Ultimamente no Brasil o verbete corrupção passou a ser pronunciado com uma frequência assustadora. Em qualquer conversa que o assunto desbanque para a análise da situação político-econômica do país, o termo é usado como principal causa para o momento ímpar que vivemos hoje. Ouvimos opiniões e explicações diversas de como chegamos a um nível inimaginável de corrupção. Alguns culpam a colonização portuguesa, outros, o simples fato de sermos brasileiros amaldiçoados pela infeliz frase dita em um comercial de cigarros pelo jogador de futebol Gerson: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”.
Vamos então tentar desconstruir alguns pontos sobre corrupção no Brasil que acabam ajudando nessa perpetuação das ações erradas. Podemos começar pela generalização. Uma frase facilmente ouvida é: “O Brasil não tem jeito não, é o povo que é corrupto”. Mas vamos pensar um pouco levando em conta situações corriqueiras que vivemos.
– Em uma fila, quantos tentam furar?
– Em um sinal de trânsito fechado, quantos avançam?
– Na prova anual do Enem, quantos tentam burlar o exame?
– Na sua profissão (político não é profissão), quantos profissionais são desonestos?
Vimos assim, que os corruptos são uma minoria que conseguem através de algum artifício, se impor a maioria. Se o corrupto age e ninguém ao seu redor reclama, denuncia, ele se sente muito a vontade para continuar agindo daquela forma. E é com o ato de denunciar que vamos desconstruir outro ponto que ajuda a corrupção: A demonização do denunciante. Aqui no Brasil não faltam denominações pejorativas, “dedo duro”, “alcaguete”, “X9”. Para os corruptos a ausência do denunciante é um incentivo a mais, e desencorajar quem denuncia, é tudo que eles querem.
Então, não nos calemos diante da pequena ou da grande corrupção. Afinal, estamos reclamando de algo errado, algo ilegal, e quem deve se sentir desconfortável ou constrangido é aquele que comete o ato ilegal ou imoral. Precisamos sair da nossa zona de conforto e parar de achar que, “não é com a gente”. Aproveitemos esse momento de faxina ética que o Brasil vive e vamos fazer da nossa vontade de mudar um ato concreto, mostrando a quem insiste em “levar vantagem em tudo”, que só funciona se a “vantagem” for igual pra todos.
Autor: Geraldo Júnior, Técnico em telecomunicações pela Escola Técnica Federal do Ceará, hoje IFCE e Bacharel em Turismo pela UFPI. Representante da ACP Parnaíba na cadeira do Conselho Municipal de Turismo.