Meira, publicada no fim de semana pela revista Veja. “Queremos saber se ele deve ou não continuar à frente do ministério”, disse o presidente em exercício do PDT, deputado André Figueiredo (CE).

Fonte: IG