A missão de Renan Barão no UFC 177 vai muito além de recuperar o cinturão dos galos (até 66kg) e vingar a derrota que sofreu para TJ Dillashaw há três meses. O lutador potiguar carrega consigo o peso de tentar impedir o avanço dos estrangeiros em disputas de título contra o Brasil no octógono. O Combate.com realizou uma pesquisa e constatou que até hoje houve 48 duelos entre os lados com algum cinturão em jogo. Foram 25 vitórias brasileiras e 23 dos gringos. Ou seja, se Dillashaw vencer novamente neste sábado, a diferença cai para apenas um triunfo, e o risco de a hegemonia ir embora no futuro próximo se aproxima ainda mais.

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Até algum tempo atrás a vantagem verde-amarela era grande, mas diminuiu muito recentemente. Nas últimas sete disputas de título, por exemplo, o Brasil venceu apenas duas e perdeu cinco. Nas últimas 11, ganhou quatro e perdeu sete. Isso se reflete no fato de o país ter apenas um campeão no UFC hoje (José Aldo). Mas qual seria a razão para esse declínio em termos de resultado? A reportagem também foi atrás de algumas personalidades especialistas no assunto e ouviu diferentes opiniões: entressafra de atletas, evolução dos estrangeiros, falta de estrutura e de investimento adequado no Brasil…

Líder da equipe XGym, do Rio de Janeiro, Josuel Distak acredita que o Brasil está num período de entressafra de talentos, afinal, a geração que se consagrou na época do Pride está perto da aposentadoria. O treinador, por outro lado, não vê motivo para desespero.

– Quando o Brasil tinha posse de vários cinturões, os americanos estavam lutando com a nova geração deles, e esses caras se tornaram grandes lutadores de MMA. Eles acompanharam o tempo da evolução. Os campeões estavam treinando apenas para manter o cinturão. Isso é uma grande diferença. A vantagem brasileira é que o nosso país está cheio de lutadores novos para buscar o cinturão de volta, coisa que o americano não tem mais. Hoje temos o Vitor Belfort, que é veterano, mas se renovou, tem o Ronaldo Jacaré, Warlley Alves, tem um monte de lutador bom na categoria dos galos… O Brasil está com um arsenal para voltar ao topo do MMA em 2015, 2016 e 2017 – afirmou Distak.

Já Dedé Pederneiras, que comanda a Nova União, também do Rio, não concorda com a questão da entressafra e acha que o buraco é bem mais embaixo. Para o ex-lutador, que inclusive já disputou cinturão no Ultimate, a falta de uma estrutura adequada fez com que o Brasil perdesse a grande vantagem que tinha sobre os demais países.

– Quando começou o UFC, os brasileiros tinham uma larga vantagem. Primeiro por terem o jiu-jítsu, que ninguém tinha. Segundo por terem o know-how de treinamento, que a maioria das equipes de fora também não tinha. A gente disparou muito na frente por conta disso, e o pessoal de fora, principalmente os americanos, começou a correr atrás. Eles começaram a importar treinadores brasileiros de jiu-jítsu e maneiras diferentes de treinamento. Aí você acrescenta que os caras já têm um nível de wrestling e boxe muito maior do que o dos brasileiros. Eles têm bagagem de treino, pois preparam os atletas para chegarem no nível máximo nas Olimpíadas e Campeonatos Mundiais, até por isso ganham aquela quantidade de medalhas. Se juntar tudo, você vê o motivo para isso estar acontecendo hoje. Não vejo como entressafra. Acho que, se o Brasil não investir em grandes treinadores e preparadores físicos, a gente vai ficar para trás. Eles também têm a vantagem do poder econômico, e os atletas conseguem uma suplementação melhor. O Brasil sempre vai ter grandes talentos, o problema é estrutural – declarou Dedé, que também destacou o incentivo do governo americano ao esporte de lá, oferecendo bolsas de estudo em universidades a bons atletas, o que não acontece no Brasil.

