Na eleição mais incerta desde 1989, os principais concorrentes ao Planalto se deparam com uma série de dificuldades para encontrar um(a) companheiro(a) de chapa. Para despistar quem os questiona sobre o assunto costumam seguir o mesmo rumo de Alckmin, dizendo que ainda falta muito tempo para essa decisão ser tomada – quando na verdade o prazo para o fim das convenções termina no dia 5 de agosto (daqui a uma semana) e o de inscrição de chapa em 15 de setembro. “Não temos pressa. Ainda temos até o dia 4 para nos decidirmos”, afirmou o tucano nesta quinta-feira, durante o anúncio do apoio do centrão à candidatura dele. Poucas horas depois, Josué Gomes enviou uma carta agradecendo o convite e se recusando a concorrer como vice do tucano.

Algumas das razões dessa indefinição apontadas por analistas políticos ouvidos pelo EL PAÍS: 1) a incerteza do que o PT fará sobre sua candidatura inviabiliza parte das coligações – já que Luiz Inácio Lula da Silva está preso e provavelmente será impedido de concorrer; 2) Bolsonaro, Marina e Ciro, que lideram as pesquisas sem Lula, pouco têm a oferecer para atrair aliados. Não têm tempo de propaganda de rádio e TV, possuem poucos recursos partidários, assim como pequenas bancadas na Câmara dos Deputados ou prefeitos eleitos que poderiam lhes servir de cabos eleitorais; 3) longa distância do topo nas pesquisas eleitorais, casos de Alckmin e Dias; 4) polarização de candidaturas em um país que costumava se deparar com uma antiga queda de braço entre PT e PSDB e; 5) acordos regionais que acabam interferindo no plano federal. De olho nos próprios rincões, caciques regionais agem contra o que poderia ser um consenso partidário.

“Tradicionalmente o vice cumpre a função de equilibrar a chapa, do ponto de vista ideológico, geográfico, financeiro e do tempo de TV. Ou ainda na questão de gênero, se o candidato a presidente é um homem, talvez haja a preferência por escolher uma mulher e vice-versa”, explicou o cientista político Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB).

Caldas diz que o caso do PT, que insiste na improvável candidatura de Lula, causa ainda um mal-estar para as instituições e faz com que vários partidos de esquerda, como o PCdoB, o PSB e o PDT, fiquem em compasso de espera sobre uma definição sobre os rumos petistas. Em tese, o ex-presidente não poderia concorrer porque já possui uma condenação em segunda instância, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Conforme a Lei da Ficha Limpa, condenados por tribunais não podem disputar uma eleição. Mas os defensores do petista acreditam que ele tem chance de, até meados de setembro, reverter a decisão e fazer com que Lula registre sua candidatura. Se isso não ocorrer, ele tentaria transferir votos para um possível sucessor, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jacques Wagner. “O que o PT está fazendo é uma pressão nas instituições até o limite. Assim, você estressa o sistema político e cria um clima pesado para a eleição”.

Na avaliação do professor e cientista político Wladimir Gramacho, também da UnB, a questão local tem influenciado intensamente na definição das alianças nacionais e, consecutivamente, na definição dos vices. “Essa eleição federativa dificulta muito as decisões dos partidos. A principal dificuldade em formar chapa é combinar uma decisão que seja mais simples ou óbvia, com as implicações estaduais desse vínculo”.

Um exemplo sobre essa análise de Gramacho. O PSB decidiu em seu congresso que nesta eleição presidencial haveria três alternativas a seguir. Teria um candidato próprio, apoiaria um nome com ideais de esquerda semelhantes aos dos socialistas ou ficariam neutros.

