Enquanto a maior parte dos moradores de 406 cidades do Brasil acessa a internet com uma velocidade inferior à oferecida na Líbia – um país em conflito –, a maioria dos habitantes de outros 456 municípios navega na web com velocidade similar à de países como Finlândia, Suíça e Japão.
É o que mostra um levantamento feito pelo G1.com base nos dados mais recentes deste ano da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
A velocidade média da internet no Brasil, que completa 20 anos neste mês, gira em torno de 3 Mbps, o que faz o país ocupar a 89ª taxa de download mais rápida do mundo, atrás de Iraque, Kwait e Sri Lanka, segundo o último relatório da Akamai, empresa de alcance global e referência na área. A Coreia do Sul, em primeiro lugar no ranking formado por quase 150 países, tem uma velocidade média de 22,2 Mbps.
A média do Brasil esconde uma disparidade ainda maior entre os municípios. Como as empresas são obrigadas a informar à Anatel a faixa de velocidade de todos os pontos de acesso fixo no país, é possível analisar a situação de cada cidade.
São cinco tipos de faixa de classificação (0 a 512 Kbps, 512 Kbps a 2 Mbps, 2 Mbps a 12 Mbps, 12 Mbps a 34 Mbps e acima de 34 Mbps). São Paulo, por exemplo, tem 3,1 milhões de pontos. A maioria deles (47%) se concentra na faixa de 2 a 12 Mbps.
Como foi feito o mapeamento?
Com base na faixa predominante de velocidade de cada cidade, o G1 elaborou um mapa. Ele mostra que em 406 cidades o maior percentual das conexões está na faixa que vai até 512 Kbps. Parte dos municípios está localizada na região Norte e no interior dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Como base de comparação, a Líbia, lanterna do ranking mundial, tem uma taxa média de 700 Kbps.
O diretor de operações da Akamai, Jonas Silva, diz que essa situação reflete a história do país. “Toda a infraestrutura da internet está desenvolvida mais ou menos da forma como o Brasil foi colonizado. As cidades costeiras têm mais habitantes, tiveram um desenvolvimento primário melhor que o interior do Brasil. Por isso, as velocidades nesses locais são bastante altas”, diz.
Nas cidades do Sul, ele cita o fato de estarem próximas da fronteira e serem mais rurais como empecilho. O diretor da Akamai coloca o tamanho dos municípios como agravante. “Se a cidade tem mais de 1 milhão de habitantes, tem provedor de acesso que não acaba mais. Pode escolher o provedor A, B ou C. À medida que se entra para as cidades de 800 mil, já começa a diminuir a quantidade de provedores. Nas cidades menores, a oferta é mais baixa.”
Na outra ponta da velocidade da web, estão 456 cidades onde a maioria dos moradores conta com uma velocidade de 12 Mbps a 34 Mbps; 95% delas estão no estado de São Paulo. Melhor que elas, só Vinhedo (SP), a única cidade do país que tem como faixa predominante de acesso mais de 34 Mbps.
Alexander Castro, diretor de banda larga do Sinditelebrasil, a associação das teleoperadoras, diz que a maior concentração de renda favoreceu o estado de São Paulo: “Ao ver que havia mercado receptivo a serviços mais caros, as operadoras investiram em implantação de fibra ótica na região. A concorrência entre elas acabou sendo maior, o que tem tornado a oferta de serviços mais ampla e menos dispendiosa.”
“A prioridade das operadoras era buscar regiões com alto IDH, alta demanda, e isso levou a uma situação que a densidade de acesso ficou maior no Sudeste”, afirma Castro.
De acordo com o levantamento do G1, 3.971 cidades têm como faixa predominante de velocidade aquela que vai de 512 Kbps a 2 Mbps. Há ainda 733 cidades cuja maioria da população acessa a internet com uma velocidade que varia de 2 Mbps a 12 Mbps. Só três municípios (Balneário Rincão-SC, Mojuí dos Campos-PA e Pinto Bandeira-RS) não contam com nenhum ponto de acesso de banda larga fixa no país.
Carência de internet no Norte
O diretor da Sinditelebrasil e o diretor da Akamai concordam que a principal dificuldade hoje está em melhorar os índices da região Norte.
“Quando se caminha para o Oeste, há um problema grave: não dá para passar nada. São regiões inóspitas e de floresta. Elas são servidas, com raras exceções, por satélite. E ele é por natureza caro e lento. No caso da Amazônia, pelo lado brasileiro, a floresta restringe a instalação de infraestrutura. Pelo lado vizinho, os Andes impedem a passagem de cabos. Tem que passar cabo a 4 mil metros de altitude”, conta Jonas Silva.
Alexander Castro diz que “enquanto não for possível colocar satélites que operem em bandas com custos melhores ao usuário, a situação não será revertida”.
O Ministério das Comunicações diz que “reconhece que há uma carência de infraestrutura ainda presente no Brasil que dificulta o acesso à banda larga de populações em algumas regiões mais isoladas e cria um hiato na disponibilidade de internet de alta velocidade no país”. “Ciente de que existe uma grande desigualdade no serviço ofertado, o governo não medirá esforços para, por meio do Programa Banda Larga Para Todos, melhorar essa realidade e diminuir os desequilíbrios regionais”, informa, em nota.
Banda Larga para Todos
O Brasil tem atualmente 24,3 milhões de pontos de acesso de banda larga fixa. Destes, 46,3% estão na faixa de 2Mbps a 12 Mbps.
O diretor da Sinditelebrasil traça um cenário otimista para os próximos anos. “As operadoras começaram a investir em novas tecnologias. No caso do móvel, a solução é o 4G. Na banda larga, as operadoras usaram soluções para otimizar o tráfego. Começaram a usar anéis metropolitanos de fibra ótica e até em bairros. Até 2019, vai ter acesso em todos os municípios do Brasil e o país todo vai ter internet no patamar próximo de 20 Mbps.”
A meta do governo é ainda mais ousada. Segundo o Ministério das Comunicações, o Plano Banda Larga para Todos, ainda em formulação, pretende levar internet rápida, com uma velocidade média de 25 Mbps, para 95% da população brasileira até 2018.
Para chegar a esse patamar, no entanto, há um longo caminho a ser percorrido. Hoje, só 4,5% das conexões são por fibra ótica, relevam dados da Anatel.
O ministério diz que será preciso contar com “forte investimento em infraestrutura de fibra óptica e a operação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas, que será lançado em 2016”. A pasta afirma, no entanto, que isso ainda depende do orçamento disponível para o programa.
Fonte: G1