Aos 16 anos, Jack Green conseguiu a permissão dos pais para realizar o sonho de se transformar em uma menina – foi a pessoa mais jovem do mundo a ter uma cirurgia de mudança de sexo – e adotou o nome de Jackie. “Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma menina”, disse à mãe. Aspirante à modelo, Jackie foi finalista no concurso de Miss Inglaterra. Atualmente, aos 19 anos, é hostess na loja Burberry em Bond Street. As informações são do Daily Mail.
A história do garoto que tentou suicídio várias vezes até conseguir se transformar em mulher é tema de um documentário que será transmitido pela BBC no final do mês. Jackie foi diagnosticada com transtorno de identidade de gênero (GID), por psiquiatras. O número de crianças encaminhadas para uma avaliação GID no Tavistock aumentou de 97 em 2009 para 208 em 2011, e mais são esperados este ano.
“Tem-se observado que as áreas no cérebro de algumas pessoas transexuais são estruturalmente as mesmas que o sexo que eles sentem que são”, disse o diretor do Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero na Tavistock, Polly Carmichael. “Nós não temos uma resposta definitiva, mas é provável que seja uma combinação de fatores ambientais, genéticos e biológicos”, completou.
A vida dos transexuais, porém, é difícil. Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que quase metade das pessoas já tentou o suicídio e eles têm duas vezes mais probabilidade de desemprego do que o resto da população. Mas, para Jackie a situação é diferente. Ela começou a fazer tratamento hormonal aos 14 anos – nunca passou pela puberdade masculina e sua voz não engrossou.
“Um monte de transexuais têm características masculinas, porque eles não foram capazes de tomar os remédios cedo como eu fiz. Isso faz com que eles se destaquem, tornando-se muito mais difícil de se encaixar na sociedade, especialmente quando se trata de um trabalho”, explicou Jackie.
Aos oito anos, Jackie enviou um e-mail a todos de sua escola primária dizendo ser uma menina presa dentro do corpo de um menino. Depois disso, começou a ir à escola vestida como uma menina. “Jackie ficou muito melhor depois disso”, disse a mãe Susan. “Com cerca de 10 anos de idade, eu lembro de ter dito a minha mãe que se eu começasse a me transformar em um homem, eu me mataria. Eu estava ciente de que estava me aproximando da puberdade e que, juntamente com o bullying, era demais. Eu tomei uma overdose de Paracetamol e acabei no hospital. Olhando para trás, foi mais um grito de socorro”, lembrou a jovem. Foi então que passou a tomar bloqueadores de testosterona.
“Eu sou uma menina, sempre fui”.
Jackie fez a mudança de sexo, colocou silicone nos seios e quer participar novamente do concurso de Miss Inglaterra. Está namorando há dois anos e é a favor do tratamento e do procedimento em outras adolescentes. “Eu sei que há muita controvérsia sobre GID e bloqueadores, mas acho que as crianças precisam de mais crédito para saber quem são. Não há muito tempo para mudar de ideia se você quiser”, disse.
Transtorno de gênero
GID é diagnosticado quando a criança apresenta vários comportamentos característicos, inclusive afirmando repetidamente o desejo de ser, ou insistindo que é, do outro sexo. Muitas crianças ficam cada vez mais angustiadas com o problema – a ponto de depressão – à medida que envelhecem, especialmente quando se aproxima a puberdade. Normalmente, elas expressam desgosto com sua genitália.
Evidências sugerem que quatro em cada cinco crianças pré-púberes diagnosticadas com GID não experimentam a condição na idade adulta. Um em cada cinco consegue ser feliz com o gênero de nascimento. “Em alguns casos, o tratamento com drogas é necessário. Mas nós trabalhamos duro para tentar manter as crianças abertas a todas as possibilidades”, disse Polly.