A mobilidade religiosa também pode se dar coletivamente. A História menciona escravos, guerreiros vencidos e sobreviventes de guerras forçados a aderir à religião do vencedor. Mas há exceções, quando o vencedor pratica uma religião politeísta, como no Império Romano. Nesse caso, o vencedor aceita novos deuses (dos povos vencidos) e os agrega ao seu panteão.
Os antigos politeístas já adotavam e batizavam os mesmos deuses com nomes diferentes, preservando a sua narrativa mitológica. O exemplo mais conhecido são os deuses gregos batizados com nomes romanos. Portanto, o sincretismo não é uma invenção colonial do novo mundo, motivada exclusivamente pelas perseguições religiosas que ilustram livros didáticos.
Debruçada sobre a mesa, Ifé não consegue vencer o sono e sonha com novas revelações. No seu grupo de estudos, a melhor aluna, a quem os colegas dão o apelido de “Ecumênica”, tem muita experiência, pois já aderiu a várias religiões. Sendo muito namoradeira, cada parceiro tinha uma religião diferente. Assim ela foi saltando de uma religião a outra, como quem muda de namorado.
Por ter participado ativamente de vários cultos diferentes, a jovem “Ecumênica” acumulou um notável conhecimento que extrapola leituras e argumentações. A sua verdade está baseada sobretudo nos fatos reais que a vida lhe proporcionou. Como na velha piada do cachorro, ela entra em várias igrejas porque encontra a porta aberta. De fato, existem pessoas assim. Nunca lhes faltam namorados. Para elas, as portas estão sempre abertas.
Toda religião precisa ter seguidores. Nas entrevistas, Ifé identificou seguidores e líderes religiosos que transitam simultaneamente (ao mesmo tempo) entre diferentes religiões, modificando algumas de suas regras. Daí, basta dar um passo e surge uma nova seita que, eventualmente, pode vir a configurar uma futura religião. Mas, para que servem as religiões? – questiona ifé.
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