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É a primeira desde que há dados trimestrais disponíveis em que o PIB cai por seis trimestres consecutivos.

A severidade de uma recessão é normalmente medida por dois critérios: sua duração em trimestres e o tamanho da queda acumulada da produção econômica. O atual ciclo recessivo brasileiro, iniciado no segundo trimestre de 2014, acaba de se tornar o segundo pior da história nos dois quesitos.

Dura nove trimestres, empatando com a recessão que se estendeu entre janeiro e março de 1981 e o mesmo período de 1983, embora perca ainda para o ciclo de 11 trimestres verificado entre o fim de 1989 e o início de 1992.

Já a queda acumulada da atividade soma 7,9%, contra 8,5% da mais profunda recessão, que foi a do início da década de 80.

A atual recessão -a nona vivida pelo país desde 1980- tem uma peculiaridade em relação aos outros ciclos. É a primeira desde que há dados trimestrais disponíveis em que o PIB cai por seis trimestres consecutivos. Até então, a pior sequência de contrações eram quatro seguidos.

Embora recessões sejam períodos de queda contínua e generalizada do nível da atividade econômica, isso não implica contração ininterrupta do PIB.

A produção total de bens e serviços não é a única medida importante da atividade econômica. Oscilações no nível do emprego e da renda também são indicadores relevantes para determinar se a economia vive um ciclo de expansão ou retração.

Portanto, a produção total de bens e serviços de um país pode crescer por um breve período e voltar a recuar, mantendo a economia em um ciclo recessivo. O contrário também é válido.

Isso significa que, embora muito citado, o conceito de dois trimestres consecutivos de queda da produção como definição de recessão, geralmente, não é levado em conta pelos institutos independentes responsáveis pela chamada datação de ciclos econômicos dos países.

A atual recessão brasileira, por exemplo, começou no segundo trimestre de 2014, quando o PIB recuou 1,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores.

Os dois trimestres seguintes, no entanto, foram marcados por uma estagnação e uma leve expansão de 0,2%, respectivamente. Depois, o PIB voltou a recuar.

“Foi muito difícil datar o início dessa recessão. O PIB recuou, depois se estabilizou. A produção perdeu fôlego, mas o desemprego permaneceu baixo por muito tempo”, diz Paulo Picchetti, um dos membros do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da FGV.

Com o conjunto de dados divulgados até agora, a recessão atual pode estar caminhando para se tornar a pior da história do Brasil. Mas o cenário é marcado por muitas incertezas, o que dificulta essa projeção.

Segundo o economista João Victor Issler, o comportamento da Bolsa de Valores é um forte indicador do que ocorrerá com a atividade econômica. O investimento em renda variável indica o aumento do nível de dividendos que serão pagos no futuro.

“Esse movimento no Brasil sempre antecede o crescimento da produtividade e a Bolsa já sobe há quase sete meses”, diz ele que é membro do Codade e do Centro FGV de Crescimento e Desenvolvimento.

Leonardo Fonseca, economista do Credit Suisse, menciona indicadores como a produção da indústria que também vêm recuperando terreno e apontam para uma possível inflexão do ciclo econômico.

O banco revisou recentemente sua projeção de variação do PIB para este ano de -3,5% para -3%.

PIB POR SETORES

A continuação desses sinais incipientes de melhora da economia, no entanto, dependem principalmente da aprovação das reformas para reequilibrar as contas públicas, ressalta Fonseca.

“Toda a questão do crescimento está condicionada à aprovação de medidas como o teto proposto pelo governo para limitar a expansão dos gastos públicos”, diz.

Ainda que o período econômico atual não entre para a história como a pior recessão da história, a retomada que pode se avizinhar dificilmente será rápida como as registradas anteriormente no país.

Picchetti ressalta que isso se explica pelas próprias causas da crise, como o desequilíbrio fiscal.

“O governo não pode estimular a economia aumentando gastos porque foi uma crise fiscal que nos colocou nessa situação. Ainda não pode cortar juros porque a inflação permanece alta”.

Ao esgotamento da política econômica se somam o endividamento alto de empresas e famílias e a fraqueza da economia global.

Um estudo do Credit Suisse mostra que países que enfrentam dois anos seguidos de recessão -fato já considerado certo no caso do Brasil- experimentam queda na capacidade de crescimento que tinham antes do início da crise.

Tudo isso significa que a produção e a renda brasileiras podem demorar anos para retornar aos níveis anteriores ao início da atual recessão.

Fonte: Folhape