A brasiliense Paula, 22, tirou dezembro para atingir dois objetivos financeiros. O primeiro é um emprego sazonal, vendendo roupas em uma loja de shopping. “É temporário. Logo mais arranjo coisa melhor”, diz ela, revelando a segunda fonte de renda com que se comprometeu no último mês do ano: entrou numa rede social que promete conectar jovens mulheres a homens maduros dispostos a lhe pagar uma mesada de mimos ou dinheiro vivo, em troca de atenção ou de encontros.

O site Meu Patrocínio estreou no Brasil dois meses atrás. À diferença de concorrentes como o Match.com e o Par Perfeito, nele o protagonista é o dinheiro: seu nicho é ligar o “sugar daddy” (definido como “homem rico pronto para mimar”) com “sugar babies” (mulheres “atraentes, inteligentes, ambiciosas e com metas claras”).

Na hora de fazer um perfil, o proponente a provedor deve declarar sua renda mensal, em campos que partem de R$ 10 mil ou menos e chegam a “Ok, sou muito rico”, que excede os R$ 150 mil.

Um dos campos do perfil, chamado “Expectativa do estilo de vida”, é considerado o mais importante. Nele, cabe ao homem declarar o quanto está disposto a desembolsar por mês com uma consorte ­a categoria mínima é para até R$ 2.000, a moderada fica entre R$ 6.000 e R$ 10 mil e a top de linha é para quem quer ver R$ 20 mil ou mais saírem da conta bancária todo mês.

jennifer lobo
Nascida nos EUA, Jennifer Lobo, 28, fundou a rede de relacionamentos brasileira Meu Patrocínio.

 Só eles pagam a assinatura, de R$ 169 por mês, enquanto para elas o serviço é grátis. O valor foi considerado baixo pela clientela de 6.000 cadastrados ­mil deles homens e 5.000 mulheres. A empresa afirma que a taxa deve ser reajustada para R$ 199. “Já é um tipo de triagem para saber se os homens são mesmo ‘sugar daddies'”, diz a relações­ públicas Jennifer Lobo, 28, fundadora do serviço.

Filha de brasileiros, foi a primeira geração da família criada nos EUA, no subúrbio de Orlando. “Não se fala muito abertamente de dinheiro no Brasil. Isso pode mudar.” Ela afirma não se envergonhar de falar sobre relacionamentos em que um lado espera mimos do outro. “Eu ganho meu próprio dinheiro, mas quero ser bem tratada.”

O site foi espelhado em uma história de sucesso, o Seeking Arrangement.com, que foi fundado nos EUA em 2006 e hoje conta com 2,6 milhões de postulantes a adoção financeira, entre mulheres e homens. E por que só eles podem ser provedores desse acordo? A desigualdade de gênero é reconhecida pela empresa, que promete lançar uma versão em que a mulher possa ser a provedora.

casal

A Folha testou o serviço por uma semana. Assim que o sujeito se cadastra de graça, pipocam várias mensagens de mulher. O homem só consegue ler as missivas após pagar a assinatura. Causou estranhamento o desfile de possíveis modelos que iam puxar papo com um senhor bem ­apessoado de quase 60 anos.

Em vez do rosto do repórter, o “sugar daddy” era Hrant Dink, um dos colunistas políticos mais famosos do Oriente Médio, morto em 2007, que tem mais de uma centena de fotos no Google. O plágio passou despercebido. Lobo afirma que a empresa diariamente faz buscas na internet para ver se as fotos não são de famosos ou “fakes”. Não parece funcionar: de um universo de 20 mulheres analisadas, 8 tinham fotos falsas.

Fonte: Folha Uol