A única coisa que Alexandrino de Alencar, ex-diretor da Odebrecht Infraestrutura, e Keli Gomes da Silva, analfabeta e manicure, têm em comum, é o tempo de sentença: sete anos e meio.
Ela, por roubar quatro pacotes de fraldas de um supermercado, provocando um prejuízo cerca de R$ 150.
Ele é um dos 77 executivos da empreiteira que fechou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, por participar de esquema de corrupção na Petrobras. O pagamento de propina, apenas no Brasil, é de R$ 1,9 bilhão o valor é12,6 milhões de vezes maior que as fraldas levadas por Keli.
Romeia Pereira da Silva foi condenada a 34 anos de prisão por receptação (crime de adquirir ou ocultar produto de origem ilícita) por causa de nove toca-discos, encontrados em sua loja, chamada “Sucauto”.
Está presa há cerca de oito anos, cinco e meio a mais do que cumprirá em regime fechado Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira homônima que também fechou acordo de colaboração premiada na Lava Jato.
Tratamentos diferentes
A similaridade na condenação, apesar da disparidade dos crimes, pode ser explicada por diversos fatores, afirma a juíza e pesquisadora Fernanda Afonso de Almeida.
“Existe, por exemplo, uma distinção de tratamento das próprias leis, com elementos como a ’extinguibilidade’ da pena no caso de sonegação fiscal para aqueles que de- volvem o recurso”, afirma ela. “No caso do furto, mesmo que a pessoa devolva o objeto, a pena permanece.”
A juíza afirma ainda que há uma razão social na diferença de condenações de crimes tipicamente associados às classes altas, como a corrupção, e às classes baixas, como o roubo.
No caso dos executivos da Odebrecht, há ainda o fator da colaboração premiada, que reduz a pena.
Apesar disso, os delatores da empreiteira serão os que cumprirão maior tempo atrás das grades a sentença total de Marcelo Odebrecht é de dez anos, divididos igualmente entre regime fechado, domiciliar fechado, semiaberto e aberto.
Já Alexandrino de Alencar, condenado a sete anos e meio, já deve começar em regime domiciliar fechado. Keli, a manicure, passou um ano em regime fechado e hoje cumpre pena no semiaberto.
Fonte: PressReader