No dia 02 de fevereiro completa um ano do falecimento do meu pai, Dassis Cajubá. Confesso que tenho dificuldades para escrever um texto em sua homenagem, tamanha é a saudade que ainda dói em meu peito.
Meu avô paterno faleceu em 1955. Mais de cinquenta anos depois, meu pai me disse que pensava nele diariamente. Hoje compreendo melhor esse sentimento, pois lembrarei de meu pai todos os dias da minha vida. Vou sempre sentir saudade das suas sacadas geniais, sua alma gigante e destemida, que nunca envelheceu e se mantinha renovada a cada dia.
Sagaz na inteligência, meu pai tinha sempre uma solução para tudo, e isso o tornava um porto seguro. Avesso a exageros, mantinha-se sempre sereno. Gostava de usar a expressão “nem tanto, nem tão pouco” e dizia que seus problemas eram resolvidos “tudo na simetria”, ou seja, com equilíbrio e sem sectarismo.
Há poucos dias assisti a um vídeo, gravado por mim, em que ele, do alto de seus 93 anos, transmitia o seguinte conselho: “- não podemos deixar que uma notícia não boa, ou ruim, prevaleça no resto das vinte e quatro horas do dia! Porque há certas pessoas que tem uma hora de sacrifício, de mal-estar mental, e inutiliza as vinte e três que sobraram. Cuide das vinte e três e deixe que aquela se resolve”.
Recordo-me que no início de minha advocacia, agindo com os arroubos próprios da juventude, estive prestes a perder a calma numa audiência. Meu pai me chamou e disse que a profissão deve ser exercida com serenidade, e fundamentada em argumentos. Pediu, então, que eu lesse o livro “Eles os Juízes vistos por nós advogados”, de Piero Calamandrei, no qual o autor defende que “a nobre paixão do advogado deve ser sempre consciente e racionante” e alerta: “perder a cabeça no debate quase sempre significa levar o cliente a perder a causa”.
Ainda no início de minha profissão, fomos a uma audiência numa Comarca do Estado do Ceará. A parte adversa era uma empresa muito rica, com atuação em todo o país. Minutos antes da audiência, chegaram dois carros possantes, de luxo, com vidro fumê, de onde desceram os sócios, com seus advogados, todos eles engravatados, em paletós de grife e muito bem engomados. Ao notar meu ar de surpresa, meu pai olhou pra mim e disse: “ – Não se preocupe, meu filho, é só encadernação! Mais vale ter razão e argumentos”.
Enfim, meu pai está vivo, pois estará sempre em mim, nos ensinamentos, exemplos, conselhos e no amor sem limites que sempre vivenciei. Foi o melhor advogado que vi atuar e o maior amigo que tive, a quem rendo todas as homenagens por tudo o que construiu, pela maneira como educou os filhos, pela ilibada conduta profissional e por tudo o que me ensinou.
No livro “Personalidades atuantes da história de Parnaíba – Ontem e Hoje”, a professora Aldenora Mendes Moreira o descreveu como “uma das maiores expressões da advocacia piauiense, destacando-se pelo seu caráter, pela ética, pela inteligência e determinação profissional, com realizações marcantes, onde deixa um traço indelével de sua operosidade”.