“Com 7,22 casos para cada 100 mil habitantes, o Piauí ocupa a segunda colocação no ranking de violência contra a mulher entre os nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. O relatório mais recente revela um cenário preocupante: o número de ocorrências cresceu quase 18% em um ano. (Dados de 2024,  Rede de Observatórios da Segurança)”

Há três meses, Kelciane da Silva teve a vida transformada após ser vítima de uma facada brutal. A faca foi empunhada pelo ex-companheiro, que não aceitava o fim do relacionamento, e acabou atingindo a sua medula e comprometendo os movimentos das pernas. A violência tirou dela mais que a mobilidade: levou sua rotina, sua confiança e o sentimento de segurança até dentro da própria casa.

Kelciane ainda relembra com dor o momento da agressão, que aconteceu dentro da própria casa.

“A gente já tava separado há nove meses, estávamos tentando reatar, né? Ele falou pra mim que tinha mudado, que tinha parado de beber, que queria dar uma segunda chance pra família. Até então eu aceitei, mas quando vi que ele realmente não tinha mudado, que era tudo mentira, pedi pra ele se retirar, que não dava mais certo. Ele não aceitou, disse que não ia embora, que não tinha ninguém que botasse ele pra fora daqui, que ele mandava aqui e que ia ter um velório na minha casa. Resumindo, ele não aceitou que eu pedi para que ele se retirasse da minha casa. Ele queria conversar comigo, eu não aceitei. Ele simplesmente me esfaqueou. Não teve briga, não teve discussão, não teve nada. Ele tava totalmente são e simplesmente desferiu a facada”, relembrou Kelciane. 

Casos como o dela evidenciam o quanto o machismo estrutural ainda define o destino de muitas mulheres. Em Parnaíba, a Patrulha Maria da Penha atua no acolhimento e proteção dessas vítimas, com policiais treinados para realizar uma escuta atenta e abordagem humanizada.

“A Patrulha Maria da Penha veio para dar esse suporte pra essa mulher que é vítima de violência doméstica. A gente faz o acompanhamento das medidas protetivas. O que é essa medida? A vítima se sente ameaçada, em risco de morte, e ela vai ao Judiciário, à delegacia, e pede a medida. Aí o juiz entende que ela tá realmente em risco, expede a medida protetiva e encaminha pra gente. A gente vai fazer visitas a ela e também ao requerido, que é o suposto acusado. É importante ter essa visita pra que ele entenda que a vítima está sendo assistida e que, a partir daquele momento, qualquer violação da medida pode levá-lo à prisão em flagrante, sem direito a fiança.”, explicou a sargento Rhyana Pontes. 

Sargento Rhyana Pontes, da coordenação da Patrulha Maria da Penha.

Para Kelciane, o apoio da patrulha é essencial. Mas ela reforça que o primeiro passo precisa partir da vítima. Denunciar é a única forma de romper o ciclo.

“O que eu digo para essas mulheres que estão sofrendo algum tipo de abuso: não tenham vergonha. 90% das mulheres sofrem abuso, mas o que impede de procurar os direitos é a vergonha, é o julgamento. Eu fui muito julgada, 60% por mulheres. Muita mulher, no lugar de apoiar, julga. Não tenham medo. É difícil, é um processo doloroso, mas nada é mais importante que a vida. A vida é uma dádiva de Deus que ninguém tem o direito de tomar da gente. Todos acham que nós mulheres somos culpadas, mas a única culpa que temos é amar e acreditar que o amor vai mudar a pessoa. Infelizmente, o amor não muda ninguém.”

Ajude como puder

Atualmente sem conseguir trabalhar e enfrentando dificuldades até para se alimentar, Kelciane depende de doações para sobreviver. Quem quiser contribuir, pode ajudar por meio do Pix: 86 99440-1127 (Kelciane da Silva).