O PASTOR SIRICA
Vitor de Athayde Couto
Os parnasianos são muito religiosos. Adoram o deus Falo e vivem coçando o saco em sua homenagem. De tanto coçar, de uma forma exagerada e explícita, um pregador-empreendedor da Igreja Fálica do Último Dia (IFUD), por nome pastor Zé Pedro Esteves, vulgo ZPE, ganhou um apelido, desses que pegam na hora: Sirica.
– Não posso nem desgostar desse apelido, disse o pastor.
– Por quê? – perguntei.
– ZPE é pior, lembra zona. E quando digo meu sobrenome, Esteves, logo me perguntam: e não está mais? E riem. Sinto-me humilhado.
– É verdade. Mas os políticos sempre procuram a IFUD.
– Pior do que isso, só esse nome infeliz que botaram na nossa igreja: IFUD. Vivem telefonando pra cá. Uns pedem votos. Outros pedem comida. E ainda perguntam se o delivery tá incluído no preço da pizza.
– Então mude o nome da igreja, Pr Sirica.
– Já foi mudado… pra pior.
– Pra pior? Por quê?
– Ora, o conselho dos bispos, que é o Conselho Neopentecostal do Povo e da Juventude, CNPJ, decidiu mudar para IFOD, pra evitar concorrência com os irmãos do sétimo dia.
– E o que significa IFOD?
– IFOD é… dexouvê… É… Igreja Fálica do Oitavo Dia. IFOD é mais infeliz ainda. Agora telefonam nos fins de semana, e dizem: Alô! Iaí?
– Iaí o quê? – pergunto.
– Iaí, cara? Cadê as mina?
– Ora, Pr Sirica, é só mudar de novo.
– Antes eu pudesse mudar. Agora não tem mais jeito.
– E por quê?
– Porque já está na rede.
– Na internet?
– Também. Mas a nossa rede é uma reunião de muitas igrejas que constituem as IF. Ou as IFs, como se costuma escrever por aí, em parnasianês.
– Então, IF significa o conjunto das Igrejas Fálicas?
– Isso mesmo. O pior é que eu vou ter que conviver com isso pelo resto da vida.
– Sinto muito, eu disse, tentando consolar o Pr Sirica.
Nas datas festivas das IF, os fiéis não só coçam, mas se auto puxam o saco de si mesmos. Fazem gestos que os adolescentes parnasianos chamam de self balls pulling, tradicional modalidade esportiva oriunda da antiga Falocracia. Idem para o prefeito tranca-ruas, que sempre manda fechar os acessos às ruas das proximidades de um evento, por mais insignificante, desde que seja favorável, desde que votem nele na próxima eleição.
Na mitologia afro-brasileira, quem tranca as ruas é um Exu, ou alguém possuído pelo orixá. Se trancar a encruzilhada de duas grandes avenidas, aí é santo forte sendo compensado por algum trabalho feito de encomenda. Daqueles que têm até matança de bode pelo meio. Trabalho pesado.
(próxima crônica: “MAIS UMA IGREJA”)
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Escute o texto com a narração do próprio autor: