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Dr. Lauro Correia – Foto: 180graus

Desde criança conheço o dr. Lauro Andrade Correia, que foi um dos grandes amigos de meu pai, a respeito do qual  prestou comovente depoimento inserido no meu livro O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, que trata do assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira, em 11 de outubro de 1959, Dia da Padroeira de Parnaíba – Nossa Senhora da Graça – , antecipado  em 1992, inexplicavelmente, para 8 de setembro. Os dois foram colegas de trabalho no então escritório da Federação das Indústrias do Estado do Piauí, presidida pelo grande empresário José de Moraes Correia: Lauro na qualidade de secretário executivo e meu pai como contador.

Em 1995 o reitor da Universidade Federal do Piauí, professor Charles Camilo da Silveira, me incumbiu de fazer o discurso na solenidade em que Lauro Correia foi agraciado com o título de Professor Emérito da instituição. Naquela oportunidade desenvolvi os seguintes tópicos: Descendência e Formação Escolar, O Industrial, O Político,  O Professor, O Historiador, O Orador, O Advogado, O Jornalista, O Acadêmico, Campanhas Cívicas  para Prefeito Municipal e pela Integridade Territorial do Município.

Neste depoimento pretendo reportar-me especialmente a episódios relacionados com a vida de Lauro Correia a respeito dos quais tive conhecimento como testemunha ocular.

Nas eleições municipais de 1962 três candidatos disputaram o cargo de prefeito municipal: Cândido Oliveira (UDN), José Oscar Freitas (PSD) e Lauro Andrade Correia (PTB), que foi o vencedor.

Logo que assumiu o cargo, Lauro Correia enfrentou uma grande batalha pela preservação da integridade territorial do município. A Assembleia Legislativa do Estado do Piauí havia aprovado e o governador Petrônio Portella Nunes (que depois se tornaria grande amigo do prefeito) sancionado as leis que criaram os municípios dos Morros da Mariana e de Bom Princípio, dilacerando o domínio territorial de Parnaíba. O objetivo principal do desmembramento era beneficiar os candidatos derrotados, que deveriam ser contemplados com os cargos de prefeito desses povoados.

O prefeito Lauro Correia, derrotado politicamente nesse episódio, foi vitorioso no Supremo Tribunal Federal, que julgou inconstitucionais as referidas leis.

A partir de 1965 trabalhei com ele, sob sua liderança e comando, em várias instituições: Prefeitura Municipal de Parnaíba, Federação das Indústrias do Estado Piauí, Campus Ministro Reis Velloso/Universidade Federal do Piauí, Academia Parnaibana de Letras e em algumas campanhas eleitorais.

De junho a dezembro de 1965, aos dezoito anos de idade, servi à administração de Lauro Correia como auxiliar do Departamento de Estudos e Planejamento, chefiado por meu tio, médico e oficial do Exército Jefferson Rodrigues Moreira. O país atravessava um período conturbado em razão do golpe político-militar de 31 de março de 1964, com o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como presidente da República. Na função pública datilografei inúmeros documentos oficiais dirigidos a autoridades do país e do Estado do Piauí, ora redigidos por meu tio ora pelo prefeito. Muitos desses papéis tratavam de problemas relacionados com inquéritos policiais militares.

Em dezembro de 1965 pedi exoneração do cargo que ocupava na Prefeitura para ir fazer o curso de direito no Rio de Janeiro.

Lauro Correia foi prefeito de Parnaíba no quadriênio 1963 a 1966, realizando a primeira administração planejada em território piauiense, através dos Planos Quinquenal, Diretor e Urbanístico, bem como dos Códigos de Posturas, de Obras e Tributário.

Outras realizações:

– oficialização do Hino da Parnaíba e de outros símbolos municipais: Bandeira, Armas e Selos;

– aquisição da primeira sede própria da Prefeitura na avenida Presidente Vargas;

– campanha pela construção da Barragem de Boa Esperança;

 Implantação do serviço de abastecimento d’água tratada e canalizada;

– construção do Centro Cívico na praça de Santo Antônio.

A exemplo de Graciliano Ramos, que deixou um detalhado relatório ao concluir o mandato de prefeito de Palmeira dos Índios, no Estado de Alagoas, – Lauro Correia escreveu um livro de 134 páginas ao término de sua administração, denominado HISTÓRIA ADMINISTRATIVA DA PARNAÍBA (1963/1966).

No limiar dos anos 70, já de volta a Parnaíba com o diploma de bacharel em direito e inscrito na OAB-PI, fui nomeado pelo presidente Lauro Corria assessor jurídico da Federação das Indústrias do Estado do Piauí, que tinha como companheiros de diretoria  Antônio José de Moraes Souza, Cândido de Almeida Athayde, Carlos Henrique Pires Athayde, Télius Memória Ferraz e outros industriais. Nessa época o grupo dirigente da Federação enfrentou em acirrada luta vários empresários que queriam assumir o comando da entidade, como Marc Jacob, Maurício Pinheiro Machado, Paulo Dutra, Carlos Alberto Teles de Sousa, que acabaram sendo derrotados.