O peso-pesado Rodrigo Minotauro concorda com Dedé na parte da falta de estrutura no Brasil, mas acredita, sim, que existe uma entressafra. Ele acrescenta uma estatística sobre o fato de as disputas de cinturão, mesmo as que envolvem brasileiros, ocorrerem mais lá fora.

– Eu li um livro sobre estatísticas do MMA que diz que 73% das lutas são ganhas pelos atletas da casa. O cara que luta em casa tem vantagem física, porque não sai da rotina, e mental, porque tem a torcida a favor. O lutador é muito perceptivo, a torcida leva. E a maioria das disputas de cinturão não acontece no Brasil. Acho que interfere. Nas lutas que não valem cinturão isso também acontece, aí o cara per

de uma aqui, outra ali, e acaba não chegando mais à disputa. Acho também que a gente está numa entressafra. Outra coisa é que a gente não tem nem 100 octógonos bons no Brasil hoje. Esses 100 octógonos existem se pegarmos só a Flórida, por exemplo. A ATT (American Top Team) deve ter uns 50 (risos). Então, é difícil. Os caras têm estrutura de treino bem maior do que aqui – disse Minotauro.

O meio-pesado Maurício Shogun, por sua vez, tem o mesmo pensamento de Distak e prefere tranquilizar os brasileiros quanto aos novos talentos que estão por vir.

– Acho que Brasil e EUA são os dois maiores celeiros de atletas e vêm se alternando. Daqui a dois ou três anos isso vai se inverter de novo. No Brasil temos grandes atletas, e acredito que é coisa de momento. Daqui a pouco isso muda – afirmou Shogun.

Além de Renan Barão, que luta neste sábado, outros brasileiros podem ajudar o país a se reerguer no Ultimate. O gaúcho Fabrício Werdum vai disputar o cinturão dos pesados (até 120kg) contra o campeão Cain Velásquez no dia 15 de novembro, no UFC 180, e o carioca Vitor Belfort vai desafiar o campeão Chris Weidman pelo título dos médios (até 84kg) no dia 6 de dezembro, no UFC 181. Num cenário bastante otimista, se os três vencerem e José Aldo defender seu cinturão dos penas (até 66kg) contra Chad Mendes no UFC 179, dia 25 de outubro, o Brasil terá quatro títulos da organização até o fim do ano.

O levantamento obviamente não incluiu lutas entre brasileiros, como Anderson Silva x Vitor Belfort e Lyoto Machida x Maurício Shogun, já que os atletas defenderam a mesma bandeira. E além de servir como uma estatística interessante, ele também “ressuscita” nomes que muita gente nem sabia que haviam disputado cinturão do Ultimate, como o próprio Dedé Pederneiras, Jorge Patino Macaco, Renato Babalu e Hermes França.

A luta entre Renan Barão e TJ Dillashaw é a principal do UFC 177, que será realizado na Sleep Train Arena, em Sacramento, neste sábado. O evento também terá os brasileiros Bethe Correia e Carlos Diego Ferreira em ação no card principal. O canal Combate transmite tudo a partir das 19h45 (de Brasília), e o Combate.com acompanha em Tempo Real. Na sexta-feira, dia anterior, canal e site transmitem a pesagem oficial às 19h55.

UFC 177
30 de agosto de 2014, em Sacramento (EUA)
CARD PRINCIPAL
Peso-galo: TJ Dillashaw x Renan Barão
Peso-leve: Danny Castillo x Tony Ferguson
Peso-galo: Bethe Correia x Shayna Baszler
Peso-leve: Ramsey Nijem x Carlos Diego Ferreira
Peso-leve: Yancy Medeiros x Damon Jackson
CARD PRELIMINAR
Peso-médio: Lorenz Larkin x Derek Brunson
Peso-mosca: Scott Jorgensen x Henry Cejudo
Peso-pesado: Ruan Potts x Anthony Hamilton
Peso-galo: Anthony Birchak x Joe Soto
Peso-leve: Cain Carrizosa x Chris Wade

Fonte: Globo Esporte