Daqui de casa fico só acompanhando essa solidariedade arroz e feijão parnaibana pelos desabrigados das chuvas. Chegam as carradas de mantimentos e depois o candidato a vereador, deputado federal, governador e prefeito, enfim, toda a fauna dos mesmos animais á procura de votos, desce do veículo com aquele sorriso de gesso e passa a abraçar e beijar quem vai encontrando pela frente.
Como os políticos de carreira dessa Parnaíba carcomida pela traça do mesmismo são cara de pau! Passam o tempo todo dentro de gabinetes ou ali na praça da Graça maquinando, fazendo manobras e acordos nada éticos pra troca de partidos, pra derrubarem e dificultarem a vida dos adversários, votando títulos de cidadania pra parentes, aderentes e gente insignificante.
Políticos, claro que temos exceções, que numa hora de dificuldades de parte da população acham de dar uma cesta básica, composta por arroz, lata de sardinha 88, feijão, lata de óleo, macarrão Fortaleza, açúcar, dois ou três pacotes de biscoitos Maria, duas cabeças de alho, corante, enfim, alguma coisa pra botar no fundo da panela misturada com um mercado de galinha ou carne comprada na feira da Caramuru.
Se bem que seria bom darem um percentual de verba de gabinete pra ajuda aos desabrigados. Ganham bem pra isso. E me ocorre aqui ficar assuntando porque passa ano e vem ano e, somente pra dar um exemplo, esse problema de alagamentos não tem solução. Principalmente este mais localizado no bairro Piauí, aquele que se transformou em umbigo do mundo e que não tem engenharia da Escola Politécnica da USP que dê jeito.
Não é só comida que esta gente humilde necessita agora neste momento. Essa gente perdeu tudo o que tinha dentro de casa. A começar pela casa, veio, a geladeira, fogão, cama, colchão, as panelas, as roupas, a mochila do menino que iria pra escola, as sandálias pra ir domingo à missa na Santana.
Até agora não tomei conhecimento de nenhum vereador, deputado estadual, federal, governador, candidato que fosse, oferecer ajuda com um milheiro de tijolos, telhas, vaso sanitário, cal, tinta, ripas, caibros, grades, janelas, portas. Ou no mínimo discutir e aprovar projeto destinando terrenos para a fixação desses moradores em lugar mais seguro. Se teve eu não tenho conhecimento.
Aquela gente pobre e esquecida de quatro em quatro anos de janeiro a julho em ano de eleição, não quer só comida em cesta básica. Aquela gente quer de seus vereadores, deputados, senadores, uma atitude pra um destino que coloque suas vidas em ordem. Porque se se der apenas comida, vai ser tanta, mais tanta, que daqui a pouco vai ter gente abrindo supermercado.
Pádua Marques, jornalista e escritor.