Os deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF) - Montagem sobre fotos de André Coelho e Jorge William
Os deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF) – Montagem sobre fotos de André Coelho e Jorge William

Rosso e Rodrigo Maia, que apoiam governo Temer, se lançam candidatos e trocam farpas.

BRASÍLIA — Apesar das tentativas do governo de consolidar um nome que una sua base na disputa pela presidência da Câmara, as duas principais alas de aliados do Palácio do Planalto — o centrão e a antiga oposição — intensificaram a troca de ataques, aumentando o risco de um racha que deixe sequelas nesta eleição. De um lado, os apoiadores da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) acusaram seu principal rival, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), de ser “o candidato do Eduardo Cunha”, peemedebista que renunciou ao comando da Câmara quinta-feira, dois meses após ser afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Na outra trincheira, os aliados de Rosso tentavam esvaziar a candidatura de Maia classificando-o como “candidato do PT”. Isso porque Maia busca votos no PT, no PDT e no PCdoB. Na noite de segunda-feira, a bancada do DEM, em nota, indicou oficialmente o nome de Maia para a disputa. 

Os ataques começaram assim que Rosso anunciou sua candidatura, após semanas negando que fosse entrar na disputa. Já com panfletos de campanha em mãos, o líder do PSD negou ser o candidato de Cunha e atacou Maia, que reagiu com críticas ao adversário.

— Eduardo Cunha não vota. O centrão, que dizem ter sido formado por ele, tem uma série de candidatos. Além de eu não ter votado no Eduardo Cunha, o conheci só nesta legislatura. Não topo vale-tudo, nunca topei. Não pode um vale-tudo onde se fecha os olhos, se deixa de ser inimigo. Não dá para acreditar nisso — disse Rosso, sem citar nominalmente o adversário, que apoiou Cunha na eleição para a presidência da Câmara, no ano passado.

— A Casa quer sair do ambiente de beligerância, mas há um grupo que quer continuar mandando na base do atropelo. Não entendo o candidato, que diz que tem mais de 200 votos, entrar agredindo. Não é papel de favorito. É de desesperado. O próximo presidente precisa pacificar a Câmara. A Casa quer alguém que desmonte a equação do centrão — respondeu Maia.

Apesar de os tucanos sinalizarem que apoiarão Maia, a tentativa de colar sua imagem ao PT gerou incômodo, já que seria difícil para o PSDB justificar uma aliança que envolva o tradicional adversário. No final da noite de segunda, porém, os petistas decidiram que não apoiarão Maia no primeiro turno. No entanto, não descartam apoiá-lo no segundo turno, caso ele dispute contra Rosso. O ex-presidente Lula pediu que os petistas não apoiem alguém ligado a Cunha.

ELEIÇÃO MARCADA PARA AS 16H DE QUARTA-FEIRA

Ao menos o temor do governo de que a eleição fique para o segundo semestre foi descartado, após o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), decidir que a escolha do novo presidente da Casa será na quarta-feira, ás 16h. Os registros de candidaturas serão aceitos até o meio-dia do mesmo dia, e cada candidato terá dez minutos para discursar. Até a noite de segunda-feira, dez candidatos haviam registrado seus nomes.

A briga entre as duas alas da base aliada despertou ainda mais a preocupação do Palácio do Planalto. Reservadamente, alguns auxiliares do presidente interino, Michel Temer, tem simpatia pela candidatura de Rosso, que já vinha sendo trabalhada, discretamente, há algumas semanas. No entanto, afirmam interlocutores de Temer, o pior para o governo neste momento seria colocar sua digital em alguma das campanhas e sair derrotado.

— Se ele (Rosso) for eleito, será muito bem recebido. Temer não está alheio à disputa, mas também não vai botar o DNA dele em nenhuma candidatura — resume um assessor de Temer.

Domingo à noite, em conversa com integrantes da cúpula do PSDB, Temer externou sua preocupação com um racha na sua base e reafirmou que não vai interferir diretamente na disputa. No cenário atual, com tantos candidatos, sendo a maioria de partidos aliados ao governo, o Palácio do Planalto trabalha para sair ileso, já tendo em vista que não conseguirá unificar sua base em torno de um nome.

Fonte: O Globo