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HAVANA — Pela primeira vez um Papa pisou em uma Cuba que, após mais de 50 anos de rompimento, retoma passo a passo as relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos. O Pontífice veio veio direto de Roma e seu avião aterrissou às 15h50m (hora local) no Aeroporto José Martí, em Havana. Ele foi recebido pelo presidente Raúl Castro e bispos cubanos, entre eles o arcebispo da capital, cardeal Jaime Ortega. Em seu primeiro discurso no país, Francisco pediu que Cuba e Estados Unidos sejam exemplos de reconciliação para o mundo, além de defender o exercício da liberdade.

– Hoje renovamos os laços de cooperação e amizade, para que a Igreja possa continuar a apoiar e incentivar o povo cubano em suas esperanças e preocupações, com a liberdade, os meios e o espaço necessários para trazer as palavras do reino de Deus às periferias da sociedade – disse o Papa em discurso ainda no aeroporto.

Ele também pediu que Cuba e os Estados Unidos deem um exemplo para o mundo, ao persistir com sua aproximação diplomática.

– Há alguns meses, temos testemunhado um evento que nos enche de esperança: o processo de normalizar relações – afirmou. – Peço que líderes políticos perseverem neste caminho… como um exemplo de reconciliação ao resto do mundo.

Antes dele, apenas João Paulo II, em 1998, e Bento XVI, 2012, estiveram solo cubano, que ainda estava sob embargo americano, em um dos últimos resquícios da Guerra Fria no planeta.

Mais do que isso, Francisco é um dos principais responsáveis pela reaproximação entre os governos dos dois países, ao se tornar o principal interlocutor entre os presidentes Barack Obama e Raúl Castro. Durante 18 meses, em encontros secretos no Vaticano e no Canadá, representantes das duas nações maturaram a reaproximação, anunciada em 17 de dezembro do ano passado, uma quarta-feira, em discursos simultâneos realizados pelos dois mandatários.

Se a normalização ainda divide cubanos, e ainda existe um clima de desconfiança do quanto o acercamento resultará em melhorias práticas na vida do povo, sem contar o fato de que os dissidentes da ilha não estão na agenda desta viagem do Pontífice, o papel desempenhado por Francisco o transformou numa espécie de ícone celebrado pela parcela da população esperançosa de que a aproximação com os EUA traga benefícios.

Com a chegada a Havana, o Papa inicia uma jornada de oito dias, sendo três em Cuba e o restante nos Estados Unidos, onde avaliará os benefícios e as complexidades da crescente aproximação diplomática entre os rivais da Guerra Fria que ele ajudou a promover.

Depois de se encontrar com as autoridades locais ao desembarcar em Havana, crianças cubanas entregaram um buquê de flores ao Papa, que conversou rapidamente com elas. No terraço do aeroporto, centenas de cubanos acenavam para ele aos gritos de “Cristo vive, Cristo vive”.

A banda presente no local tocou “La Bayamesa”, o hino nacional de Cuba, enquanto se disparava uma salva de palmas em homenagem a Francisco.

– Santidade (…), estamos muito honrados com sua visita – disse Raúl Castro em seu discurso de boas-vindas, acompanhado vários membros da cúpula do governo cubano.

Muitos daqueles que se preparavam para cumprimentar Francisco, após sua chegada de um voo de quase 12 horas de Roma, carregavam cartazes com os escritos: “Missionário da misericórdia, bem-vindo a Cuba!”

Fonte: O Globo