Depois de semanas de apreensão e dúvidas sobre o resultado da eleição norte-americana, o presidente democrata Barack Obama finalmente pode comemorar. Ele foi reeleito e vai ficar mais quatro anos à frente da Casa Branca, com o vice Joe Biden novamente ao seu lado.
Não foi fácil. Se em 2008 ele conseguiu mobilizar de formar surpreendente o eleitorado até se tornar o primeiro negro a governar os Estados Unidos, desta vez ele suou para garantir a maioria dos colégios eleitorais (são necessários os votos de 270 delegados, de 538, para um candidato ser considerado eleito ).
Em grande parte do tempo, Obama ficou empatado ou apenas alguns pontos na frente do republicano Mitt Romney nas pesquisas de intenção de voto.
A recuperação de Obama começou a acontecer somente a duas semanas do dia da votação, quando ele pode mostrar mais claramente sua capacidade como gestor de crise e seu papel de líder da nação.
Sua atuação, comprometida e rápida, durante a passagem da tempestade tropical Sandy pela costa leste do país foi elogiada e reconhecida até por integrantes do Partido Republicano. O democrata conseguiu evitar uma comparação negativa com o ex-presidente George W. Bush –que em 2005, na ocasião do Katrina, arruinou sua reputação quando levou quatro dias para aparecer em Nova Orleans após o furacão– e ganhou pontos por isso.
Na disputa deste ano, o lema “change and hope” (mudança e esperança), que estampou os cartazes do democrata quatro anos trás, foi deixado de lado. Em seu lugar, Obama adotou um discurso baseado na confiança e pediu aos eleitores que reconhecesse seus feitos no primeiro mandato e lhe dessem mais tempo para recuperar o país. O governo de Obama foi fortemente marcado pelos efeitos da maior crise financeira da história recente, iniciada em 2008.
Diante de uma Câmara dos Deputados dominada pelos republicanos, o democrata teve sérios obstáculos para implantar alguns de seus projetos de lei, mas conseguiu aprovar um pacote de estímulo da economia de US$ 787 bilhões; a polêmica reforma da saúde, conhecida como “Obamacare”; uma lei que facilita o financiamento estudantil; o Dream Act, que interrompe as deportações e dá oportunidade a imigrantes ilegais; e ainda uma legislação sobre mudança climática global. Também foi em seu primeiro mandato que acabou a guerra do Iraque, que se iniciou retirada das tropas do Afeganistão e que o fundador da Al Qaeda, Osama Bin Laden, foi encontrado e morto. Em 2009, ganhou o prêmio Nobel da Paz.
O desafio agora é continuar estimulando a economia e combatendo o desemprego, que apesar dos avanços ainda permanece alto, em 7,9%, com cerca de 12,3 milhões de pessoas em idade economicamente ativa (entre 18 e 65 anos) procurando trabalho.
Durante a campanha, Obama criticou a desigualdade no crescimento da riqueza dos Estados Unidos e as políticas republicanas que favorecem um mercado livre desregulado, colocando a eleição como uma escolha entre um governo que trabalha para promover a igualdade de oportunidades e melhorar a vida das pessoas e o que ele chama de “economia do cada um por si” do Partido Republicano.
A principal promessa do democrata para o segundo mandato, longe de seus ambiciosos planos de 2008, é iniciar uma série de iniciativas para reativar a economia: mais despesa em educação, mais empregos no setor manufatureiro, menos dependência do petróleo estrangeiro e mais impostos aos ricos.
Propostas
A saúde da economia norte-americana foi central na campanha pela Casa Branca. Tanto Barack Obama quanto Mitt Romney tentaram convencer os eleitores de que têm um plano para estimular o crescimento rápido e a criação de empregos. A economia tem apresentado dificuldades para romper o ritmo de crescimento anual para acima de 2% desde a recessão de 2007-2009, e o desemprego permanece alto, em 7,9%.
Cerca de 23 milhões de norte-americanos estão desempregados, trabalhando apenas meio período, embora buscando um trabalho de período integral, ou querem um emprego, mas desistiram de procurar por um.
Obama diz que seu plano para os empregos fortalecerá a indústria norte-americana, estimulará os pequenos negócios, melhorará a qualidade da educação e tornará o país menos dependente do petróleo estrangeiro. Ele prevê a criação de 1 milhão de empregos novos na indústria até 2016 e mais de 600 mil empregos no setor de gás natural, assim como a contratação de 100 mil professores de ciências e matemática.
O conserto e a substituição de estradas, pontes, passarelas e escolas antigas são parte desse plano para colocar os norte-americanos de volta no trabalho. Metade do dinheiro economizado com o término das guerras no Iraque e no Afeganistão será usada para financiar projetos de infraestrutura.
Na questão da habitação, Obama tem promovido ações para ajudar os mutuários em dificuldades a refinanciar e a receber taxas de juros mais baixas, mas as iniciativas têm ficado muito aquém do mercado originalmente previsto. Ele tem brigado com o regulador independente das companhias Fannie Mae e Freddie Mac, controladas pelo governo, Edward DeMarco, tentando convencê-lo a permitir que essas empresas de crédito imobiliário reduzam o principal para mutuários que devem mais do que suas casas valem. É improvável que ocorra uma resolução rápida para o impasse depois da eleição.
Democratas e republicanos concordam que a mão pesada do governo no mercado hipotecário deve ser reduzida, mas nenhum dos candidatos apresentou um plano de como fazer isso.
Sobre o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), é de se esperar que Obama proponha um terceiro mandato ao presidente do Fed, Ben Bernanke. Entretanto, os observadores do Fed acreditam que o ex-professor de Princeton prefira deixar o cargo após oito anos cansativos no emprego. O mandato de Bernanke como chairman vence no dia 31 de janeiro de 2014.
A vice-presidente do Fed, Janet Yellen, é considerada uma das principais candidatas a suceder Bernanke e seria ao menos tão tranquila quanto ele em termos de estar preparada para manter uma política monetária super estimulante até que o mercado de trabalho tenha melhorado substancialmente.
Quanto à política fiscal, Obama propôs cortar o déficit orçamentário do governo em mais de US$ 4 trilhões ao longo da próxima década, deixando que os cortes de impostos aos norte-americanos de renda superior promovidos durante o governo de George W. Bush vençam e eliminando os meios de evasão. A outra metade do dinheiro poupado com o término das guerras no Iraque e do Afeganistão será usada para reduzir o déficit.
Em relação ao Irã, se diz determinado a evitar que o país desenvolva armas nucleares; é contra um ataque israelense ou americano nas instalações iranianas; alerta para a necessidade de soluções diplomáticas, mas acredita que “a janela está se fechando” e que “todas as opções estão na mesa”; assinou novas sanções contra o Irã.
Obama também fez uma ampla reforma do sistema de saúde em 2010, com leis voltadas à universalização do serviço, ao exigir que cada indivíduo que não tenha cobertura adquira algum plano, mas impediu que as seguradoras se neguem a aceitar clientes com base em doenças existentes antes da assinatura do contrato; a lei também dá incentivos para pessoas mais pobres conseguirem cobertura pelo sistema Medicaid.
Fonte: meionorte.com