Há pouco mais de um mês na presidência da República, desde que tomou posse, Michel Temer disse em entrevista nesta sexta-feira (7) que tem respeito e consideração pela ex-presidente Dilma Rousseff no plano pessoal. Já no plano institucional, ele admite “equívocos na relação”.
Ressaltou que, durante o processo do impeachment, pediu até que recolocassem quadros de Dilma nas paredes do Palácio do Planalto, inclusive no seu gabinete de vice-presidente, após eles terem sido retirados.
“No plano pessoal, todo respeito e consideração. No plano institucional, houve equívocos na relação. Num dado momento, lançamos um documento chamado ‘Uma Ponte para o Futuro’. Propusemos várias medidas para ajudar o governo”, comentou à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, por telefone.
“Até revelo que, mesmo assim, como assumi interinamente, os ministros nomeados retiraram os quadros da presidente das paredes, e eu determinei que restabelecessem todas as fotos enquanto não houvesse uma decisão definitiva. Mantive até no meu gabinete, até o final do processo de impedimento”, completou.
Segurança
A rádio abordou com o presidente a questão da segurança pública, que no Rio Grande do Sul enfrenta uma crise. Recentemente, recebeu apoio da Força Nacional. Temer destacou que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, vem traçando planos. “Podemos oferecer mais aos estados, os estudos caminham nessa direção”, afirmou.
Mais tarde, a mesma rádio também entrevistou o ministro. Sobre as estratégias de segurança, ele disse que será apresentado ao Congresso Nacional uma alteração na Lei Penal. “Bem simples”, definiu. “Presos por crimes graves, obrigatoriamente terão de cumprir metade da pena. Hoje é um sexto.” Moraes citou corrupção, tráfico de drogas e crimes praticados com violência ou grave ameaça.
O ministro comentou sobre outro trabalho que vem realizando. Diz que faz um mapeamento dos estados sobre presos provisórios, a fim de fazer um mutirão para tentar aumentar o número de vagas em presídios.
“Abre automaticamente vagas para os que realmente precisam ficar na penitenciária. E também possibilita que o ministério faça um planejamento real do número de vagas. Hoje a situação não permite um cronograma real porque há inúmeras pessoas que não deveriam seguir presas. Quem deve ficar preso é quem pratica crime grave”, completou.
Moraes lembrou que se encontrou com secretários de Segurança em Gramado, na serra gaúcha, na quinta-feira, onde tratou sobre planos para a área. Na reunião, diz que foi feito um ajuste fino sobre inteligência, policiamento preventivo e investigação.
PEC do teto de gastos
Na entrevista, Temer também foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos, aprovada na noite de quinta-feira (6) em comissão especial criada na Câmara. Foram rejeitadas as propostas de alterações ao texto apresentados pela oposição.
“Pode mandar a oposição ler o texto”, alfinetou Temer durante a resposta. Ele afirma que “saúde e educação continuarão a ser prestigiados”. Questionado sobre a possibilidade de um reflexo negativo nas classes menos favorecidas, que dependem mais de serviços públicos, o presidente garantiu que tributos não sofrerão aumento.
“Não se falou mais em CPMF. Nós não vamos pensar em tributo, naturalmente. E quanto aos mais pobres, estamos prestigiando o Bolsa Família, que é do governo anterior. O que é bom deve continuar, mas deve ser revalorizado”, destacou.
“O Minha Casa, Minha Vida, que também se destina às camadas naturalmente mais pobres, não só retomamos com a construção de muitas casas, como praticamos atos interessantes que não têm muita divulgação”, acrescentou, dizendo que famílias de filhos com anencefalia, uma doença causada pela má formação do cérebro do feto, não se submetem mais a sorteio. “Imediatamente vai receber a casa”, pontuou.
Conforme Temer, a “PEC dos gastos vai gerar investimento e emprego.”
Relação entre União e estados
Temer concedeu a entrevista um dia depois de um novo encontro com governadores em Brasília. Ele reiterou que a União também tem dificuldades, mas que faz um esforço para minimizar a situação financeira ruim dos estados.
Funcionários do Executivo no Rio Grande do Sul vêm recebendo salários parcelados desde 2015. Neste ano, a situação se repete pelo oitavo mês seguido.
O estado gaúcho foi um dos que conseguiu acordo com a União sobre o pagamento da dívida, que tem como uma de suas medidas a suspensão do pagamento das parcelas mensais até o fim de 2016. “Fica uma verba ao Rio Grande do Sul, para dar um respiro financeiro”, destacou.
“Vamos ver as medidas econômicas possíveis, e o que for possível, faremos. A União só será forte se os estados forem fortes”, resumiu, salientando que a “questão da previdência ajuda a quebrar os estados.” A reforma da previdência também foi tema abordado na reunião em Brasília.
Fonte: G1