A VOZ DO DONO
Vitor de Athayde Couto
METARREVERSO
Aproveitando a promoção, cobriu-se de tatuagens baratas. Quando não havia mais espaço no corpo, fez-se criança e foi tomar banho de chuva. Tigres e dragões, super heróis da Marvel, armas, aranhas e caveiras… até as coloridas e mais sinceras declarações de amor eterno desprenderam-se do seu corpo e escorreram líquidas pela sarjeta até a eternidade… do esgoto.
CULT BODY
Desde cedo sonhava ter cultura e ser astrofísico. Vendeu toda a herança da avó e comprou livros, muitos livros. Na semana seguinte ingressou na academia onde gastou o que restava. Só então descobriu que os livros eram manuais de fisioculturismo. Mas não deixa de não ser cultura.
LITURGIA DO CHURRASCO
Sem saber que já se faziam churrascos desde os tempos do Paleolítico Superior, o sommelier de churrasqueira repetia em voz alta, quase gritando:
– Eu que sei fazer churrasco, piá! Sou gaúcho guapo, tchê!
– E eu sou sapiens – respondi.
A VOZ DO DONO
Sim, as vozes têm cores. Cansados de tantas demissões nos call centers dos EUA, quatro colegas de trabalho (um russo, um indiano, um chinês e um venezuelano) desenvolveram um software que branqueia a voz. Em menos de um segundo a voz dominante do americano médio dubla padronizando os diferentes sotaques do mundo.
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Escute o texto com a narração do próprio autor: