Carlos Coelho integra grupo de jovens que se recusam a votar nas próximas eleições (Foto: Raul Spinassé | Ag. A TARDE)
Carlos Coelho integra grupo de jovens que se recusam a votar nas próximas eleições (Foto: Raul Spinassé | Ag. A TARDE)

Ainda preciso amadurecer um pouco nesse sentido de eleição, saber em quem votar. Não podemos escolher qualquer pessoa para nossa política”. A justificativa vem do estudante Carlos Coelho, de 16 anos. Apesar de ter o direito de votar, o adolescente não fez o registro eleitoral. E faz parte dos cerca de 71% de baianos com 16 e 17 anos que não irão as urnas em outubro.

O dado foi obtido a partir do cruzamento de informações do Censo de 2010 do IBGE e das estatísticas do eleitorado disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com o IBGE, a estimativa é que, em 2014, aproximadamente 560 mil baianos teriam idade para optar ou não pelo voto. Ainda que tenham esse direito, o número de títulos emitidos para a faixa etária foi 162 mil.

O número baiano é superior à adesão nacional. Enquanto no Brasil 20% dos adolescentes fizeram o registro, na Bahia o título foi emitido por 29% deles.

Tal como Coelho, Juan Pierre segue no mesmo coro. “Tenho vários motivos (para não fazer o título de eleitor). Primeiro que não vejo candidatos bem sucedidos. E, segundo, eles não merecem meu tempo pra tirar o título e nem ir votar”, reclama Pierre.

Ambos não participaram da série de manifestações de 2013, quando parte da juventude foi às ruas com a justificativa de “um Brasil melhor”. “O governo sabe muito bem do que o Brasil precisa, e o povo não precisa ir fazer manifestação”, justifica o estudante de 16 anos.

“A gente percebe que é uma tendência da juventude ser desgostosa da política tradicional. E isso não é exclusividade do Brasil”, avalia o professor Carlos Zacarias, especialista em história política. Para ele, a condição de “setor mais esperançoso” dos jovens justifica a baixa participação deles no sistema político.

Segundo Zacarias, “os jovens vão votar sem a expectativa de mudança”. “A juventude nunca deixou de ter uma causa, uma ideologia. Que não se reflete na política tradicional. O sentimento de descontentamento está presente em todas as faixas, mas os mais velhos são mais cautelosos”, identifica.

Contraponto

Para o coordenador de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Joilson Rodrigues, o discurso de jovens como Carlos e Juan contradiz as mobilizações de junho de 2013, quando milhares de jovens e adolescentes foram as ruas em todo o Brasil.

“A participação política é uma forma legítima de se manifestar. Se confirmadas essas estimativas da baixa participação nas urnas, parece contraditório com as ações de junho do ano passado”, pondera Rodrigues. “Em que medida as manifestações representam a consciência política desses jovens?”, questiona.

O historiador Carlos Zacarias acredita que o ciclo de mobilizações, que tiveram seu ápice momentâneo em junho de 2013, não foi fechado. “A juventude protagonizou as lutas do século XXI e deve continuar”, sugere.

Os dados da participação política de adolescentes com 16 e 17 anos baianos são um pouco maiores que a média nacional. No Brasil, 1/5 dos jovens nessa faixa fizeram o registro para votar em outubro, enquanto na Bahia o percentual é próximo de 29%.

A estudante Catarina Lage, de 17 anos, é parte dessa minoria. Também ausente das manifestações de 2013 – “apesar de ser simpática”, como relata -, ela definiu uma meta para as urnas: “ajudar a definir o futuro do meu país”.

Para Catarina, o direito de votar é uma maneira de manifestar as próprias opiniões sobre o Brasil. “Espero que em outubro mude alguma coisa, principalmente na saúde e na educação”, completa a estreante nas urnas.

Fonte: Uol