Pouco tempo depois, quando tudo indicava que Lauro Correia continuaria a presidir a Federação sem maiores problemas, eis que falece prematuramente Tellius Ferraz, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado do Piauí. Assume então a presidência desse Sindicato o industrial que já presidia o Sindicato das Indústria do Mobiliário e Construção Civil. À época só existiam cinco sindicatos da indústria no Estado, de modo que três votos eram suficientes para eleger o dirigente máximo da FIEPI. Lauro Correia foi abandonado pelos aliados. Praticamente sozinho lutou bravamente pela permanência no cargo, tendo sido derrotado, contudo, porque se insurgiu contra ele uma união das principais lideranças políticas e empresariais da cidade, que achavam que ele detinha excessivos poderes como diretor da firma Moraes S.A., presidente da FIEPI, diretor regional do SESI-PI, diretor do Campus Ministro Reis Velloso e representante do governador Dirceu Mendes Arcoverde em Parnaíba.

Nos dez anos em que esteve à frente da Federação das Indústrias, muitas obras foram construídas: Centro Esportivo Dirceu Arcoverde, Escola Comendador Cortez, restauração e ampliação da Escola Simplício Dias, reforma do Clube dos Trabalhadores, reforma e modernização do Auditório Benedicto Jonas Correia/SESI e, finalmente, a obra mais importante – a construção da Casa da Indústria, um dos maiores prédios da cidade, edifício majestoso e funcional com quatro pavimentos.

Como educador Lauro Correia foi professor titular de Direito Tributário, Contabilidade de Custos e Diretrizes Administrativas, impressionando os alunos pelo conhecimento das matérias ministradas, pela habilidade na exposição dos assuntos, pelo espírito superior com que discutia os problemas trazidos à baila, dentro ou fora de sala de aula.

Integrou com os professores Cândido de Almeida Athayde, José Pinheiro Machado e Monsenhor Antônio Monteiro de Sampaio a equipe fundadora da Faculdade de Administração do Piauí, em 1969, da qual foi vice-diretor e diretor. A partir de 1972, durante onze anos, exerceu os seguintes cargos: coordenador do Curso de Administração de Empresas e diretor do Campus Ministro Reis Velloso.

Sua gestão foi plena de realizações, sobressaindo a construção de vários blocos do Campus e a implantação de dois outros cursos: Ciências Contábeis e Economia. Merece ainda registro a realização temporária de três cursos de licenciatura: Letras, Pedagogia e História.

Com a saída de Lauro Correia da FIEPI e com o término de seu mandato de diretor do Campus Ministro Reis Velloso, seus adversários imaginavam que ele não teria mais sequer uma tribuna para proferir os brilhantes e empolgantes discursos que costumava fazer. Ledo engano: pouco tempo depois da morte do presidente da Academia Parnaibana de Letras-APAL, o grande escritor João Nonon de Moura Fontes Ibiapina, Lauro Correia foi eleito por aclamação presidente do sodalício, tendo a minha pessoa como secretário-geral. Permanecemos na direção da APAL , sempre por aclamação, durante sete mandatos, num total de quatorze anos, com múltiplas realizações:

– reuniões ordinárias semanais;

– ampliação do acervo da Biblioteca Renato Castelo Branco, com a aquisição de mais de dois mil livros;

– publicação regular de “Informações Acadêmicas” (informativo da APAL);

– apoio no lançamento de dezenas de livros de autores piauienses;

– promoção de palestras e seminários;

– permanente intercâmbio cultural com diversas entidades piauienses e de outros Estados;

– publicação, através de convênios celebrados com órgãos oficiais, de mais de dez livros;

– aquisição, através de doação feita por herdeiros de Ranulpho Torres Raposo, do direito de propriedade do ALMANAQUE DA PARNAÍBA;

– publicação de seis edições do ALMANAQUE DA PARNAÍBA (nºs. 61 a 66);

– aquisição da sede própria da entidade na rua Alcenor Candeira, viabilizada na primeira administração de José Hamilton Furtado Castelo Branco.

Hoje, aos 94 anos de idade, Lauro Correia continua escrevendo e publicando artigos em jornais e blogues/portais, normalmente focalizando assuntos de interesse piauiense.

Acho que ele deveria reunir em livro seus principais trabalhos.

Concluo este depoimento com as palavras finais de meu discurso proferido há mais de vinte anos, quando Lauro Correia recebeu o honroso título de Professor Emérito da Universidade Federal do Piauí:

Lauro Correia é exemplo do indivíduo que “é grande” na acepção pessoa na, quer dizer, do que “nada seu exagera ou exclui”, do que é “todo em cada coisa”, do que “põe quanto é/ no mínimo que faz”.   

Por Alcenor Candeira Filho