Rede social já tem mais de 900 milhões de usuários em todo o mundo (Foto: Divulgação)

Mais de oito anos após sua fundação, o Facebook estreia nesta sexta-feira (18) na bolsa de valores de Nova York com a sigla FB, vendendo suas ações a US$ 38. Com este valor por ação a companhia foi avaliada em US$ 104 bilhões e pode levantar pouco mais de US$ 16 bilhões no processo de oferta pública inicial (IPO, em inglês) – o maior já arrecadado por uma empresa de internet nos Estados Unidos.

O Facebook apresentou seus documentos para realizar o IPO ao órgão regulador dos mercados norte-americano no início de fevereiro. A faixa de preço inicial de ações estimada pela companhia foi de US$ 28 a US$ 35, mas o valor acabou aumentando para uma faixa de US$ 34 a US$ 38 e estabelecido no número mais alto. Nesta semana, a empresa também anunciou que oferecerá 25% a mais de ações do que havia previsto.

Durante o período, Mark Zuckerberg, o fundador e CEO da empresa, também teve que responder a críticas envolvendo a aquisição do Instagram, por US$ 1 bilhão, e da startup Glancee. O executivo foi criticado por, segundo o “Wall Street Journal”, ter negociado a aquisição do Instagram por conta própria e avisado o conselho da companhia da movimentação apenas no dia 8 de abril –a compra foi divulgada na imprensa no dia 9 de abril.

Entre as instituições envolvidas na oferta do Facebook estão Morgan Stanley, JP Morgan, Goldman Sachs, Bank of America, Barclays e Allen & Co. O banco de investimentos brasileiro Itaú BBA também está entre os coordenadores da oferta pública inicial do Facebook.

Abertura do capital

“O Facebook ficou muito tempo com poucas atualizações. A Timeline mudou bastante a experiência de uso, mas acho que ainda há muito a ser feito”, diz Rafael Lamardo, professode Tecnologia da Informação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O site “foi construído para realizar uma missão social: tornar o mundo mais aberto e conectado”, diz Zuckerberg em carta entregue junto com a documentação para estrear na bolsa.

Mas Lamardo entende que o IPO pode fazer a rede social virar refém de processos ligados ao mercado de ações e aos acionistas. “Há um controle excessivo com as empresas que atuam na bolsa. Isso faz com que esta empresa foque apenas em recursos que trazem retorno [financeiro] para os usuários”, explica.

“Até agora, o Facebook teve liberdade para criar recursos que tornaram a plataforma melhor e muitas coisas não renderam dinheiro. Mas isso fez com que a rede social estivesse muito a frente dos concorrentes. Ter acionistas olhando as ações do Facebook de perto pode ser um problema neste sentido”.

Jogos e apps

A rede social deve atingir o primeiro bilhão de usuários em agosto deste ano. Mas os dados de crescimento dão sinais de que pode haver uma desaceleração. Nos últimos 3 meses de 2011, o total mensal de usuários ativos do Facebook cresceu 5,6%, contra 10,5% no mesmo período de 2010. Segundo o site Socialbakers, nesse período houve leve queda nos Estados Unidos, líder em usuários, com cerca de 156 milhões.

Da receita, 86% vieram de publicidade e 12%, da parceria com a Zynga, que faz jogos para a rede social, como o Farmville e o Cityville. Os jogos são grátis, mas, quem quiser, paga por “vantagens” especiais. O Facebook também está tentando diversificar, de olho em serviços como o de notícias, bate-papo por vídeo e aplicativos móveis, citados no documento entregue para a abertura de capital. “Pretendemos crescer nossa base de usuários continuando com ações de marketing e melhorando nossos produtos, incluindo apps, para tornar o Facebook mais acessível e útil”, diz o texto.

“Para que investidores paguem o preço deste negócio, eles vão ter que ser extremamente confiantes de que o Facebook será capaz de desenvolver novos canais de receita significantes”, avaliou Ryan Jacob, da Jacob Funds, também à Reuters. “As oportunidades para eles são quase infindáveis se eles entregarem isso”, acrescentou.

Brasil na mira

O Brasil é citado no documento que o Facebook entregou para a abertura de capital logo na parte em que a empresa explica sua estratégia para crescer. O primeiro item é expandir a comunidade de usuários no mundo, “incluindo mercados pouco explorados e grandes como Brasil, Alemanha, Índia, Japão, Rússia e Coreia do Sul”.

Em 2011, a rede social cresceu 192% no Brasil, e passou o Orkut em número de usuários, segundo pesquisas do Ibope e da comScore, que registrou 36,1 milhões de visitas para o site vindas do país em dezembro passado. Emergente também no Facebook, o país é o 4º no ranking de usuários da rede social no mundo, perdendo só para os EUA, Índia e Indonésia, diz o Socialbakers.

Os futuros milionários

Até agora, o Facebook rendeu uma fortuna estimada em US$ 17,5 bilhões a Zuckerberg. Aos 27 anos ele está em 52º lugar na lista dos mais ricos da revista “Forbes”, que o aponta como o 9º entre os 70 mais poderosos do mundo, atrás somente de estadistas, do Papa Bento XVI, do presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke, e do fundador da Microsoft, Bill Gates.

Zuckerberg propos reduzir seu salário de US$ 500 mil para US$ 1 em 2013, mas continuará a ser compensado com o rendimento de suas ações da companhia, que seriam cerca de 28%.

Veja quem mais deve ganhar com o IPO do Facebook:

– Sheryl Sandberg, de 42 anos, saiu do Google para o Facebook em 2008. Formada em Harvard, como Zuckerberg, é a chefe de operações da empresa. No ano passado, recebeu cerca de US$ 31 milhões. Ela teria cerca de 1% das ações da companhia.

– Peter Thiel: Primeiro grande investidor externo do Facebook, o bilionário tem 44,7 milhões de ações que poderão passar a valer mais de US$ 2 bilhões.

– Bono: Até o cantor, vocalista do U2, por meio de sua Elevation Partners, pode lucrar com a entrada da rede social na bolsa. A empresa pagou US$ 120 milhões por uma fatia do Facebook em 2010.

– Funcionários: O Facebook também usa ações como forma de remuneração de seus funcionários. Segundo a Reuters, pode haver mais de 1 mil pessoas destinadas a receber mais de US$ 1 milhão em ganhos quando a empresa abrir seu capital.

– David Choe: O grafiteiro foi pago com ações para decorar o escritório de Zuckerberg, na primeira sede da empresa, em 2005, e poderá entrar para o time de milionários. Segundo o jornal “The New York Times”, David Choe deve receber US$ 200 milhões com a estreia da rede social no mercado de ações. Ele poderá ganhar a mesma quantia que o artista Damien Hirst, que teve sua pintura leiloada por US$ 200 milhões, em 2008, pela Sotheby, um recorde para a casa de leilões.

História

O Facebook foi fundado em fevereiro de 2004 nos dormitórios dos alunos na Universidade de Harvard por Mark Zuckerberg, Chris Hughes, Dustin Moskovitz e o brasileiro Eduardo Saverin que, de acordo com o livro “O Efeito Facebook”, ainda possuiria 5% da empresa após disputa judicial. Já no meio de 2004, a rede social recebeu sua primeira rodada de investimentos, feita por Thiel, no valor de US$ 500 mil. O nome inicial do site era Thefacebook.

Atualmente a empresa tem sua sede em Menlo Park, na Califórnia, e 3.200 funcionários.

Com informações do G1