Eleito em 2011 pelos leitores da revista Alfa como Homem do Ano, superando nomes como Luciano Huck, Romário, Neymar e Anderson Silva, o professor da cidade de Cocal dos Alves, Antônio Amaral, é indiscutivelmente o nome mais indicado para comentar quando o assunto é educação de qualidade.
Filho de pais analfabetos, ele conseguiu se superar através da educação e hoje é referência e exemplo para os jovens que hoje são seus alunos. O seu projeto vai muito além de conseguir bons resultados nas Olimpíadas de Matemática, Exame do Ensino Médio, ou outras competições. O grande sonho do professor é ver a vida das crianças e jovens da cidade mudar, e fazer com que levem esta realização para dentro de casa.
Hoje focado apenas no Ensino Médio, o professor fica feliz com os benefícios que a cidade já conseguiu graças aos esforços dos próprios alunos e do corpo docente. “Temos uma escola com boa estrutura, em tempo integral, que acredito ser o sonho de todo professor, um novo prédio, com salas climatizadas, reforma nos banheiros, e algo que é muito difícil de se conseguir, que é a autonomia para a gestão dos recursos. Felizmente temos reconhecimento do nosso projeto, e sempre somos bem recebidos, isso é inegável”, diz o professor.
‘ADMINISTRAÇÃO NÃO CRESCEU’
Porém, a resistência da administração municipal, vem pondo em risco a própria continuidade de parte deste projeto. “Você vê que a administração pública não cresceu conforme a educação cresceu, pensando nisso como algo que pode ajudar no desenvolvimento do município, e acaba que as escolas são geridas de forma a não dá prioridade, sendo assim não há como ter autonomia dos recursos”, disse o professor, lamentando a existência de uma despreocupação com a escola como ambiente de melhoria e desenvolvimento para o próprio município.
Professor lamenta que “administração não cresceu como a educação”
“É um município que tem dificuldade em melhorar a taxa de distorção Idade/Série, que tem um alto índice de repetência e um grande problema na passagem dos alunos do Ensino Fundamenta 1 para o Ensino Fundamental 2. A educação rural não consegue preparar os seus alunos bem para o Ensino Fundamental 2, e com falhas nesta transição, a taxa de reprovação ou de evasão acaba sendo considerada alta”, detalha o professor.
UNINDO FORÇAS EM PROL DOS ESTUDANTES
Antônio Amaral comenta sobre o projeto que pretende unir os poderes municipal e estadual em prol da melhoria no projeto educacional do município. “Nós professores, temos um sonho que é conseguir contribuir para a resolução destes problemas, pensando nisso, nós fomos até o governo e pedimos apoio para dividir essa problemática com o município, no sentido de fazer com que uma escola, que é do Estado e com grandes adaptações e uma estrutura gigantesca, pudesse também receber alunos da rede municipal, para tentar solucionar parte dos problemas que o município tem”.
PREFEITURA ‘DIFICULTA’ COOPERAÇÃO A PROJETO
Porém, temendo a perda de recursos, a prefeitura de Cocal dos Alves está resistente em aderir a este projeto. “A princípio essa não é uma ideia bem aceita pelo poder público municipal, mas nós estamos insistindo, já que a nível estadual, isso é considerado uma excelente ideia, porque eles sabem do trabalho que nós já estamos realizando a algum tempo e isso pode até mesmo virar um modelo para os outros municípios, então, o Estado acolhe muito bem essa ideia, já o município de Cocal dos Alves tem uma resistência, com algumas razões, tipo, a dificuldade com o orçamento, porque nessas condições, vai perder alunos, mas não perderia tanto, pois apenas uma parte iria para a escola do Estado. O município não aceita a ideia de ter essa distribuição do recurso com o Estado.”
Projeto pretende unir esforços da administração estadual e municipal, mas há resistência nesta segunda parte
ESCOLA DE ALUNOS ‘MODELO’, E DE ESTRUTURA ‘ZERO’
Um dos relatos sobre o descaso com a educação pública é feito sobre a escola Teotônio Ferreira, que tem a melhor nota na Prova Brasil de Matemática em todo o país e uma das 10 melhores do Brasil em Língua Portuguesa. “isso é um resultado de seus alunos e de um trabalho forte dos professores, mas se for ver, é uma escola que não oferece melhores condições para os alunos, as salas de aulas são pouco arejadas e enormemente quentes, e que isso é algo que não custaria muito para o município, uma vez que há o empenho muito grande da parte dos alunos para contribuir, para alavancar os indicadores de qualidade no município, porque também não cuidar deles, porque não melhorar o transporte escolar, porque não melhorar a merenda, que é uma merenda escolar ainda é pensada como há 10 anos atrás, baseada de sopa, de conservantes, porque não melhorar tudo isso, já que os alunos são merecedores disso, porque não oferecer um fardamento adequado, porque não pensa em melhorar a estrutura, dando mais opções para o lazer, a quadra que o município construiu não tem capacidade de receber os alunos durante o dia, porque a quadra é aberta e só agora, o próprio governo foi quem se interessou em fazer a cobertura, entre outras coisas”.
Escola Teotônio Ferreira, cujos alunos são considerados exemplo, também é exemplo, mas de abandono e descaso com educação
Mas mesmo com as dificuldades encontradas, o professor afirmou que vai continuar com seu trabalho e seu projeto, que consiste em melhorar a educação de seu município. “São coisas como essas que nós percebemos que não existe interesse do município e que uma vez o Estado, dando essa condição para nós, não tem nada de ruim pensar em aceitar essa ajuda. É um município que está como referência pela qualidade na educação, mas se pensa, no entanto, que isso tudo vem de uma grande administração, de grandes projetos e quando na verdade, não é, o esforço é único dos alunos e professores, só isso”, finalizou.
Fonte: 180 graus