Encarnação (Selma Egrei) vai tentar se matar em “Velho Chico”. A matriarca dos Sá Ribeiro ouve o apito do Gaiola Encantado e vai até a beira do rio ver a embarcação. Encarnação vê Inácio e Martim (Lee Taylor) a bordo e se joga no rio para entrar. “Ele veio… o Encantado veio me buscar! Veio me levar para teu lado, Inácio! Finalmente, meu Deus, finalmente vou descansar dessa vida!”, diz ela, emocionada.
Encarnação aponta em frente ao antigo cais a tempo de ouvir soar o último apito do Gaiola e ver o Encantado dar partida, fazendo as pás afastarem o barco lentamente do cais. Desesperada ela aperta o passo, tropicando em seu desespero. “Por Deus não me deixe que esse barco saia! Não sem mim! Não posso ficar aqui… Não presa nesse inferno de vida! Espera!”, grita ela. Encarnação pisa nas tábuas bambas do velho cais, lutando para manter o equilíbrio. O Gaiola segue, indiferente ao seu desespero. “Volta! Não ouse me deixar aqui! Volte agora mesmo! Eu não aguento mais essa solidão! Não aguento mais viver! Me leve embora… me leva daqui!”, chora.
Em um ato desesperado entra no rio e, se agarrando como pode a amurada do navio, tenta embarcar, ou morrer tentando. Encarnação vê o Gaiola se afastar e se atira de mortalha e tudo na tentativa desesperada de embarcar. A água começa a pesar sua mortalha, puxando seu corpo rio abaixo e Encarnação não demora a afundar, se segurando como consegue na amurada e no que encontra pela frente, imergindo e emergindo, se debatendo para tentar embarcar no navio.
Debaixo da lâmina d’água , Encarnação vem perdendo a luta contra as águas caudalosas do rio. Quando perde a mão do navio, ela sente a mão de Inácio tocar a sua e vê o menino na amurada do Gaiola lhe estendendo a mão. Ela estica sua mão na direção da do menino, tirando forças para subir e respirar outra vez. “Inácio… meu filho… te encontrei, meu filho… me leva… me leva embora dessa vida!”, chora. Enquanto fala sente a mão do filho escorregar da sua, e é arrastada rio abaixo outra vez. Inácio estica as mãos até ela, mas seus dedos curtos não a alcançam mais. A distância entre os braços cresce, ela perde Inácio de vista, já sem esperanças. E tomada por este instante de devaneio, tem a certeza de ver a figura de Martim surgir na amurada. Encara o rosto plácido do neto, sente o tempo parar. Murmura. “Não pode ser… Martim… Me leva, meu filho… me leva junto de você!”, pede.
Encarnação tenta subir, mas sente o corpo arrastar para o fundo do rio e tudo turvamente desaparecer de sua vista. Quando a morte lhe parece certa, Miguel (Gabriel Leone) afunda e a traz no colo de volta a superfície com vida. Ela olha ao redor e não vê Gaiola, Inácio ou Martim. “Cadê ele? Cadê o Encantado? Ele veio me buscar… ele veio! Eu… eu tenho que ir!”, se desespera. “Não tem nada aqui, bisa… é coisa da sua cabeça…”, fala o jovem. Ela luta contra o neto, já tomada por um insano devaneio: “Não é! Me deixe ir… eu preciso ir embora… eu… eu não posso ficar… preciso ir!”.
Martim, realmente, vai aparecer num barco, como se não tivesse ferido. Ele olha o sol no horizonte. Liga a câmera para clicar as belezas que avista. Tira fotos do rio. “Como é bonito isso, meu Deus! É tanta beleza no mundo que nossos olhos às vezes esquecem até de olhar!”, fala ele, admirado. Martim mira no visor a belas imagens. Seu sorriso só desaparece quando vê as fotos de Carlos recebendo a maleta de dinheiro. “O mundo é bonito, mas cheio de gente podre! Você vai pagar por isso, Carlos Eduardo… por isso e por todo o resto!”, diz ele. Seu semblante está quase tomado por vingança quando uma das crianças faz pose e ele fotografa. O público vai ficar na dúvida se Martim morreu mesmo ou não, e se Encarnação teve um surto ou viu o Gaiola Encantado.
Fonte: Extra