AS NOVAS PROFISSÕES: PEDIATRIA 4.0
Vitor de Athayde Couto
Sobre o autor (*)
São tantas as Faculdades de Medicina recém-criadas que já se fala em restringir a abertura de novos cursos, e até em fechar alguns departamentos. Enquanto defendia essa orientação junto ao Ministério da Educação, o Conselho Federal de Medicina deparou-se com notícias de “mães” (donas? tutoras?) que passaram a pressionar os sistemas de saúde, público e privado, exigindo atendimento para seus bebês reborn. São Tomé não viveu no nosso tempo, para ver e crer. Pois já se fala em criar cursos de especialização em Pediatria 4.0, para atender esses cidadãozinhos, ops, objetozinhos reborn.
Isso me faz lembrar o tempo em que minhas filhas pequenas brincavam com uma boneca chamada bate-palminhas. Quando a boneca travava e parava de cantar, eu ia com elas até o “médico das bonecas” – assim era conhecido o Seu Joaquim, um português predestinado, dono de uma oficina de brinquedos, nos Barris, bairro de Salvador. Consertada a boneca, era a hora do teste, e Seu Joaquim pedia para eu ouvir a boneca cantar, chifaizfavôire, antes de pagar o serviço:
“Bate palminhas, bate
Palminhas de São Tomé
Bate palminhas, bate
Pra quando o papai vier.”
Tempos loucos aqueles, quando ainda se consertavam brinquedos. Mas o que mais me impressionava é que a boneca, operada por um “médico pediatra” português, não tinha sotaque lusitano. Ela cantava num baianês perfeito, sem usar o detestável “meu rei”, essa falsa gíria “baiana” de novelas da Globo.
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Ouça o áudio com a narração do autor:
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(*) Doutor em Economia, Professor Titular da UFBA. Autor de vários trabalhos acadêmicos, diverte-se nas horas vagas escrevendo literatura de humor. Suas crônicas e minicontos encontram-se neste portal, no youtube, e nos livros “Contos de Parnasia” (2021); “O paradoxo de Pinóquio” (2023); e “Balão de Ensaios” (2025, em edição pela Autografia, RJ).