A candidatura própria naufragou depois que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa desistiu da disputa. O apoio a um nome viável de esquerda hoje restringe-se a Ciro Gomes. E a neutralidade é minoritária, mas conta com articulações antes impensadas. Uma delas foi a feita pelo governador de São Paulo e candidato à reeleição Márcio França. Na quarta-feira, ele lançou Leany Lemos candidata à presidência pelo PSB. Aliada do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e pré-candidata ao Senado, Lemos nem foi consultada sobre essa possibilidade. Na semana retrasada, França já tinha tentado emplacar o nome da senadora baiana Lídice da Mata. Mais um balão de ensaio que não deu em nada. “São tentativas de desviar o foco e fazer com que os convencionais [que decidem o rumo do partido] decidam pela neutralidade e, dessa maneira, beneficie o próprio Márcio, que defende a candidatura do Alckmin”, disse uma liderança socialista.

O PSB ainda se depara com embates em dois Estados do Nordeste, Pernambuco e Paraíba, onde as legendas forçam um entendimento com o PT, algo já descartado na esfera nacional. Com problemas semelhantes estão Bolsonaro e Álvaro Dias. O primeiro quase fechou com o PR, mas desentendimentos no Rio de Janeiro afastaram essa união. O segundo estava perto de se juntar ao PRB, mas não conseguiu costurar acordos regionais em postos como no Paraná e em Mato Grosso do Sul.

Assim, a tendência é que as principais definições sobre os candidatos a vice fiquem mesmo para a reta final das convenções. Ainda que, como disse o professor Gramacho, o cargo de vice na República brasileira seja um bom emprego. “Em qualquer momento ele pode se tornar presidente”, lembrou o analista antes de citar três suplentes que assumiram a presidência após a morte ou o impeachment do presidente eleito. José Sarney (1985-1990), Itamar Franco (1992-1995) e Michel Temer (2016-2018).

 Janaína Pachoal e Jair Bolsonaro, na convenção do PSL
Janaína Pachoal e Jair Bolsonaro, na convenção do PSL

Os possíveis vices

Já tem vice

PSOL – A chapa é formada pelo líder social Guilherme Boulos e pela liderança indígena Sônia Guajajara.

NOVO – O ex-banqueiro João Amoêdo tem como suplente o cientista político Christian Lohbauer.

PSTU – Vera Lúcia com o ativista Hertz Dias.

Os que negociam a vaga de vice

PT – Partido insiste na incerta candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e nem iniciou a busca por um vice.

PSL – Jair Bolsonaro ouviu três nãos e agora busca uma chapa puro-sangue. Os alvos são o astronauta aposentado Marcos Pontes, o suplente de deputado federal Luciano Bivar ou o advogado e presidente interino do PSL, Gustavo Bebbiano.

REDE – Marina Silva negocia com o PROS e pode ter o deputado Maurício Rands como seu vice. Mas a tendência é que um nome da própria REDE a siga, como o presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello.

PDT – Ciro Gomes espera uma definição do PSB, que poderia indicar o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda ou o ex-deputado gaúcho Beto Albuquerque. Outra alternativa, seria fechar com o PCdoB, que lançou a pré-candidatura de Manuela D’ávila.

PSDB – Geraldo Alckmin espera uma sugestão de seus aliados do centrão. Após o não de Josué Gomes, os nomes sugeridos até agora são do deputado Mendonça Filho (DEM), da senadora Ana Amélia (PP), do ex-deputado Aldo Rebelo (SD), da vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho, e do empresário Flávio Rocha (PRB).

PODEMOS – Álvaro Dias esperava definições do PRB para negociar a vice. Pode ser obrigado a encontrar uma chapa caseira ou se aliar a um dos nanicos que sonda.

MDB – Isolado, Henrique Meirelles ainda não sugeriu nenhum vice. Mas também deve recorrer a algum correligionário.

PCdoB – Manuela D’ávila lançou seu nome, mas espera definições do PT, do PSB e do PDT. Pode desistir de concorrer para ser vice de Ciro ou de algum nome petista.

PRTB, PSC e PSDC – Lançaram, respectivamente Levy Fidelix, Paulo Rabello de Castro e José Maria Eymael. Tendência é que, se não desistirem da disputa, concorram com chapas puras.

Geraldo Alckmin durante anúncio de apoio do centrão (Foto: Reuters)
Geraldo Alckmin durante anúncio de apoio do centrão (Foto: Reuters)

Fonte: El País